segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Introdução a psicologia as emoções


Introdução à Psicologia

As Emoções

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Resumo: O presente artigo incidiu sobre o estudo das Emoções, descrevendo de forma breve, os principais tópicos sobre o tema. A elaboração desse trabalho tem como objetivo, uma breve abordagem sobre algumas teorias das Emoções, a descrição de algumas definições e classificações das emoções, bem como alguma de suas funções. 
Palavras-Chave: Emoções, Definições, Classificação, Teorias das emoções.

Introdução

As emoções tem sido um tema de muitas pesquisas ao longo dos últimos anos, e o seu estudo vem se tornando importante devido à necessidade cada vez maior de compreender e controlar as atuais patologias associadas ao aspecto emocional. Por ser um tema presente e marcante na vida humana, esse assunto sofreu um grande avanço nos últimos anos e seu estudo constitui um domínio particularmente interessante nas áreas Sociais e Humanas. A psicologia diz que o ser humano traz ao nascer algumas emoções básicas como o medo, a tristeza, a raiva e a alegria. Todas elas têm uma função importante em nossas vidas, principalmente no que diz respeito à sobrevivência da espécie. O estudo das emoções tem sido um assunto apaixonante e envolvente, apresenta diversas reflexões, que apontam a emoção numa interação relacional humana, ou seja, das emoções como processo adaptativo da pessoa ao ambiente, bem como um processo adaptativo do homem aos contextos dinâmicos sociais. As emoções foram ignoradas por muito tempo até mesmo por filósofos e pesquisadores das ciências em detrimento da razão ou do pensamento lógico. Elas eram consideradas processos menos importantes, primitivos e até mesmo indicadores patológicos.

Objetivo

O presente artigo tem por objetivo uma breve revisão sobre o estudo das Emoções, os tópicos que considero essenciais para uma abordagem introdutória, a fim de fornecer contributos para um referencial teórico, localizando reflexões sobre as temáticas das emoções, bem como uma revisão de conceitos das mesmas e uma sucinta análise das principais teorias da Emoção.

1 Definições De Emoção

Como pode ser entendida a emoção?
Pinto defende:
A emoção é uma experiência subjetiva que envolve a pessoa toda, a mente e o corpo. É uma reação complexa desencadeada por um estímulo ou pensamento e envolve reações orgânicas e sensações pessoais. É uma resposta que envolve diferentes componentes, nomeadamente uma reação observável, uma excitação fisiológica, uma interpretação cognitiva e uma experiência subjetiva (2001).
Por seu lado, Goleman disse:
Quanto a mim, interpreto emoção como referindo-se a um sentimento e aos raciocínios aí derivados, estados psicológicos e biológicos, e o leque de propensões para a ação. Há centenas de emoções, incluindo respectivas combinações, variações, mutações e tonalidades (1997).
Uma definição de emoção, numa simplificação do processo neurobiológico, conforme Damásio diz que consiste numa variação psíquica e física, desencadeada por um estímulo, subjetivamente experimentada e automática e que coloca num estado de resposta ao estímulo, ou seja, as emoções são um meio natural de avaliar o ambiente que nos rodeia e de reagir de forma adaptativa (2000).

1.1 - Emoções e Sentimentos

Verifica-se que muitas vezes, uma confusão conceitual entre sentimentos e emoções, pois são dois processos que se relacionam, no entanto são diferentes entre si, e são usados de certa forma como se fosse o mesmo conceito.
Segundo Damásio, o que distingue essencialmente sentimento de emoção é: enquanto a primeira é orientada para o interior, o segundo é eminentemente exterior; ou seja, o indivíduo experimenta a emoção, da qual surge um “efeito” interno, o sentimento. Os sentimentos são gerados por emoções e sentir emoções significa ter sentimentos. Na relação emoção / sentimento, Damásio diz ainda que apesar de alguns sentimentos estarem relacionados com as emoções, existem muitas que não estão, ou seja, todas as emoções originam sentimentos, se estivermos atentos, mas nem todos os sentimentos provêm de emoções (2000).

2 Classificação Das Emoções

Na classificação das emoções, Antonio Damásio as divide em primárias e secundárias. As primárias são inatas, evolutivas e partilhadas por todos, enquanto as secundárias são sociais e resultam da aprendizagem.

2.1 Emoções Primárias: o medo, a raiva, a tristeza e a alegria.

Para Ballone as emoções primárias são inatas e estão ligadas à vida instintiva, à sobrevivência. Haverá concomitante contração generalizada dos músculos flexores, sendo possível adotar-se uma atitude regressiva fetal, vasoconstricção periférica, palidez da face e esfriamento das extremidades, com brevíssima parada dos movimentos respiratórios e dos batimentos cardíacos (2005).
 De acordo com Abreu, as emoções primárias podem ser adaptativas ou desadaptativas.  Emoções Primárias Adaptativas são: raiva, tristeza e medo. Tais emoções possuem uma relação com a sobrevivência e ao bem-estar psicológico. São aquelas rápidas quando aparecem e mais velozes ainda quando partem. As Emoções Primárias Desadaptativas, são as emoções das quais as pessoas lamentam tê-las expressado de maneira tão intensa ou equivocada e freqüentemente se arrependem (2005).

2.2 Emoções Secundárias (ciúme, inveja, vergonha)

São estados afetivos de estrutura e conteúdos mais complexos que as primárias. Na realidade as Emoções Secundárias, embora levem o nome de "emoções", já se constituem em Sentimentos Sensoriais.
Abreu afirma que:
As emoções secundárias são aquelas que, ao atingirem a amídala e produzirem uma emoção, sofrem a influência e o possível domínio do córtex cerebral, mudando sua natureza primária. Neste sentido, estas emoções tornam-se respostas ou evitações (intelectualizadas) às emoções primárias (2005).
Diz ainda Abreu:
As emoções secundárias tornam-se então uma categoria de emoções usadas pelo indivíduo para se proteger das primárias que muitas vezes são vergonhosas, ameaçadoras, embaraçosas ou dolorosas por natureza. Por exemplo: uma pessoa pode estar se sentindo deprimida, mas sua depressão pode estar encobrindo um sentimento primário de raiva. Aparecem freqüentemente quando ocorrem as tentativas (fracassadas) de controle ou julgamento das emoções primárias – ou seja, quando se procura evitar ou negar aquilo que se está sentido, acaba-se por sentir-se mais mal ainda. É assim que se tornam desadaptativas, pois levam o indivíduo a se autodesorganizar (2005).

3 Funções das Emoções

Para Damásio a emoção tem duas funções biológicas: A primeira produz  uma reação específica para a situação indutora e a segunda função é de Homeostase, regulando o estado interno do organismo, visando essa reação específica. Ou seja, as emoções são a forma que a natureza encontrou para proporcionar aos organismos comportamentos rápidos e eficazes orientados para a sua sobrevivência.
De acordo com Newen, as emoções cumprem funções de grande importância. Podemos citar quatro delas: Prepara-nos e motiva-nos para ações;  possibilita avaliarmos os estímulos do ambiente de maneira extremamente rápida, ajuda  no controle das relações sociais; são formas de expressão típicas que indicam aos outros as próprias intenções (quando alguém sorri para nós, automaticamente supomos que tem uma postura amigável) (2009).
Segundo Ballone, essas emoções são capazes de mobilizar o Sistema Nervoso Autônomo, órgãos e sistemas. Conclui-se que, as emoções influenciam a saúde não apenas em decorrência da psico-neuro-fisiologia, mas também através de suas propriedades motivacionais, através de condutas saudáveis, tais como os exercícios físicos, a dieta equilibrada, etc (2007).

4 A Neurobiologia das Emoções

As emoções são respostas neurológicas e fisiológicas a estímulos (externos e internos), coordenados pelo próprio pensamento que envolve as estruturas do sistema límbico. Os estudos na área neurológica vêm crescendo e as pesquisas têm confirmado a relação somática com o centro das emoções.
Segundo Vaitsman
A investigação do cérebro humano está ajudando a redefinir a origem das emoções e a contestar duas idéias estabelecidas. Uma dessas idéias diz que a personalidade é inteiramente formada no transcurso das experiências de vida. A outra garante que a origem de todas as nossas emoções está no inconsciente, ou seja, num conjunto de processos psíquicos que atuam sobre o comportamento, sem o controle da consciência (1998).
De acordo com Vaitsman, os alicerces da vida emocional começam no cérebro e se estendem ao sistema imunológico. Pesquisas feitas pelos neurocientistas Antonio Damásio e Joseph LeDoux, indicam que a maioria das emoções - como a raiva e o medo - têm origem bioquímica. As pesquisas de LeDoux sobre o funcionamento cerebral explicam, por exemplo, que alguém seja capaz de detectar o perigo antes mesmo que uma situação de ameaça aconteça. Isso significa que a reação bioquímica é anterior a emoção (1998).
O ser humano possui em seu cérebro uma estrutura chamada de sistema límbico, responsável pelas emoções e sentimentos. O sistema límbico, quando recebe um estimulo, sensitivo (Audição, paladar, visão, olfato), envia essas “informações” para o tálamo e  hipotálamo que elabora respostas aos estímulos através do sistema endócrino e do sistema nervoso autônomo. Automaticamente produzem repostas, ativando esses sistemas, e então temos um estado, que são as emoções e sentimentos manifestos. Sistema Límbico é o nome dado às estruturas cerebrais que coordenam o comportamento emocional e os impulsos motivacionais e é formado por diversas estruturas localizadas na base do cérebro.
De acordo com Ballone, os sentimentos e emoções, como amor, alegria, ódio, pavor, ira, paixão e tristeza tem origem no Sistema Límbico. Chama-se circuito de Papez a porção do Sistema Límbico relacionada às emoções e seus estereótipos comportamentais. Na década de 30, o neurofisiologista Papez propôs que componentes do Sistema Límbico mantinham numerosas e complexas conexões entre si. Este Sistema é responsável também pelo aspectos da identidade pessoal e por funções ligadas à memória (2005).

5 Teorias das Emoções

A emoção tem sido objeto de várias teorias formuladas desde a antiguidade, cada teoria é defendida por grupos de cientistas, que possuem grandes variações entre elas. De qualquer forma, conhecer algumas destas teorias é importante para nos ajudar a ter uma idéia geral das emoções. As emoções constituem um aspecto muito complexo do ser humano e são objetos de várias interpretações que se organizam em várias perspectivas.
Algumas formulações tiveram início do século passado, e é interessante observarmos que a maioria delas tinha um caráter fisiológico, e também de forma evidente, nenhuma delas foi capaz de abordar todos os aspectos das emoções.

5.1 Perspectiva Evolutiva Sobre as Emoções

A primeira teoria sobre as emoções surge no Século XIX, em 1872, onde Darwin dedicou-se ao estudo das emoções, tanto no Homem como nos animais, chegando à conclusão de que as emoções ou a sua expressão, era algo inato a ambos. A fim de reforçar a idéia que já tinha de uma origem comum, levantou a questão da utilidade da expressão das emoções para a sobrevivência dos indivíduos. Darwin identificou seis emoções inatas ou universais - alegria, tristeza, surpresa, cólera, desgosto e medo, que serviriam como uma ferramenta para ajudar o indivíduo e a sua comunidade a sobreviverem (através da observação dos sinais emitidos pela expressão das emoções).
Segundo Rudge:
Darwin considera que as expressões de emoções são um universal humano, assim como assinala certas similaridades entre a expressão emocional no homem e em outros mamíferos. Assim, visa indicar que o comportamento expressivo humano é, do mesmo modo que sua anatomia e fisiologia, fruto da evolução (2005).
Rudge diz ainda que:
Segundo Darwin, a expressão de emoções são movimentos e ações expressivos típicos, que se fixaram na espécie ao longo da evolução.  Esses movimentos que foram repetidos inúmeras vezes, por serem úteis para obter gratificação ou alívio, tornaram–se tão habituais que se repetem quando a mesma sensação é sentida, mesmo quando sua utilidade não mais existe. Os movimentos pelos quais as emoções se expressam são involuntários, e os mais importantes deles são inatos e herdados. Entretanto, em momentos anteriores da evolução da espécie, eles foram executados muitas vezes voluntariamente e com um objetivo apropriado (2005).

5.2 Perspectiva Fisiológica das Emoções

No final do século XIX surgiu a primeira teoria das emoções, desenvolvida pelo psicólogo americano William James e pelo dinamarquês Carl Lange. Trabalhando de forma independente, os dois pesquisadores postularam que a característica central das emoções, ou seja, de nossa experiência subjetiva particular, está relacionada aos processos fisiológicos (NEWEN, 2009, p.38).
Segundo Newen, na teoria James-Lange, as emoções são o resultado de estados fisiológicos desencadeados por estímulos ou situações ambientais. Eles postulam que não choramos porque estamos tristes, mas ficamos tristes porque choramos. Uma pessoa sente medo porque o seu corpo respondeu com determinadas reações fisiológicas a uma situação. A percepção do estado de nosso próprio corpo: são simplesmente aquilo que experimentamos quando esse estado se altera devido a acontecimentos do meio ambiente (2009).
Resumindo, perante uma situação de emergência, primeiro o homem reage e foge e é por fugir que sente medo. De acordo com William James, o que diferencia as emoções é que cada uma delas esta relacionada a percepção de transformações corporais. Esta teoria é conhecida como teoria de James-Lange, porque essa mesma teoria era defendida por Carl Lange.
James declarava que quando um indivíduo é afetado por um estimulo, sofre alterações fisiológicas perturbadoras, como falta de ar, palpitações, angústia e etc. O reconhecimento desses sintomas é que vai gerar emoção no indivíduo.
A teoria de James-Lange recebeu críticas do fisiologista Walter Cannon, que em 1927 propôs uma teoria alternativa, baseando-se nas investigações de Philip Bard. De acordo a teoria de Cannon-Bard, as emoções têm origem no cérebro, ocorrem ao mesmo tempo que as reações fisiológicas, mas não são causadas por estas. Segundo essa Teoria, os estímulos emocionais têm dois efeitos excitatórios independentes: Provocam o sentimento da emoção no cérebro bem como a expressão da emoção no sistema nervoso autônomo e somático. Tanto a emoção como a reação a um estímulo seriam simultâneos. Assim, numa situação de perigo, o indivíduo perante um estímulo ameaçador sente primeiro medo e depois tem a reação física, foge.
Segundo Ballone:
Os neurofisiologistas Walter Cannon e Philip Bard formularam teorias sobre a importância das estruturas subcorticais na mediação entre as emoções e o resto do organismo. Pesquisando em gatos, eles observaram respostas emocionais integradas mesmo quando o córtex cerebral desses animais era removido, entretanto, não ocorriam respostas quando o Hipotálamo, que é uma estrutura subcortical, era removido (2005).

5.2.1 Comparação das teorias sobre as emoções de Cannon-Bard e James-Lange.

Na teoria Cannon-Bard, o estímulo ameaçador produz em primeiro lugar um sentimento de medo, causando posteriormente no indivíduo, uma reação física (tremores, sudorese, dilatação da pupila e etc). De acordo com a teoria de James-Lange, o homem percebe um estímulo ameaçador e reage com manifestações físicas. O resultado dessa reação física desprazerosa, é o sentimento de medo.

5.3 Perspectiva Cognitivista das Emoções

As teorias cognitivistas afirmam que os processos cognitivos, como as percepções, recordações e aprendizagens, são fundamentais para se perceberem as emoções. Uma situação provoca uma reação fisiológica e procuramos  identificar a razão (compreender) dessa excitação fisiológica de modo a nomear a emoção que lhe corresponde.
Myers, diz que:
A maioria dos psicólogos acredita hoje que a nossa cognição constituem um ingrediente essencial da emoção. Um desses teóricos é Stanley Schachter, que propôs uma teoria dos dois fatores, em que as emoções possuem dois ingredientes: excitação física e um rótulo cognitivo. Schachter presumiu que nossa experiência da emoção cresce a partir de nossa consciência da excitação do corpo. Como Cannon e Bard, Schachter também achava que as emoções são fisiologicamente similares. Assim, em sua opinião, uma experiência emocional exige uma interpretação consciente da excitação (1999, 292).
Essa teoria é denominada de Teoria Bifatorial de Schachter-Singer, que resumindo diz que as emoções produzem estados internos de excitação e nós procuramos no mundo exterior uma explicação para isso.

5.4 Perspectiva Culturalista das Emoções

Segundo Pereira, a perspectiva Culturalista diz que as emoções são comportamentos apreendidos no processo de socialização. Cada cultura tem diferentes formas de exprimir as diferentes emoções. As emoções são uma construção social que exige aprendizagem e que, por isso, dependem da cultura em que o indivíduo está inserido. O tipo de emoções que se manifesta em cada situação, a forma como são demonstradas, e o conjunto de regras de cada cultura especifica é própria em cada cultura e para cada uma delas, há uma linguagem da emoção específica que é reconhecida por todos aqueles que nela estão inseridos.
Segundo Casanova et alli, para os partidários da abordagem culturalista, a emoção é um papel social que aprendemos num certo tipo de sociedade, o que supõe que outras pessoas criadas em outros lugares sentirão e expressarão emoções diferentes (2009).

Conclusão

O estudo das emoções é muito importante com relação a nossa sobrevivência enquanto seres Humanos. Se não mantivermos nossas emoções bem estruturadas, nossas chances de sobrevivência ficam bem reduzidas. Somos seres com uma biologia elaborada e de emoções bem refinadas como altruísmo, solidariedade, compaixão. Mas é imprescindível que essas atividades emocionais sejam harmonizadas e equilibradas com o uso da racionalidade e do pensamento analítico e investigativo. Cultivando a tolerância e respeitando as diferenças individuais, a fim de termos um convívio pacífico, teremos todas as chances possíveis para sobreviver em épocas tão difíceis quanto as que nos aguardam no futuro


Fonte: http://artigos.psicologado.com/psicologia-geral/introducao/as-emocoes#ixzz2Ai1WPpHE 
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Mudança e tolerância


Mudança e tolerância     

23 de outubro de 2012

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“Nada é permanente, exceto a mudança.”
(Heráclito de Éfeso)

As pessoas não resistem às mudanças, resistem a ser mudadas. É um mecanismo legítimo e natural de defesa. Insistimos em tentar impor mudanças, quando o que precisamos é cultivar mudanças. Porém, mudar e mudar para melhor são coisas diferentes.
O dinheiro, por exemplo, muda as pessoas com a mesma frequência com que muda de mãos. Mas, na verdade, ele não muda o homem: apenas o desmascara. Esta é uma das mais importantes constatações já realizadas, pois auxilia-nos a identificar quem nos cerca: se um amigo, um colega ou um adversário. Esta observação costuma dar-se tardiamente, quando danos foram causados, frustrações foram contabilizadas, amizades foram combalidas. Mas antes tarde, do que mais tarde.
Os homens são sempre sinceros. Mudam de sinceridade, nada mais. Somos o que fazemos e o que fazemos para mudar o que somos. Nos dias em que fazemos, existimos de fato; nos outros, apenas duramos.
Segundo William James, a maior descoberta da humanidade é que qualquer pessoa pode mudar de vida, mudando de atitude. Talvez por isso a famosa “Prece da serenidade” seja tão dogmática: mudar as coisas que podem ser mudadas, aceitar as que não podem, e ter a sabedoria para reconhecer a diferença entre as duas.
Tolerância

Cada vida são muitos dias, dias após dias. Caminhamos pela vida cruzando com ladrões, fantasmas, gigantes, velhos e moços, mestres e aprendizes. Mas sempre encontrando a nós mesmos. Na medida em que os anos passam tenho aprendido a me tornar um pouco pluma: ofereço menos resistência aos sacrifícios que a vida impõe e suporto melhor as dificuldades. Aprendi a descansar em lugares tranquilos e a deixar para trás as coisas que não preciso carregar, como ressentimentos, mágoas e decepções. Aprendi a valorizar não o olhar, mas a coisa olhada; não o pensar, mas o sentir. Aprendi que as pessoas, em regra, não estão contra mim, mas a favor delas.

Por isso, deixei de nutrir expectativas de qualquer ordem a respeito das pessoas e me surpreender com atitudes insensatas. Seria desejável que todos agissem com bom senso, vendo as coisas como são e fazendo-as como deveriam ser feitas. Mas no mundo real, o bom senso é a única coisa bem distribuída: todos garantem possuir o suficiente…
Somos responsáveis por aquilo que fazemos, o que não fazemos e o que impedimos de fazer. Pouco aprendemos com nossa experiência; muito aprendemos refletindo sobre nossa experiência. Temos nossas fraquezas e necessidades, impostas ou autoimpostas. “Conheço muitos que não puderam quando deviam, porque não quiseram quando podiam”, disse François Rabelais.
Por tudo isso, é preciso tolerância. É preciso também flexibilidade. Mas é preciso policiar-se. Num mundo dinâmico, é plausível rever valores, adequar comportamentos, ajustar atitudes. Mantendo-se a integridade.

PS: O texto utiliza frases de Albert Camus, Descartes, James Joyce, Melody Arnett, Padre Antônio Vieira, Peter Senge, Robert Sinclair e Tristan Bernard.
 Tom Coelho é educador, conferencista e escritor com artigos publicados em 17 países. É autor de “Somos Maus Amantes – Reflexões sobre carreira, liderança e comportamento” (Flor de Liz, 2011), “Sete Vidas – Lições para construir seu equilíbrio pessoal e profissional” (Saraiva, 2008) e coautor de outras cinco obras. Contatos através do e-mail tomcoelho@tomcoelho.com.br. Visite: www.tomcoelho.com.

Autoconsciência - Forum Espirita

Autoconsciência - Forum Espirita

Missão, visão, valores.



Artigo publicado no jornal FOLHA DE LONDRINA, em 29/10/2012, na coluna ABRAHAM SHAPIRO, em Empregos e Concursos.


ABRAHAM SHAPIRO


Missão, visão, valores. Para várias empresas, ter esse trio descritivo dependurado nas paredes de suas instalações é sagrado. Muitas delas, no entanto, estabelecem para si uma visão ao mais irrisório e ridículo lugar-comum. Veja esta: “Nós manteremos os mais altos padrões de produção e ética”. Outra expressa uma necessidade como objetivo: “Atingir suficiente lucro”. Isto é um absurdo. Compara-se apenas a um ser humano que proclamar como visão de sua vida o ato de respirar.
Ao propôr a visão ideal de sua empresa, evite dizer o que ela faz para sobreviver. Diga, em vez disso, o que escolhe para fazê-la prosperar.
Não faz o menor sentido empregar superlativos como “o maior”, “o máximo”, “o melhor”.
Um teste para saber se a visão da sua organização é verdadeira consiste em verificar se você pode discordar dela razoavelmente. Se não puder, esta visão merece ser excluída. Você discordaria, por exemplo, de “fornecer o melhor pelo preço cobrado”? Só se fosse louco, não é mesmo?   Portanto, será besteira incluir esta frase na visão! Por ser óbvia ululante, ela não enunciará nada de uma boa visão dos seus negócios.
Uma companhia diz que quer “maximizar seu potencial de crescimento”. Outra deseja “oferecer produtos da mais alta qualidade”. A pergunta que insistentemente faço é: como elas saberão se conseguiram isso? Se não podem medir, não devem propor. Será somente um bla bla. Nada prático, nada factível.
Vou dar três dicas a respeito de como se constrói uma visão realista.
A primeira providência no enunciado da visão é constar nela objetivos que podem ser medidos. Isto evoca o poder de comprometer as pessoas.
Segunda dica: a visão da empresa deve diferenciá-la de suas congêneres e proclamar sua individualidade, sua singularidade. Assim, “fabricar produtos com eficiência a custos que deem lucros” é uma péssima proposta, pois iguala a sua organização a todas as outras.
Terceira: a visão deve definir o negócio que a empresa quer ter no futuro, e não o que ela já tem hoje. Uma companhia que produz refrigerantes e salgadinhos, por exemplo, e que opera em várias instalações para refeições, recreio e diversão identificou sua visão de negócio como: “aumentar a satisfação das pessoas durante seu tempo de lazer”.
Uma visão poderosa e consistente comunica valor real – do presente para o futuro – trabalha intensamente para atingi-lo. Portanto, ela será inequívoca e mensurável.
Enuncie a visão da sua empresa do modo mais simples, porém relevante a todos direta ou indiretamente envolvidos com ela. Posso garantir que após isto ninguém deixará de reconhecer sua grandeza e solidez!
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é simplicidade. É autor do livro "Torta de Chocolate não Mata a Fome - Inspirações para a Vida, o Trabalho e os Relacionamentos", Editora nVersos, 2012. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473

VOU ME APOSENTAR E AGORA


Vou me Aposentar, e Agora? Papel do Psicólogo Frente ao Desafio de Desenvolver uma Formação Reflexiva para o Momento da Aposentadoria

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Este estudo de caso, parte do pressuposto que a aposentadoria, além de não constituir um campo de conhecimento novo, sofre deslocamentos em seu sentido no dia-a-dia das pessoas, implicando transformações nos modos de ser, pensar e agir coletivos. Além disso, a aposentadoria, como saber constituído e constituinte, é muito mais do que a simples soma de representações individuais de um determinado grupo. Trata-se, na verdade, de uma matriz de pensamentos de senso comum inseridos em um contexto sociocultural e econômico maior. Para Rodrigues (2000, p. 26) afirma que "a aposentadoria, antes de tudo, é uma instituição da sociedade industrial moderna", pois é resultado de um longo período de lutas da classe trabalhadora. Segundo a autora, na maioria das legislações trabalhistas a aposentadoria é concedida por idade, neste aspecto, implica na não separação do binômio idade-trabalho, relacionando estreitamente a aposentadoria ao processo de envelhecimento.
O termo aposentadoria está vinculado, segundo Carlos et al. (1998), a duas idéias centrais: a de retirar-se aos aposentos, de recolher-se ao espaço privado de não trabalho – contribuindo para o status depreciativo que envolve o abandono e a inatividade –, e a de jubilamento, acarretando uma perspectiva otimista, onde há uma conotação de prêmio, recompensa e contentamento. A proposta de Edith Motta ilustra essa idéia quando a autora refere à aposentadoria como
[...]um direito [grifo da autora] adquirido pelo trabalhador após o término de um determinado número de contribuições para um determinado sistema previdenciário e que implica em receber uma importância mensal sem uma correspondente prestação de serviço (Motta, apud Carlos et al., 1998, p. 24) .
Segundo Rodrigues (2000), há dois pontos fundamentais nas definições de aposentadoria: a inatividade após um tempo de serviço e a remuneração por essa inatividade. Esses dois aspectos são decisivos para a compreensão das consequências acarretadas nas vidas daqueles que se aposentam, pois "a aposentadoria requer um condicionamento mental e social que a maior parte das pessoas não possui, e isso porque a cessação da atividade profissional constitui uma exclusão do mundo produtivo, que é à base da sociedade moderna. A autora ainda destaca que a aposentadoria, como instituição social, apresenta características contraditórias: 
Se, de um lado, alguns a vivem como um tempo de "liberdade", de  "desengajamento profissional", de "possibilidade de realizações", de "fazer aquilo que não teve tempo de fazer" durante a vida ativa, de  "aproveitar a vida", de "não ter mais patrão, horários obrigatórios"  etc., de outro, outros a consideram como um "tempo de nostalgia", de "enfado" etc. (Rodrigues, 2000, p. 28)
É contraditório, ainda, em relação ao tipo de trabalho realizado: tratando-se de algo penoso, repetitivo, a aposentadoria pode representar uma libertação do sofrimento, do desgosto; ao contrário, sendo um trabalho gratificante e enriquecedor, a cessação da atividade aparece como um tormento e há aspiração para uma liberdade de escolha relativa à época e à idade para aposentar-se. Nas sociedades ocidentais, segundo França (2003),”O idoso representa, o velho, no sentido pejorativo de ser ultrapassado e descartável.
Neste sentido, e buscando reflexões referentes ao processo de envelhecimento e a aposentadoria que este projeto floresceu. O primeiro deste foi quando, por ocasião da graduação do curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí – Univali – Campus B – Biguaçu. No quinto período, tivemos o primeiro contato com a disciplina Psicologia Organizacional e do Trabalho I (POT I). Em 2008/2 apresentamos um trabalho que teve como tema “O papel do psicólogo nas organizações frente ao desligamento dos funcionários em virtude do processo de aposentadoria. Para este trabalho acadêmico realizamos diversas leituras de artigos e obras como as de Zanelli e Silva (1996), bem como revistas de psicologia que discutem este conteúdo.
No entanto, ao realizar este trabalho, foram sendo internalizadas em nós as inquietações e reflexões sobre a instituição em que desempenhávamos nosso trabalho que é um Hospital Público da grande Florianópolis e que não possuía um projeto desta dimensão. Iniciou-se ali uma semente que nos empenhamos em colocar em prática. Continuando as leituras e as pesquisas referentes à preparação de pessoas para o momento da aposentadoria, surgiu então em 2009/1 outra oportunidade de realizar um projeto com este tema, agora na Disciplina Psicologia Organizacional e do Trabalho II (POT II). Sob orientação da professora titular da disciplina, criamos um projeto específico para a Secretaria de Estado da Saúde (SES) de Florianópolis, para a verificação da viabilidade de implantação. No início do semestre 2009/2, recebemos a resposta que o projeto fora aprovado restando apenas à adequação às normas técnicas da SES e sua implantação seriam durante o mês de setembro do mesmo ano. Vale acrescentar, e na perspectiva de Rodrigues (2009), “que a política Nacional do Idoso, através da Lei nº 8.842 de 4 de janeiro de 1994, propõe a criação e a manutenção de programas de preparação para aposentadoria nos setores público e privado com antecedência mínima de dois anos antes do afastamento”. Já o Estatuto do Idoso, através da Lei nº. 10.741, de 1º de outubro de 2003, estimula programas dessa natureza, ressaltando que devem ser realizados preferencialmente com antecedência mínima de um ano, com o intuito de estimular o pré aposentado a realizar novos projetos sociais conforme seu interesse, esclarecendo também seus direitos sociais.
Acreditamos achar necessário o registro do momento quando apresentamos este projeto ao Setor de Recursos Humanos, a pessoa responsável nos relatou que o mesmo, já era um dos objetivos do Serviço Social da Instituição, por este motivo, marcamos uma reunião com a Assistente Social responsável pelo setor para, realizamos as adequações ao projeto. Organizamos todo o cronograma do evento, dias horários e a programação específica. Como as datas já estavam próximas, achamos conveniente convidar outros profissionais da instituição para colaborarem nos temas específicos tais como: Assistente Social, Profissional do Setor de Recursos Humanos, Profissional de Educação Física, Voluntariado e funcionários que já se encontravam aposentados. O número de vagas ficou estabelecido em 25 participantes podendo estender-se a 30 no máximo. O critério utilizado para o convite a participação foi que o funcionário estivesse a no período de pré aposentadoria. As inscrições foram realizadas pelo setor de Recursos Humanos, sendo que, ao preencherem as vagas, seria oferecido uma pré inscrição para o próximo curso a ser realizado em 2010.
A justificativa para esta formação baseou-se em observações e tendo em vista o grande número de funcionários que estão em período de pré aposentadoria e, principalmente por observar a inexistência de um Programa de Capacitação, Reflexão e Preparação para Aposentadoria nesta Secretaria, em específico, nesta Instituição Hospitalar. Considera-se relevante apresentar a esta Unidade da Secretaria de Estado da Saúde, o Projeto de Capacitação com o Programa de Reflexão e Preparação para Aposentadoria.
Desta forma este curso teve como objetivo, orientar, e capacitar funcionários que estão em período de pré aposentadoria, proporcionando uma condição de desligamento da instituição tranquilo e saudável, nos aspectos físicos, emocionais e financeiros.
A forma de divulgação foram os murais da instituição realizados pelo setor de RH (Recursos Humanos), a ficha de acompanhamento e avaliação de resultados foi fornecida também pelo RH (Recursos Humanos) e os encontros aconteceram nas terças-feiras das 14h00min às 16h00min. Com relação ao conteúdo programático, o mesmo após ampla avaliação entre nós da Psicologia, Serviço Social e RH (Recursos Humanos), ficou assim constituído:
1º Encontro: Integração do grupo;
    Contrato de Trabalho;
    Dinâmica: “Linha do Trabalho”.
2º Encontro: Resgate do encontro anterior;
    Agenda com os temas: Elaboração do luto;
    Projetos de vida após a aposentadoria.
3º Encontro: Resgate do encontro anterior;
    Agenda com os temas: Saúde, alimentação e atividades físicas;
     Dinâmica familiar após aposentadoria.
4º Encontro: Resgate do encontro anterior;
    Agenda com os temas: Processo de Aposentadoria;
    Mesa Redonda com o tema: “Trabalho Voluntário”.
5º Encontro: Resgate dos temas do encontro anterior;
    Agenda com os temas: Auto realização e auto estima
    Dinâmica: “Para quem você tira o Chapéu”;
    Sexualidade;
    Mesa Redonda com depoimentos de funcionários aposentados;
    Avaliação do evento;
    Fechamento com a exibição do CD com fotos deste evento;
    Exibição do documentário sobre a Fundação do Hospital.

Para Rodrigues (2009), “A aposentadoria é uma fase que provoca mudanças e pode gerar ansiedade no indivíduo, considerando-se sua história na relação com o grupo social ao qual pertence”, já para Antunes (2005), “é a partir do dia a dia que o homem se tona um ser social, diferenciando-se de outras espécies”. Zanelli e Silva (1996), uma caracterização fundamental ao qual o funcionalismo público é enquadrado enquanto categoria não funcional: “Não é sem razão que a categoria dos aposentados é denominada nos registros formais de “inativa”. Sentido oposto à mobilidade ou movimento, essência da própria vida”.
A partir de tais pressupostos teóricos que se deu início a implementação do Programa de Preparação e Reflexão para Aposentadoria. O curso teve início no dia 1º de setembro de 2009 e o conteúdo programado para este dia era a integração do grupo, com as devidas apresentações, contrato de trabalho e a dinâmica “Linha do Tempo”. Iniciamos este momento com nossa apresentação e apresentação do curso. Logo após cada integrante pode se apresentar contribuindo sobre as expectativas em relação ao mesmo. Este momento foi bastante enriquecedor devido às descobertas que ia ocorrendo a partir da apresentação de cada um dos participantes. Observou-se que mesmo trabalhando muitos anos na mesma instituição, as pessoas não se conheciam e iam surpreendendo-se, cada um com a fala do outro. “Foi à primeira vez que alguém me deu a oportunidade de falar de mim diante de um público” (O. 34 anos de trabalho). Este momento foi muito gratificante e surpreendente para todos.
No “Contrato de Trabalho”, os participantes foram conscientizados do sigilo em relação aos temas abordados em cada encontro, principalmente às falas pessoais dos participantes, onde todo e qualquer comentário deveria permanecer no espaço e no momento da realização do curso. O momento do intervalo foi realizado no refeitório da instituição e, ao invés de cada um sentar em mesas separadas, como estavam  acostumados, sugerimos que as mesas fossem unidas para uma melhor integração do grupo. Este momento foi integrativo, onde todos conversavam uns com os outros que, de certa forma acabavam de ser conhecer um pouco mais. Todos os momentos do curso foram registrados em fotos, com a devida autorização dos participantes.
Após o retorno deste intervalo, iniciamos a dinâmica “Linha do Trabalho”, que foi uma adaptação para esta capacitação, da dinâmica “Linha da Vida”. Cada participante foi orientado a construir uma linha, onde seria enumerado cada fato importante da trajetória profissional. Acontecimentos estes que poderiam ser agradáveis ou não, porém que tivessem importância dentro da trajetória profissional dentro da instituição. Este momento de socialização foi uma outra oportunidade que os integrantes tiveram para se expressar sobre sua trajetória de vida relacionando-a com a atividade profissional. Podemos perceber que cada um dentro de sua compreensão de vida e de mundo pode definir seu trabalho e sua função como parte integrante de uma engrenagem funcional que sugere um Hospital Público de grande porte.
O vínculo com a instituição passa ser muito significativo que para Rodrigues (2009) “A perda do vínculo, com tudo o que ele representa “estar trabalhando”, pode ter influência na identidade pessoal, uma vez que a aposentadoria acarreta modificações nas relações instituídas entre o indivíduo e o sistema social”. Desta forma Zanelli e Silva (1996, apud Martin-Boró, 1985), citam que “a socialização é um processo de desenvolvimento histórico – seu caráter é definido pelas circunstâncias próprias de cada situação concreta. É um processo de desenvolvimento da identidade pessoal – o modo pelo qual o indivíduo vai se configurando como pessoa e firmando-se perante a sociedade como ser único – e da identidade social – a vivência de uma pessoa supõe necessariamente a existência de uma sociedade que a influenciou em sua formação”.
Existe uma grande insegurança apresentada pelos participantes em perder sua identidade profissional. Isso é claro nas falas dos mesmos: “Eu sou o “O”, da Ortopedia e eu me aposentando não vou mais ser chamado assim...”, E eu que sou o C. do Raio X, vou me tornar o C. aposentado? “Ainda não consigo pensar sobre isso! (C. 34 anos de trabalho). Ainda em Zanella e Silva (1996), vamos encontrar uma definição para estes momentos de angústias. “Se aceitarmos que a pessoa é reconhecida socialmente pelas atividades que desempenha o desligamento do trabalho, na transição da aposentadoria, afeta a identidade pessoal”.
Uma das contribuições para que as reflexões possam existir é a utilização nestes espaços de dinâmicas que intensifiquem estas discussões a respeito do processo de aposentadoria como a “Linha de Trabalho” que, nesta formação, foi contemplada com a simbiose entre fatos pessoais e profissionais que ocorreram concomitantemente com o desempenho das funções. Fatos estes que estavam relacionados a casamentos, nascimentos de filhos, divórcios, perdas de entes queridos, ascensão profissional, decepções entre outros. Ao transcorrer dos encontros pode-se perceber que estes foram os momentos de humor e emoção, de certa forma, estávamos nos sentindo em casa, haja vista o tempo de convivência. Estas emoções oscilavam entre grandes alegrias e irreparáveis perdas. O contrato de trabalho realizado no início dos trabalhos teria o grande momento de ser contemplado, pois as revelações que ocorreram não sofreram nenhuma repercussão na instituição durante a semana após este encontro. Fechamos este encontro de forma muito positiva, convidando a todos para estarem na semana seguinte.
No segundo encontro, conforme cronograma, os temas abordados foram: “Elaboração do luto pelo término da atividade laboral” e no segundo momento, “projetos de vida após a aposentadoria”. Em relação à elaboração do luto, podemos citar que para Marchadour, (1995, p. 5) “Na medida em que a consciência da morte não pode ser evitada em sociedade alguma, as justificativas da realidade do mundo social frente à morte são absolutamente indispensáveis em todas as sociedades. Falar de morte dos outros conduz inevitavelmente cada um à sua própria finitude”. Este tema tem uma urgência em ser debatido neste curso de formação devido à dificuldade que as pessoas têm encontrado em ter contato com o mesmo. Em se tratando de uma ambientação hospitalar, a morte e a finitude que se conhece é a da morte do corpo físico presenciando na maioria das vezes por diversas pessoas de uma equipe de atendimento. Com surpresa percebemos que a maioria dos integrantes desconheciam a existência de outro tipo de luto que não fosse aquele manifestado fisicamente pela falência dos órgãos vitais. Nosso papel foi fundamental em relatar com propriedade que o que os integrantes estavam sentindo por deixarem a instituição de forma definitiva também era um processo de enlutamento.

Na perspectiva de Bowlby (2004), “Embora saibamos que depois de uma perda, o estado agudo do luto abrandará, sabemos também que continuaremos inconsoláveis e não encontraremos nunca um substituto. Não importa o que venha preencher a lacuna e, mesmo que esta seja totalmente preenchida, ainda assim alguma coisa permanecerá”. “É a única maneira de perpetuar aquele amor que não desejamos abandonar”. Rebelo (2009), na obra, “Desatar o nó do luto: fala sobre a perda de entes queridos e dos processos inerentes ao luto”. Enfatiza a questão dos laços afetivos como essenciais para a nossa vida emocional e debruça-se essencialmente no que acontece quando estes são quebrados de forma inesperada. Ora aqui a questão da crise e do trauma assume um papel preponderante, mas mais inquietante ainda é a questão do aparelho psíquico para pensar os pensamentos, pois tal como estes funcionários, todos estão de alguma forma angustiados com este novo processo de mudança e muitos deles ainda não sabem como fazer este desligamento definitivo de uma forma saudável e enriquecedora para si.
O trauma proveniente do desligamento institucional e a sua gravidade dependem da (in)capacidade para fazer face às exigências impostas, neste caso, é importante elaborar o luto e ultrapassá-lo para ter um processo de aposentadoria considerado prazeroso e saudável. O conceito de luto "fazer o luto" aplica-se a várias situações da nossa vida, querendo dizer que é a necessidade do indivíduo em viver uma crise, em viver sentimentos confusos, contraditórios, que oscilam entre apatia, decepção, raiva, para posteriormente ultrapassá-la, e isto depende inevitavelmente das condicionantes internas de cada um. Tal como nos relata Rebelo (2009), "Todo o processo que medeia entre a perda e a reabilitação para a vida exige um período de demora: é o tempo do luto. Este terá que ser percorrido até que a realidade predomine, até que aceitemos que todos os vínculos que estabelecemos com alguém ou com algo tão querido, só podiam ser usufruídos em sua presença. Só assim poderemos recuperar a paz de espírito, uma tranquilidade íntima, indispensável para prosseguir a vida na sua plenitude”. A partir das emoções que iam surgindo em relação ao tema exposto, cada qual pode falar de suas perdas, de suas elaborações ou não e da forma como observará seus sentimentos de hoje em diante.
Após o intervalo, o tema em pauta era os possíveis projetos que podem ser iniciados e refletidos a partir da ocupação do tempo que agora será ministrado pelo próprio sujeito, não mais com o compromisso diário de “bater o ponto”, mas o desligamento
[...] do trabalho parece estar ocorrendo de forma atabalhoada e acuada. Os sentimentos gerados a partir dessas situações, em muitos casos são marcados por conflitos que se manifestam da seguinte forma: de um lado existe a pressão para consolidar o ato; de outro ocorre o desconforto por ter que precipitar o processo de aposentadoria” (Zanelli e Silva, 1996, p. 47).
É relevante ressaltar que o programa apresentado por Zanelli e Silva (1996), é realizado para o Serviço Público Federal e para tanto são programados dez encontros onde são capacitados grupos de formação continuada. A realidade de Serviço Publico Estadual, em específico nesta Instituição Hospitalar, foi possível, nesta primeira formação, um total de cinco encontros e sem uma concretização de uma formação continuada, porém com a possibilidade de um encontro mensal para ex participantes que já estejam aposentados para troca de experiências. O espaço para estes encontros foi cedido pelo Grupo de Voluntários desta Instituição que possui uma sala com mesa ampla, onde seriam realizados os encontros mensais.
Em relação a projetos de vida para após aposentadoria, é relevante que seja enfatizado a importância destes para cada um individualmente, sem que isso se torne uma exigência homogênea. A ocupação do tempo após a aposentadoria é uma escolha individual que para Zanelli e Silva (1996), “É a etapa da vida de escolhas prazerosas do uso do tempo”. É neste momento da vida que a pessoa tem oportunidades para os sonhos, eliminando a obrigatoriedade. É neste momento da vida que a pessoa tem oportunidades para os sonhos, eliminando as obrigatoriedades incômodas e de renovar prioridades. Neste momento do encontro foram sugeridas algumas possibilidades possíveis de ocupação, lazer e participação social como: trabalho voluntário, trabalho recreativo, educativos e culturais. Trabalhos espirituais e religiosos, ecológicos, artísticos e sociais. Para os autores Zanelli e Silva (1996), é fundamental para a pessoa aposentada “manter o corpo e o espírito ativos e que este processo deve ser visto como uma etapa propícia, uma vez que o tempo livre é maior, permitindo a atenção à qualidade de vida, de maneira ampla”. Muitos dos integrantes puderam expor seus futuros projetos e até mesmo atividades paralelas que já desempenham durante sua função na instituição. Houve falas de participantes que disseram; “Eu nunca pensei nisso, vou começar a pensar daqui por diante”. Este tipo de reflexão é muito significativa, pois faz com as pessoas iniciam seus próprios processos reflexivos a respeito de suas atitudes e desejos, incluindo seus projetos e controle do tempo ocioso. Encerrando este encontro sugerimos que cada integrante refletisse sobre o que deseja realizar após sua aposentadoria e este tema seria abordado no inicio do terceiro encontro.
O terceiro encontro a proposta era que as pessoas poderiam então, relatar sobre seus projetos para depois da aposentadoria. “Foram diversas as falas entre elas: “Vou comprar um barco e pescar”, “Vou fazer aula de canto”, “Vou caminhar todos os dias”, “Vou fazer um curso para ser contadora de história”, “Não vou fazer mais nada. Já trabalhei demais”. Muitos não quiseram se manifestar o que demonstrou que o tema ainda é mobilizante e recente para ser amadurecido e concluído apenas e tão somente nesta formação.
Dando sequência ao terceiro encontro, este tinha como programação os temas: Saúde, alimentação e atividade física e Dinâmica familiar após aposentadoria. Para o primeiro tema o palestrante convidado foi um profissional da Educação Física e funcionário da instituição. O palestrante manteve o enfoque na importância dos bons hábitos alimentares , adotando uma dieta balanceada, sob orientação de um profissional da Nutrição. Foi reforçada a idéia de que, segundo Zanelli e Silva (1996), que “a redução da atividade profissional, conforme for vivenciada, poderá representar uma ameaça a integridade do trabalhador”. A importância do acompanhamento regular de um profissional da medicina e da realização de exames periódicos, com vistas a prevenção de possíveis doenças. Um dos momentos de maior integração do grupo foi a atividade prática de exercícios laborais. A participação foi unânime e todos foram orientados para realizarem estes exercícios durante o dia e em suas atividades na instituição em fora dela. Cada participante recebeu uma ficha com a sequência dos exercícios, distribuído pelo palestrante.
O tema para após do intervalo deste encontro foi em relação à dinâmica familiar após aposentadoria. Para este tema foi convidada a Assistente Social que desempenha suas funções na mesma instituição hospitalar. Este momento da formação foi muito importante por se tratar de enfatizar a importância da família no processo de preparação da nova etapa de vida que iniciará com o processo de aposentadoria. Para Zanelli e Vieira (1996), “É na família que se estabelecem os primeiros relacionamentos do ser humano”. É neste momento que se busca enfatizar o quanto a família é importante na vida de qualquer pessoa. Muitos valores são repassados no núcleo familiar sendo que muitos destes se estendem por toda vida. A palestrante enfatizou a importância da influência que a família possui na vida do indivíduo e explica também o caráter relacional desta. É neste momento da vida que o relacionamento com o(a) cônjuge, sem dúvida merece uma nova atenção. Neste sentido Zanelli e Silva (1996), referem que, “Através do tempo a pessoa passa a estabelecer relacionamentos que extrapolam o âmbito da família”.
Na medida em que isso ocorre, o indivíduo começa a entrar no processo de socialização secundária, onde se destacam duas outras importantes instituições: a escola e o mundo do trabalho. A partir daí, valores anteriormente internalizados são confirmados ou confrontados, gerando crises em algumas circunstâncias. Com estas socializações secundárias o tempo do indivíduo fica dividido diminuindo consideravelmente sua presença em família. Em tese a aposentadoria o tempo para estar com a família retorna, porém esta família não é mais a mesma. Outras famílias foram construídas, os filhos cresceram, foram morar com as famílias que construíram ou foram estudar fora, alguns entes já não estão mais presentes em virtude de falecimentos, outras pessoas foram incorporadas às famílias como os netos e os avós e assim por diante. É preciso que a família que está em casa aguardando a chegada deste aposentado saiba também que ele está em processo de adaptação a nova situação de atuação. Por este motivo orienta-se que as conversas em família sejam francas para que possa fluir a retomada de projetos “engavetados” que não foram possíveis de realizar por motivo de falta de tempo, como passeios em família, por exemplo.
 O tempo deve ser planejado também para que este aposentado não fique o tempo todo no ambiente da casa, pois a família não está acostumada com esta presença, podendo gerar alguns conflitos. O tempo deve ser planejado em relação a viagens, passeios, visitas, sem esquecer de incluir agora, a família. Algumas falas nos chamaram atenção como, por exemplo: “Meu filho me disse que agora pode terminar a faculdade, pois eu vou poder auxiliá-lo nos trabalhos”, “Minha filha me disse que agora já pode ter outro filho pois eu vou estar em casa para cuidar deles”, “Meu marido também vai se aposentar e eu não sei o que vamos fazer o dia inteiro juntos? Não estou mais acostumada com isso!”. Percebe-se que em alguns modelos de famílias, o tempo do aposentado já está sendo ocupado por alguns de seus membros, uma vez que já planejaram a própria vida em função disso. O palestrante orientou para que o futuro aposentado deixe as coisas claras no ambiente familiar em relação ao planejamento de seu tempo, fato este que somente diz respeito a ele. Sobre este tema foi  solicitado aos participantes que iniciassem uma conversa com seus familiares a respeito de como estão percebendo esta nova fase de vida do servidor.
O quarto encontro teve como foco de abordagem os temas: Processo de Aposentadoria e no segundo momento uma mesa redonda com o tema “Trabalho Voluntário”. Em relação à legislação referente ao processo de aposentadoria, convidamos um profissional responsável por este departamento no setor de Recursos Humanos da mesma instituição. Este profissional foi orientado para fornecer as informações mais solicitadas pelos participantes como: A Lei que rege as atuais regras de aposentadoria para o Serviço Público Estadual, tipos de aposentadoria, tempo de serviço, licença prêmio, perdas e ganhos monetários com a aposentadoria. Todas estas informações se fazem necessárias, uma vez que os modelos de aposentadoria podem diferir no todo ou em partes do Serviço Público Federal, Municipal e Privado.
O mediador informou sobre os procedimentos que devem ser adotados para requerer a aposentadoria. O tema foi bastante polêmico, pois cada um em particular tinha suas dúvidas em virtude das diversas modalidades de aposentadoria existentes no Serviço Público Estadual. Considerando que as Leis foram sendo modificadas no decorrer dos anos. Este tema foi recebido e concluído com bastante expectativa e satisfação sendo que o espaço ficou aberto onde cada um dos integrantes pudesse realizar seus questionamentos. Percebemos nas manifestações destes que, além de existir a expectativa da aposentadoria existe uma grande ansiedade em relação remuneração, pois ninguém quer se aposentar recebendo valores inferiores aos que já recebe normalmente.
Para Rodrigues (2009) “A confrontação com o vazio deixado pelas horas antes dedicadas ao trabalho e o tédio do tempo desocupado, o afastamento ou a perda de relacionamento social  com os colegas de trabalho, o medo do ócio, o papel social que a ocupação desenvolvida representava e a perda do reconhecimento que dela advinha e, ainda, as dificuldades de adaptação a um convívio mais extenso com a família, podem constituir um período de ameaça ao equilíbrio mental do indivíduo”. Sabe-se também que o modo de enfrentamento diante da necessidade de reestruturação da vida pode variar de indivíduo para indivíduo, não podendo então de forma alguma existir e ou, considerar generalizações.
Foi a partir deste pressuposto de Rodrigues (2009), que se deu início aos trabalhos do segundo momento do encontro com uma mesa redonda referente ao trabalho voluntário, atividade esta, já exercida por diversas pessoas em diferentes segmentos da sociedade. A mesa foi constituída por representantes de cinco instituições que oferecem trabalho voluntário e aos palestrantes foi solicitado que respondessem a duas questões específicas: Em que época (idade) da vida iniciou o trabalho voluntário e o significado deste. Cada integrante da mesa realizou sua explanação num tempo determinado por nós, para que, logo após as falas fosse aberto para questionamentos. Este momento da formação foi de grande emoção, tanto para os que assistiram como para os integrantes da mesa. Cada um falou com muita emoção do significado deste trabalho para sua vida e o quanto se sente realizado em fazê-lo. Ao final cada convidado se colocou à disposição para fornecimento de informações, bem como distribuição de materiais como folders, jornais, telefone para contato, sites, emails etc. Ainda neste momento, foi entregue aos participantes do evento uma folha contendo todos os dados de cada instituição para que, se houvesse interesse em iniciar um trabalho desta natureza, o contato estaria com cada um.
O trabalho voluntário, como outro projeto que se possa pensar para após a aposentadoria se constitui para os participantes desta formação, uma visão de que é possível trabalhar de maneira a preencher o tempo indo de encontro ao outro que muito necessita de nossas habilidades adquiridas ao longo da vida. Isso pode ser realizado ocupando o tempo de forma planejada e consciente para não fazer deste trabalho uma obrigação e tomar todo tempo do aposentado. Desta forma foi informado também que todas estas instituição realizam o trabalho organizado na forma de escalas de trabalho para justamente não sobrecarregar os voluntários que necessitam de tempo livre, pois afinal, já cumpriram com sua parcela para o mercado de trabalho. Ainda, neste tema, foi sugerido pelos palestrantes que, caso a pessoa tenha intenção de realizá-lo em instituição hospitalar, que estão não seja a mesma que se aposentou, pois acaba por confundir as pessoas e surgem os questionamentos: “Você não tinha se aposentado? O que está fazendo aqui?”; “Você está com algum parente internado aqui?”; “Olha só, se aposentou, não aguentou ficar em casa e pediu para voltar!”. Comentários deste tipo levam o servidor a constantes explicações de sua função na instituição e isso passa ser desgastante e desnecessário, uma vez que é muito importante conhecer a realidade de outras instituições, outras pessoas, outros grupos e, principalmente outras demandas sociais.
O quinto e último encontro foi contemplado com os temas: autorealização, autoestima e sexualidade, Mesa Redonda tendo como convidados funcionários que já estavam aposentados para prestarem seus depoimentos referentes ao processo de aposentadoria e como se sentiam atualmente. Foi neste encontro que ocorreu o fechamento do evento e realização da avaliação do mesmo. Este encontro teve inicio com a colocação de um espelho na porta de entrada da sala de treinamento, sendo que todos os  integrantes tinham a oportunidade de visualizar-se antes de entrar na sala. Após todos estarem em seus lugares foi questionado aos presentes que relatassem sobre o que observaram refletidos no espelho. As respostas foram bastante diversificadas entre elas algumas que mais chamaram atenção como: “Percebi como o tempo passou!”; “Percebi que estou envelhecendo!”; “Percebi que meu jaleco está muito comprido!”.
As conversações foram variadas, porém, observamos que nenhuma delas se referia a si próprio de uma forma positiva, pois a maioria das falas apenas se referiu os aspectos externos devido à dificuldade e/ou resistência das pessoas em falarem de si próprias. A importância para que estes encontros de reflexão aconteçam é fundamental para que as pessoas possam perceber que não estão sozinhos e que existem outros em situação semelhante. A socialização das emoções faz com que as pessoas percebam que estas são comuns a todos. Em contra partida, falar sobre si, sobre o que pensa e desejam, como, projetos, sonhos, angústias, medos entre outros, é parte integrante do ser humano e em especial deste momento da vida e que esta formação se propôs a realizar. Foi proporcionado espaço para integração das discussões a respeito do tema inerente, desta forma, cada integrante pode se posicionar sobre suas emoções. O indivíduo precisa estar bem consigo e estar bem psiquicamente é sinônimo de saúde mental ou seja, qualidade de vida.
Partindo deste pressuposto, para Rodrigues (2009), “Qualidade de vida envolve bem estar no domínio social, saúde física no âmbito da medicina e satisfação no domínio psicológico”. Para esta autora, qualidade de vida diz respeito à maneira pela qual o indivíduo interage com o mundo externo, através de sua individualidade e subjetividade, ou seja, a maneira como o sujeito é influenciado e como influencia sue ambiente. Esta influência foi observada quando ouvimos frases como: “Ainda bem que não estou sozinho nesta...”; “Pensei que só eu estava sentindo isso!”, “Agora me sinto mais tranquila e aliviada...”.  Desta maneira, para que o pré aposentado possa refletir sobre sua futura condição, é necessário refletir também sobre que tipo de qualidade de vida pode-se proporcionar a estes servidores ainda enquanto estão desempenhando suas funções. Constata-se que muitos servidores encontra-se com baixa autoestima e de certa forma concordando com Rodrigues (2009), onde relata que “a aposentadoria é frequentemente vivenciada como a perda do próprio sentido da vida”, pois ao valorizar apenas aqueles que produzem, segundo Santos (1990), “deprecia-se o sujeito aposentado”. E isso surge de forma muito intensificada pelos altos índices de depressão, suicídio e alcoolismo. Mesmo observando que no Serviço Público Estadual a média de idade das pessoas que se aposentam é bastante reduzida, os índices dos sintomas anteriormente apresentados são significativos.
Assim, deve-se pensar em ações conjuntas e direcionadas à qualidade de vida do servidor aposentado e, para tanto, se faz necessário compreender o significado de se aposentar. Qual o significado deste termo para cada pessoa e para sua vida? Ainda, as discussões também necessitam esclarecer aos participantes deste evento que o processo de aposentadoria faz parte do processo de trabalho e que ele se constitui dia após dia de trabalho e não somente quando falta pouco tempo para a aposentadoria.
O tema que deu sequência a estas reflexões foi “Sexualidade”. O mesmo foi discutido de forma bastante madura e esclarecedora. A palestrante enfatizou como algumas doenças podem influenciar no desempenho sexual e que é pontual, a busca por esclarecimentos e tratamento é necessário, pois a sexualidade é própria de todo ser humano e as doenças são inerentes a esta. Foi esclarecido sobre as mudanças do corpo em relação aos ciclos da vida, como gestação, menopausa, andropausa e que o amadurecimento trás muitas vantagens para o indivíduo que agora não precisa mais se cobrar tanto como anos atrás, pois se conhece e conhece melhor seu parceiro. O momento da aposentadoria é também de reflexão neste campo, pois agora existe mais tempo para estar com a outra pessoa uma vez que um bom desempenho sexual pode ser alcançado em qualquer idade, tanto para mulheres quanto para os homens.
Várias falas surgiram bem como questionamentos tais como: “Agora não temos mais desculpas em dizer que estamos cansadas”; “Que desculpa agora, eu vou inventar para o meu marido?”. Observam-se com isso muitos relacionamentos desgastados pela rotina do dia a dia e pelo afastamento pelo desempenho de funções de trabalho. Foi orientado para que iniciassem conversas com seus parceiros em relação a este tema, uma vez que ter uma vida sexual equilibrada e ativa é bem estar. Para concluir um dos participantes comentou: “Minha mulher que me aguarde!”. Durante o intervalo, a conversa era sobre o tema sexualidade, todos tinham algo a relatar. Com isso percebemos que o tema é atual e que foi internalizado pelos participantes de forma unânime. Após o intervalo, retornamos ao local do evento e iniciamos a mesa redonda que foi constituída por cinco servidores da instituição, já aposentados. Solicitamos que cada servidor relatasse como foi seu processo de aposentadoria e como está se sentindo atualmente.
O tempo foi determinado para cada fala, uma vez que seria aberto para questionamentos após as falas. Cada participante comentou sobre como foi seu desligamento da instituição e as consequências deste fato para sua vida. Nenhum deles recebeu orientações e nem fez parte de qualquer reflexão a respeito do tema aposentadoria, relatando que  ainda hoje sente falta do trabalho, dos colegas e da própria rotina institucional. Três integrantes encontraram uma forma de estar sempre em contato com a instituição, ou seja, iniciaram uma atividade comercial onde revendem produtos, comparecendo à instituição pelo menos duas vezes ao mês.
Um dos momentos mais interessantes deste dia foi a alegria dos convidados em estarem contribuindo com este evento e agradeceram pela iniciativa. Fala como: “Se eu tivesse feito este curso talvez eu não tivesse ficado doente...”. A alegria recíproca dos convidados aposentados com os funcionários que estão para se aposentar foi muito expressiva. Todos queriam se cumprimentar e ficaram felizes em rever os colegas que a tempo não reviam. As falas foram bastante diversificadas e cada um contribuiu consideravelmente, principalmente com dicas e conselhos para os que estão a caminho da aposentadoria. A ocupação do tempo é muito importante, pois a pessoa se sentindo produtiva constrói novos laços de relacionamentos e não se sente tão sozinho, abandono e improdutivo. Em relação ao sentimento de abandono, a Revista Ciência de Profissão  traz uma reportagem que tem como título: “O preparo para o fim da carreira”, onde
[...] após anos de trabalho, de um dia para o outro tudo muda. “No dia seguinte à festa de despedida, a pessoa não levantará da cama com a cabeça ocupada com as tarefas do trabalho, não terá recompensas nem reclamações externas ao ambiente doméstico, não haverá a mesma rotina. a Revista Ciência de Profissão (n. 5, dez, 2007, p. 49).
 É esta sensação que a maioria dos integrantes desta formação está sentindo, observada também na grande procura por uma formação específica, como esta. Parar completamente e se dedicar a alguma atividade pessoal, normalmente postergada em função dos afazeres com o trabalho são duvidas constantes e a psicologia pode contribuir de forma significativa esclarecendo sobre as emoções do indivíduo neste momento da vida.
É preciso que o aposentado reflita no sentido que o trabalho irá adquirir após a aposentadoria e que seja promovida reflexão sobre como pretende se desenvolver nessa nova fase. A psicologia tem muito a contribuir neste sentido, no trabalho realizado nas organizações, como na clínica e nas instituições educacionais. Não podemos deixar de considerar que além da psicologia o trabalho precisa ser realizado de forma multidisciplinar, pois cada profissional relacionado ao cuidado com o outro tem algo a contribuir para que o mesmo se sinta melhor, promovendo a saúde e o bem estar do novo aposentado.

Considerações Finais

Pensar e colocar em prática uma formação reflexiva sobre a preparação para a aposentadoria é de fundamental importância, por considerar que o objetivo principal deve ser de criar condições concretas, de maximização do enriquecimento pessoal. Desta forma, uma formação pensada nestes moldes é fundamental, no sentido de prevenir que a ausência de planejamento cause possíveis conflitos emergentes com o término da atividade laboral. Devemos orientar os futuros aposentados que as possibilidades de ação não se esgotam com o fim da rotina de trabalho e sim, segundo Rodrigues (2009), “A partir desses elementos, torna-se possível a construção da díade qualidade de vida e aposentadoria”. Por este ângulo concordamos com a autora e acreditamos na contribuição da psicologia no sentido de ousar em suas funções dentro da organização criando programas de qualidade de vida já no ambiente de trabalho, para que ao aposentar-se este funcionário possa sentir-se emocionalmente bem.
Os palestrantes, na avaliação dos participantes deste evento receberam notas que variaram entre 8,0, 9,0 e 10,0, concluindo assim que por ser um primeiro evento, as escolhas dos ministrantes foram considerada acertiva de nossa parte, pois cada um dentro de sua especialidade conseguiu atingir os objetivos propostos que foi a conscientização acerca de todos os momentos que fazem parte do processo de aposentadoria. Em relação ao local do evento, a avaliação foi unânime na nota 10,0, o que nos deixou bastante satisfeita, pois os equipamentos tecnológicos que estavam a disposição para o evento também em boas condições de uso, o que favoreceu para que todos os palestrantes iniciassem e concluíssem suas falas no tempo estipulado. Em nossa opinião, o espaço deveria proporcionar condições para trabalho em círculo, o que não foi possível, devido ao grande número de cadeiras para acomodar os participantes, fato este que será observado no próximo evento.
Em relação às sugestões foram observadas as que seguem: Mais cursos, com a mesma dinâmica deste; Este curso deveria proporcionar mais encontros; Carga horária maior; Mais representantes de trabalhos voluntários que não sejam da área hospitalar; Maior enfoque no tema “depressão após aposentadoria”; Que o curso seja realizado a cada seis meses. Todas estas sugestões estão sendo avaliadas pela equipe da Instituição Promotora, da Secretaria de Estado da Saúde bem como a nova programação do conteúdo a ser ministrado no próximo evento. Como o setor de Recursos Humanos elabora uma escala de eventos anual, e são muitos os cursos ministrados nesta instituição, a sala de treinamento (que é apenas uma), também passa por esta escala, por este motivo este evento será ministrado apenas uma vez no ano de 2010. Como ponto negativo do evento, foi destacado que foram poucas horas de curso, devendo estender-se pelo menos ao dobro, ou seja, 40h/a.
Ousamos na criação deste programa de formação dentro da Secretaria de Estado da Saúde e conseguimos alcançar os objetivos iniciais, bem como na avaliação do evento realizado pelos participantes, obtivemos consideráveis sugestões e elogios, que serão colocados em prática neste ano de 2010. Nossa avaliação sobre este evento sobressai às expectativas iniciais, onde pensávamos que a participação não seria tão intensa por parte dos servidores, uma vez que estes buscam cursos, para progressão funcional basicamente. Chamou atenção, o fato da participação efetiva por parte dos integrantes, nas reflexões e nas dinâmicas de grupo. Observamos com significativa clareza, que todos em sua subjetividade estão sofrendo um processo transformador em sua vida e que dividir isso com os demais foi muito importante para cada um em particular. É assim que acreditamos na Psicologia que faz refletir e que promove transformações nos indivíduos, a partir de sua subjetividade.

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Referências:



Fonte: http://artigos.psicologado.com/atuacao/psicologia-organizacional/vou-me-aposentar-e-agora-papel-do-psicologo-frente-ao-desafio-de-desenvolver-uma-formacao-reflexiva-para-o-momento-da-aposentadoria#ixzz2AhwI5710 
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