segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Mudança e tolerância


Mudança e tolerância     

23 de outubro de 2012

0 Comentários

“Nada é permanente, exceto a mudança.”
(Heráclito de Éfeso)

As pessoas não resistem às mudanças, resistem a ser mudadas. É um mecanismo legítimo e natural de defesa. Insistimos em tentar impor mudanças, quando o que precisamos é cultivar mudanças. Porém, mudar e mudar para melhor são coisas diferentes.
O dinheiro, por exemplo, muda as pessoas com a mesma frequência com que muda de mãos. Mas, na verdade, ele não muda o homem: apenas o desmascara. Esta é uma das mais importantes constatações já realizadas, pois auxilia-nos a identificar quem nos cerca: se um amigo, um colega ou um adversário. Esta observação costuma dar-se tardiamente, quando danos foram causados, frustrações foram contabilizadas, amizades foram combalidas. Mas antes tarde, do que mais tarde.
Os homens são sempre sinceros. Mudam de sinceridade, nada mais. Somos o que fazemos e o que fazemos para mudar o que somos. Nos dias em que fazemos, existimos de fato; nos outros, apenas duramos.
Segundo William James, a maior descoberta da humanidade é que qualquer pessoa pode mudar de vida, mudando de atitude. Talvez por isso a famosa “Prece da serenidade” seja tão dogmática: mudar as coisas que podem ser mudadas, aceitar as que não podem, e ter a sabedoria para reconhecer a diferença entre as duas.
Tolerância

Cada vida são muitos dias, dias após dias. Caminhamos pela vida cruzando com ladrões, fantasmas, gigantes, velhos e moços, mestres e aprendizes. Mas sempre encontrando a nós mesmos. Na medida em que os anos passam tenho aprendido a me tornar um pouco pluma: ofereço menos resistência aos sacrifícios que a vida impõe e suporto melhor as dificuldades. Aprendi a descansar em lugares tranquilos e a deixar para trás as coisas que não preciso carregar, como ressentimentos, mágoas e decepções. Aprendi a valorizar não o olhar, mas a coisa olhada; não o pensar, mas o sentir. Aprendi que as pessoas, em regra, não estão contra mim, mas a favor delas.

Por isso, deixei de nutrir expectativas de qualquer ordem a respeito das pessoas e me surpreender com atitudes insensatas. Seria desejável que todos agissem com bom senso, vendo as coisas como são e fazendo-as como deveriam ser feitas. Mas no mundo real, o bom senso é a única coisa bem distribuída: todos garantem possuir o suficiente…
Somos responsáveis por aquilo que fazemos, o que não fazemos e o que impedimos de fazer. Pouco aprendemos com nossa experiência; muito aprendemos refletindo sobre nossa experiência. Temos nossas fraquezas e necessidades, impostas ou autoimpostas. “Conheço muitos que não puderam quando deviam, porque não quiseram quando podiam”, disse François Rabelais.
Por tudo isso, é preciso tolerância. É preciso também flexibilidade. Mas é preciso policiar-se. Num mundo dinâmico, é plausível rever valores, adequar comportamentos, ajustar atitudes. Mantendo-se a integridade.

PS: O texto utiliza frases de Albert Camus, Descartes, James Joyce, Melody Arnett, Padre Antônio Vieira, Peter Senge, Robert Sinclair e Tristan Bernard.
 Tom Coelho é educador, conferencista e escritor com artigos publicados em 17 países. É autor de “Somos Maus Amantes – Reflexões sobre carreira, liderança e comportamento” (Flor de Liz, 2011), “Sete Vidas – Lições para construir seu equilíbrio pessoal e profissional” (Saraiva, 2008) e coautor de outras cinco obras. Contatos através do e-mail tomcoelho@tomcoelho.com.br. Visite: www.tomcoelho.com.

Autoconsciência - Forum Espirita

Autoconsciência - Forum Espirita

Missão, visão, valores.



Artigo publicado no jornal FOLHA DE LONDRINA, em 29/10/2012, na coluna ABRAHAM SHAPIRO, em Empregos e Concursos.


ABRAHAM SHAPIRO


Missão, visão, valores. Para várias empresas, ter esse trio descritivo dependurado nas paredes de suas instalações é sagrado. Muitas delas, no entanto, estabelecem para si uma visão ao mais irrisório e ridículo lugar-comum. Veja esta: “Nós manteremos os mais altos padrões de produção e ética”. Outra expressa uma necessidade como objetivo: “Atingir suficiente lucro”. Isto é um absurdo. Compara-se apenas a um ser humano que proclamar como visão de sua vida o ato de respirar.
Ao propôr a visão ideal de sua empresa, evite dizer o que ela faz para sobreviver. Diga, em vez disso, o que escolhe para fazê-la prosperar.
Não faz o menor sentido empregar superlativos como “o maior”, “o máximo”, “o melhor”.
Um teste para saber se a visão da sua organização é verdadeira consiste em verificar se você pode discordar dela razoavelmente. Se não puder, esta visão merece ser excluída. Você discordaria, por exemplo, de “fornecer o melhor pelo preço cobrado”? Só se fosse louco, não é mesmo?   Portanto, será besteira incluir esta frase na visão! Por ser óbvia ululante, ela não enunciará nada de uma boa visão dos seus negócios.
Uma companhia diz que quer “maximizar seu potencial de crescimento”. Outra deseja “oferecer produtos da mais alta qualidade”. A pergunta que insistentemente faço é: como elas saberão se conseguiram isso? Se não podem medir, não devem propor. Será somente um bla bla. Nada prático, nada factível.
Vou dar três dicas a respeito de como se constrói uma visão realista.
A primeira providência no enunciado da visão é constar nela objetivos que podem ser medidos. Isto evoca o poder de comprometer as pessoas.
Segunda dica: a visão da empresa deve diferenciá-la de suas congêneres e proclamar sua individualidade, sua singularidade. Assim, “fabricar produtos com eficiência a custos que deem lucros” é uma péssima proposta, pois iguala a sua organização a todas as outras.
Terceira: a visão deve definir o negócio que a empresa quer ter no futuro, e não o que ela já tem hoje. Uma companhia que produz refrigerantes e salgadinhos, por exemplo, e que opera em várias instalações para refeições, recreio e diversão identificou sua visão de negócio como: “aumentar a satisfação das pessoas durante seu tempo de lazer”.
Uma visão poderosa e consistente comunica valor real – do presente para o futuro – trabalha intensamente para atingi-lo. Portanto, ela será inequívoca e mensurável.
Enuncie a visão da sua empresa do modo mais simples, porém relevante a todos direta ou indiretamente envolvidos com ela. Posso garantir que após isto ninguém deixará de reconhecer sua grandeza e solidez!
______________________ 

Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é simplicidade. É autor do livro "Torta de Chocolate não Mata a Fome - Inspirações para a Vida, o Trabalho e os Relacionamentos", Editora nVersos, 2012. Contatos: shapiro@shapiro.com.br ou (43) 8814 1473

VOU ME APOSENTAR E AGORA


Vou me Aposentar, e Agora? Papel do Psicólogo Frente ao Desafio de Desenvolver uma Formação Reflexiva para o Momento da Aposentadoria

Avalie este artigo:
Este estudo de caso, parte do pressuposto que a aposentadoria, além de não constituir um campo de conhecimento novo, sofre deslocamentos em seu sentido no dia-a-dia das pessoas, implicando transformações nos modos de ser, pensar e agir coletivos. Além disso, a aposentadoria, como saber constituído e constituinte, é muito mais do que a simples soma de representações individuais de um determinado grupo. Trata-se, na verdade, de uma matriz de pensamentos de senso comum inseridos em um contexto sociocultural e econômico maior. Para Rodrigues (2000, p. 26) afirma que "a aposentadoria, antes de tudo, é uma instituição da sociedade industrial moderna", pois é resultado de um longo período de lutas da classe trabalhadora. Segundo a autora, na maioria das legislações trabalhistas a aposentadoria é concedida por idade, neste aspecto, implica na não separação do binômio idade-trabalho, relacionando estreitamente a aposentadoria ao processo de envelhecimento.
O termo aposentadoria está vinculado, segundo Carlos et al. (1998), a duas idéias centrais: a de retirar-se aos aposentos, de recolher-se ao espaço privado de não trabalho – contribuindo para o status depreciativo que envolve o abandono e a inatividade –, e a de jubilamento, acarretando uma perspectiva otimista, onde há uma conotação de prêmio, recompensa e contentamento. A proposta de Edith Motta ilustra essa idéia quando a autora refere à aposentadoria como
[...]um direito [grifo da autora] adquirido pelo trabalhador após o término de um determinado número de contribuições para um determinado sistema previdenciário e que implica em receber uma importância mensal sem uma correspondente prestação de serviço (Motta, apud Carlos et al., 1998, p. 24) .
Segundo Rodrigues (2000), há dois pontos fundamentais nas definições de aposentadoria: a inatividade após um tempo de serviço e a remuneração por essa inatividade. Esses dois aspectos são decisivos para a compreensão das consequências acarretadas nas vidas daqueles que se aposentam, pois "a aposentadoria requer um condicionamento mental e social que a maior parte das pessoas não possui, e isso porque a cessação da atividade profissional constitui uma exclusão do mundo produtivo, que é à base da sociedade moderna. A autora ainda destaca que a aposentadoria, como instituição social, apresenta características contraditórias: 
Se, de um lado, alguns a vivem como um tempo de "liberdade", de  "desengajamento profissional", de "possibilidade de realizações", de "fazer aquilo que não teve tempo de fazer" durante a vida ativa, de  "aproveitar a vida", de "não ter mais patrão, horários obrigatórios"  etc., de outro, outros a consideram como um "tempo de nostalgia", de "enfado" etc. (Rodrigues, 2000, p. 28)
É contraditório, ainda, em relação ao tipo de trabalho realizado: tratando-se de algo penoso, repetitivo, a aposentadoria pode representar uma libertação do sofrimento, do desgosto; ao contrário, sendo um trabalho gratificante e enriquecedor, a cessação da atividade aparece como um tormento e há aspiração para uma liberdade de escolha relativa à época e à idade para aposentar-se. Nas sociedades ocidentais, segundo França (2003),”O idoso representa, o velho, no sentido pejorativo de ser ultrapassado e descartável.
Neste sentido, e buscando reflexões referentes ao processo de envelhecimento e a aposentadoria que este projeto floresceu. O primeiro deste foi quando, por ocasião da graduação do curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí – Univali – Campus B – Biguaçu. No quinto período, tivemos o primeiro contato com a disciplina Psicologia Organizacional e do Trabalho I (POT I). Em 2008/2 apresentamos um trabalho que teve como tema “O papel do psicólogo nas organizações frente ao desligamento dos funcionários em virtude do processo de aposentadoria. Para este trabalho acadêmico realizamos diversas leituras de artigos e obras como as de Zanelli e Silva (1996), bem como revistas de psicologia que discutem este conteúdo.
No entanto, ao realizar este trabalho, foram sendo internalizadas em nós as inquietações e reflexões sobre a instituição em que desempenhávamos nosso trabalho que é um Hospital Público da grande Florianópolis e que não possuía um projeto desta dimensão. Iniciou-se ali uma semente que nos empenhamos em colocar em prática. Continuando as leituras e as pesquisas referentes à preparação de pessoas para o momento da aposentadoria, surgiu então em 2009/1 outra oportunidade de realizar um projeto com este tema, agora na Disciplina Psicologia Organizacional e do Trabalho II (POT II). Sob orientação da professora titular da disciplina, criamos um projeto específico para a Secretaria de Estado da Saúde (SES) de Florianópolis, para a verificação da viabilidade de implantação. No início do semestre 2009/2, recebemos a resposta que o projeto fora aprovado restando apenas à adequação às normas técnicas da SES e sua implantação seriam durante o mês de setembro do mesmo ano. Vale acrescentar, e na perspectiva de Rodrigues (2009), “que a política Nacional do Idoso, através da Lei nº 8.842 de 4 de janeiro de 1994, propõe a criação e a manutenção de programas de preparação para aposentadoria nos setores público e privado com antecedência mínima de dois anos antes do afastamento”. Já o Estatuto do Idoso, através da Lei nº. 10.741, de 1º de outubro de 2003, estimula programas dessa natureza, ressaltando que devem ser realizados preferencialmente com antecedência mínima de um ano, com o intuito de estimular o pré aposentado a realizar novos projetos sociais conforme seu interesse, esclarecendo também seus direitos sociais.
Acreditamos achar necessário o registro do momento quando apresentamos este projeto ao Setor de Recursos Humanos, a pessoa responsável nos relatou que o mesmo, já era um dos objetivos do Serviço Social da Instituição, por este motivo, marcamos uma reunião com a Assistente Social responsável pelo setor para, realizamos as adequações ao projeto. Organizamos todo o cronograma do evento, dias horários e a programação específica. Como as datas já estavam próximas, achamos conveniente convidar outros profissionais da instituição para colaborarem nos temas específicos tais como: Assistente Social, Profissional do Setor de Recursos Humanos, Profissional de Educação Física, Voluntariado e funcionários que já se encontravam aposentados. O número de vagas ficou estabelecido em 25 participantes podendo estender-se a 30 no máximo. O critério utilizado para o convite a participação foi que o funcionário estivesse a no período de pré aposentadoria. As inscrições foram realizadas pelo setor de Recursos Humanos, sendo que, ao preencherem as vagas, seria oferecido uma pré inscrição para o próximo curso a ser realizado em 2010.
A justificativa para esta formação baseou-se em observações e tendo em vista o grande número de funcionários que estão em período de pré aposentadoria e, principalmente por observar a inexistência de um Programa de Capacitação, Reflexão e Preparação para Aposentadoria nesta Secretaria, em específico, nesta Instituição Hospitalar. Considera-se relevante apresentar a esta Unidade da Secretaria de Estado da Saúde, o Projeto de Capacitação com o Programa de Reflexão e Preparação para Aposentadoria.
Desta forma este curso teve como objetivo, orientar, e capacitar funcionários que estão em período de pré aposentadoria, proporcionando uma condição de desligamento da instituição tranquilo e saudável, nos aspectos físicos, emocionais e financeiros.
A forma de divulgação foram os murais da instituição realizados pelo setor de RH (Recursos Humanos), a ficha de acompanhamento e avaliação de resultados foi fornecida também pelo RH (Recursos Humanos) e os encontros aconteceram nas terças-feiras das 14h00min às 16h00min. Com relação ao conteúdo programático, o mesmo após ampla avaliação entre nós da Psicologia, Serviço Social e RH (Recursos Humanos), ficou assim constituído:
1º Encontro: Integração do grupo;
    Contrato de Trabalho;
    Dinâmica: “Linha do Trabalho”.
2º Encontro: Resgate do encontro anterior;
    Agenda com os temas: Elaboração do luto;
    Projetos de vida após a aposentadoria.
3º Encontro: Resgate do encontro anterior;
    Agenda com os temas: Saúde, alimentação e atividades físicas;
     Dinâmica familiar após aposentadoria.
4º Encontro: Resgate do encontro anterior;
    Agenda com os temas: Processo de Aposentadoria;
    Mesa Redonda com o tema: “Trabalho Voluntário”.
5º Encontro: Resgate dos temas do encontro anterior;
    Agenda com os temas: Auto realização e auto estima
    Dinâmica: “Para quem você tira o Chapéu”;
    Sexualidade;
    Mesa Redonda com depoimentos de funcionários aposentados;
    Avaliação do evento;
    Fechamento com a exibição do CD com fotos deste evento;
    Exibição do documentário sobre a Fundação do Hospital.

Para Rodrigues (2009), “A aposentadoria é uma fase que provoca mudanças e pode gerar ansiedade no indivíduo, considerando-se sua história na relação com o grupo social ao qual pertence”, já para Antunes (2005), “é a partir do dia a dia que o homem se tona um ser social, diferenciando-se de outras espécies”. Zanelli e Silva (1996), uma caracterização fundamental ao qual o funcionalismo público é enquadrado enquanto categoria não funcional: “Não é sem razão que a categoria dos aposentados é denominada nos registros formais de “inativa”. Sentido oposto à mobilidade ou movimento, essência da própria vida”.
A partir de tais pressupostos teóricos que se deu início a implementação do Programa de Preparação e Reflexão para Aposentadoria. O curso teve início no dia 1º de setembro de 2009 e o conteúdo programado para este dia era a integração do grupo, com as devidas apresentações, contrato de trabalho e a dinâmica “Linha do Tempo”. Iniciamos este momento com nossa apresentação e apresentação do curso. Logo após cada integrante pode se apresentar contribuindo sobre as expectativas em relação ao mesmo. Este momento foi bastante enriquecedor devido às descobertas que ia ocorrendo a partir da apresentação de cada um dos participantes. Observou-se que mesmo trabalhando muitos anos na mesma instituição, as pessoas não se conheciam e iam surpreendendo-se, cada um com a fala do outro. “Foi à primeira vez que alguém me deu a oportunidade de falar de mim diante de um público” (O. 34 anos de trabalho). Este momento foi muito gratificante e surpreendente para todos.
No “Contrato de Trabalho”, os participantes foram conscientizados do sigilo em relação aos temas abordados em cada encontro, principalmente às falas pessoais dos participantes, onde todo e qualquer comentário deveria permanecer no espaço e no momento da realização do curso. O momento do intervalo foi realizado no refeitório da instituição e, ao invés de cada um sentar em mesas separadas, como estavam  acostumados, sugerimos que as mesas fossem unidas para uma melhor integração do grupo. Este momento foi integrativo, onde todos conversavam uns com os outros que, de certa forma acabavam de ser conhecer um pouco mais. Todos os momentos do curso foram registrados em fotos, com a devida autorização dos participantes.
Após o retorno deste intervalo, iniciamos a dinâmica “Linha do Trabalho”, que foi uma adaptação para esta capacitação, da dinâmica “Linha da Vida”. Cada participante foi orientado a construir uma linha, onde seria enumerado cada fato importante da trajetória profissional. Acontecimentos estes que poderiam ser agradáveis ou não, porém que tivessem importância dentro da trajetória profissional dentro da instituição. Este momento de socialização foi uma outra oportunidade que os integrantes tiveram para se expressar sobre sua trajetória de vida relacionando-a com a atividade profissional. Podemos perceber que cada um dentro de sua compreensão de vida e de mundo pode definir seu trabalho e sua função como parte integrante de uma engrenagem funcional que sugere um Hospital Público de grande porte.
O vínculo com a instituição passa ser muito significativo que para Rodrigues (2009) “A perda do vínculo, com tudo o que ele representa “estar trabalhando”, pode ter influência na identidade pessoal, uma vez que a aposentadoria acarreta modificações nas relações instituídas entre o indivíduo e o sistema social”. Desta forma Zanelli e Silva (1996, apud Martin-Boró, 1985), citam que “a socialização é um processo de desenvolvimento histórico – seu caráter é definido pelas circunstâncias próprias de cada situação concreta. É um processo de desenvolvimento da identidade pessoal – o modo pelo qual o indivíduo vai se configurando como pessoa e firmando-se perante a sociedade como ser único – e da identidade social – a vivência de uma pessoa supõe necessariamente a existência de uma sociedade que a influenciou em sua formação”.
Existe uma grande insegurança apresentada pelos participantes em perder sua identidade profissional. Isso é claro nas falas dos mesmos: “Eu sou o “O”, da Ortopedia e eu me aposentando não vou mais ser chamado assim...”, E eu que sou o C. do Raio X, vou me tornar o C. aposentado? “Ainda não consigo pensar sobre isso! (C. 34 anos de trabalho). Ainda em Zanella e Silva (1996), vamos encontrar uma definição para estes momentos de angústias. “Se aceitarmos que a pessoa é reconhecida socialmente pelas atividades que desempenha o desligamento do trabalho, na transição da aposentadoria, afeta a identidade pessoal”.
Uma das contribuições para que as reflexões possam existir é a utilização nestes espaços de dinâmicas que intensifiquem estas discussões a respeito do processo de aposentadoria como a “Linha de Trabalho” que, nesta formação, foi contemplada com a simbiose entre fatos pessoais e profissionais que ocorreram concomitantemente com o desempenho das funções. Fatos estes que estavam relacionados a casamentos, nascimentos de filhos, divórcios, perdas de entes queridos, ascensão profissional, decepções entre outros. Ao transcorrer dos encontros pode-se perceber que estes foram os momentos de humor e emoção, de certa forma, estávamos nos sentindo em casa, haja vista o tempo de convivência. Estas emoções oscilavam entre grandes alegrias e irreparáveis perdas. O contrato de trabalho realizado no início dos trabalhos teria o grande momento de ser contemplado, pois as revelações que ocorreram não sofreram nenhuma repercussão na instituição durante a semana após este encontro. Fechamos este encontro de forma muito positiva, convidando a todos para estarem na semana seguinte.
No segundo encontro, conforme cronograma, os temas abordados foram: “Elaboração do luto pelo término da atividade laboral” e no segundo momento, “projetos de vida após a aposentadoria”. Em relação à elaboração do luto, podemos citar que para Marchadour, (1995, p. 5) “Na medida em que a consciência da morte não pode ser evitada em sociedade alguma, as justificativas da realidade do mundo social frente à morte são absolutamente indispensáveis em todas as sociedades. Falar de morte dos outros conduz inevitavelmente cada um à sua própria finitude”. Este tema tem uma urgência em ser debatido neste curso de formação devido à dificuldade que as pessoas têm encontrado em ter contato com o mesmo. Em se tratando de uma ambientação hospitalar, a morte e a finitude que se conhece é a da morte do corpo físico presenciando na maioria das vezes por diversas pessoas de uma equipe de atendimento. Com surpresa percebemos que a maioria dos integrantes desconheciam a existência de outro tipo de luto que não fosse aquele manifestado fisicamente pela falência dos órgãos vitais. Nosso papel foi fundamental em relatar com propriedade que o que os integrantes estavam sentindo por deixarem a instituição de forma definitiva também era um processo de enlutamento.

Na perspectiva de Bowlby (2004), “Embora saibamos que depois de uma perda, o estado agudo do luto abrandará, sabemos também que continuaremos inconsoláveis e não encontraremos nunca um substituto. Não importa o que venha preencher a lacuna e, mesmo que esta seja totalmente preenchida, ainda assim alguma coisa permanecerá”. “É a única maneira de perpetuar aquele amor que não desejamos abandonar”. Rebelo (2009), na obra, “Desatar o nó do luto: fala sobre a perda de entes queridos e dos processos inerentes ao luto”. Enfatiza a questão dos laços afetivos como essenciais para a nossa vida emocional e debruça-se essencialmente no que acontece quando estes são quebrados de forma inesperada. Ora aqui a questão da crise e do trauma assume um papel preponderante, mas mais inquietante ainda é a questão do aparelho psíquico para pensar os pensamentos, pois tal como estes funcionários, todos estão de alguma forma angustiados com este novo processo de mudança e muitos deles ainda não sabem como fazer este desligamento definitivo de uma forma saudável e enriquecedora para si.
O trauma proveniente do desligamento institucional e a sua gravidade dependem da (in)capacidade para fazer face às exigências impostas, neste caso, é importante elaborar o luto e ultrapassá-lo para ter um processo de aposentadoria considerado prazeroso e saudável. O conceito de luto "fazer o luto" aplica-se a várias situações da nossa vida, querendo dizer que é a necessidade do indivíduo em viver uma crise, em viver sentimentos confusos, contraditórios, que oscilam entre apatia, decepção, raiva, para posteriormente ultrapassá-la, e isto depende inevitavelmente das condicionantes internas de cada um. Tal como nos relata Rebelo (2009), "Todo o processo que medeia entre a perda e a reabilitação para a vida exige um período de demora: é o tempo do luto. Este terá que ser percorrido até que a realidade predomine, até que aceitemos que todos os vínculos que estabelecemos com alguém ou com algo tão querido, só podiam ser usufruídos em sua presença. Só assim poderemos recuperar a paz de espírito, uma tranquilidade íntima, indispensável para prosseguir a vida na sua plenitude”. A partir das emoções que iam surgindo em relação ao tema exposto, cada qual pode falar de suas perdas, de suas elaborações ou não e da forma como observará seus sentimentos de hoje em diante.
Após o intervalo, o tema em pauta era os possíveis projetos que podem ser iniciados e refletidos a partir da ocupação do tempo que agora será ministrado pelo próprio sujeito, não mais com o compromisso diário de “bater o ponto”, mas o desligamento
[...] do trabalho parece estar ocorrendo de forma atabalhoada e acuada. Os sentimentos gerados a partir dessas situações, em muitos casos são marcados por conflitos que se manifestam da seguinte forma: de um lado existe a pressão para consolidar o ato; de outro ocorre o desconforto por ter que precipitar o processo de aposentadoria” (Zanelli e Silva, 1996, p. 47).
É relevante ressaltar que o programa apresentado por Zanelli e Silva (1996), é realizado para o Serviço Público Federal e para tanto são programados dez encontros onde são capacitados grupos de formação continuada. A realidade de Serviço Publico Estadual, em específico nesta Instituição Hospitalar, foi possível, nesta primeira formação, um total de cinco encontros e sem uma concretização de uma formação continuada, porém com a possibilidade de um encontro mensal para ex participantes que já estejam aposentados para troca de experiências. O espaço para estes encontros foi cedido pelo Grupo de Voluntários desta Instituição que possui uma sala com mesa ampla, onde seriam realizados os encontros mensais.
Em relação a projetos de vida para após aposentadoria, é relevante que seja enfatizado a importância destes para cada um individualmente, sem que isso se torne uma exigência homogênea. A ocupação do tempo após a aposentadoria é uma escolha individual que para Zanelli e Silva (1996), “É a etapa da vida de escolhas prazerosas do uso do tempo”. É neste momento da vida que a pessoa tem oportunidades para os sonhos, eliminando a obrigatoriedade. É neste momento da vida que a pessoa tem oportunidades para os sonhos, eliminando as obrigatoriedades incômodas e de renovar prioridades. Neste momento do encontro foram sugeridas algumas possibilidades possíveis de ocupação, lazer e participação social como: trabalho voluntário, trabalho recreativo, educativos e culturais. Trabalhos espirituais e religiosos, ecológicos, artísticos e sociais. Para os autores Zanelli e Silva (1996), é fundamental para a pessoa aposentada “manter o corpo e o espírito ativos e que este processo deve ser visto como uma etapa propícia, uma vez que o tempo livre é maior, permitindo a atenção à qualidade de vida, de maneira ampla”. Muitos dos integrantes puderam expor seus futuros projetos e até mesmo atividades paralelas que já desempenham durante sua função na instituição. Houve falas de participantes que disseram; “Eu nunca pensei nisso, vou começar a pensar daqui por diante”. Este tipo de reflexão é muito significativa, pois faz com as pessoas iniciam seus próprios processos reflexivos a respeito de suas atitudes e desejos, incluindo seus projetos e controle do tempo ocioso. Encerrando este encontro sugerimos que cada integrante refletisse sobre o que deseja realizar após sua aposentadoria e este tema seria abordado no inicio do terceiro encontro.
O terceiro encontro a proposta era que as pessoas poderiam então, relatar sobre seus projetos para depois da aposentadoria. “Foram diversas as falas entre elas: “Vou comprar um barco e pescar”, “Vou fazer aula de canto”, “Vou caminhar todos os dias”, “Vou fazer um curso para ser contadora de história”, “Não vou fazer mais nada. Já trabalhei demais”. Muitos não quiseram se manifestar o que demonstrou que o tema ainda é mobilizante e recente para ser amadurecido e concluído apenas e tão somente nesta formação.
Dando sequência ao terceiro encontro, este tinha como programação os temas: Saúde, alimentação e atividade física e Dinâmica familiar após aposentadoria. Para o primeiro tema o palestrante convidado foi um profissional da Educação Física e funcionário da instituição. O palestrante manteve o enfoque na importância dos bons hábitos alimentares , adotando uma dieta balanceada, sob orientação de um profissional da Nutrição. Foi reforçada a idéia de que, segundo Zanelli e Silva (1996), que “a redução da atividade profissional, conforme for vivenciada, poderá representar uma ameaça a integridade do trabalhador”. A importância do acompanhamento regular de um profissional da medicina e da realização de exames periódicos, com vistas a prevenção de possíveis doenças. Um dos momentos de maior integração do grupo foi a atividade prática de exercícios laborais. A participação foi unânime e todos foram orientados para realizarem estes exercícios durante o dia e em suas atividades na instituição em fora dela. Cada participante recebeu uma ficha com a sequência dos exercícios, distribuído pelo palestrante.
O tema para após do intervalo deste encontro foi em relação à dinâmica familiar após aposentadoria. Para este tema foi convidada a Assistente Social que desempenha suas funções na mesma instituição hospitalar. Este momento da formação foi muito importante por se tratar de enfatizar a importância da família no processo de preparação da nova etapa de vida que iniciará com o processo de aposentadoria. Para Zanelli e Vieira (1996), “É na família que se estabelecem os primeiros relacionamentos do ser humano”. É neste momento que se busca enfatizar o quanto a família é importante na vida de qualquer pessoa. Muitos valores são repassados no núcleo familiar sendo que muitos destes se estendem por toda vida. A palestrante enfatizou a importância da influência que a família possui na vida do indivíduo e explica também o caráter relacional desta. É neste momento da vida que o relacionamento com o(a) cônjuge, sem dúvida merece uma nova atenção. Neste sentido Zanelli e Silva (1996), referem que, “Através do tempo a pessoa passa a estabelecer relacionamentos que extrapolam o âmbito da família”.
Na medida em que isso ocorre, o indivíduo começa a entrar no processo de socialização secundária, onde se destacam duas outras importantes instituições: a escola e o mundo do trabalho. A partir daí, valores anteriormente internalizados são confirmados ou confrontados, gerando crises em algumas circunstâncias. Com estas socializações secundárias o tempo do indivíduo fica dividido diminuindo consideravelmente sua presença em família. Em tese a aposentadoria o tempo para estar com a família retorna, porém esta família não é mais a mesma. Outras famílias foram construídas, os filhos cresceram, foram morar com as famílias que construíram ou foram estudar fora, alguns entes já não estão mais presentes em virtude de falecimentos, outras pessoas foram incorporadas às famílias como os netos e os avós e assim por diante. É preciso que a família que está em casa aguardando a chegada deste aposentado saiba também que ele está em processo de adaptação a nova situação de atuação. Por este motivo orienta-se que as conversas em família sejam francas para que possa fluir a retomada de projetos “engavetados” que não foram possíveis de realizar por motivo de falta de tempo, como passeios em família, por exemplo.
 O tempo deve ser planejado também para que este aposentado não fique o tempo todo no ambiente da casa, pois a família não está acostumada com esta presença, podendo gerar alguns conflitos. O tempo deve ser planejado em relação a viagens, passeios, visitas, sem esquecer de incluir agora, a família. Algumas falas nos chamaram atenção como, por exemplo: “Meu filho me disse que agora pode terminar a faculdade, pois eu vou poder auxiliá-lo nos trabalhos”, “Minha filha me disse que agora já pode ter outro filho pois eu vou estar em casa para cuidar deles”, “Meu marido também vai se aposentar e eu não sei o que vamos fazer o dia inteiro juntos? Não estou mais acostumada com isso!”. Percebe-se que em alguns modelos de famílias, o tempo do aposentado já está sendo ocupado por alguns de seus membros, uma vez que já planejaram a própria vida em função disso. O palestrante orientou para que o futuro aposentado deixe as coisas claras no ambiente familiar em relação ao planejamento de seu tempo, fato este que somente diz respeito a ele. Sobre este tema foi  solicitado aos participantes que iniciassem uma conversa com seus familiares a respeito de como estão percebendo esta nova fase de vida do servidor.
O quarto encontro teve como foco de abordagem os temas: Processo de Aposentadoria e no segundo momento uma mesa redonda com o tema “Trabalho Voluntário”. Em relação à legislação referente ao processo de aposentadoria, convidamos um profissional responsável por este departamento no setor de Recursos Humanos da mesma instituição. Este profissional foi orientado para fornecer as informações mais solicitadas pelos participantes como: A Lei que rege as atuais regras de aposentadoria para o Serviço Público Estadual, tipos de aposentadoria, tempo de serviço, licença prêmio, perdas e ganhos monetários com a aposentadoria. Todas estas informações se fazem necessárias, uma vez que os modelos de aposentadoria podem diferir no todo ou em partes do Serviço Público Federal, Municipal e Privado.
O mediador informou sobre os procedimentos que devem ser adotados para requerer a aposentadoria. O tema foi bastante polêmico, pois cada um em particular tinha suas dúvidas em virtude das diversas modalidades de aposentadoria existentes no Serviço Público Estadual. Considerando que as Leis foram sendo modificadas no decorrer dos anos. Este tema foi recebido e concluído com bastante expectativa e satisfação sendo que o espaço ficou aberto onde cada um dos integrantes pudesse realizar seus questionamentos. Percebemos nas manifestações destes que, além de existir a expectativa da aposentadoria existe uma grande ansiedade em relação remuneração, pois ninguém quer se aposentar recebendo valores inferiores aos que já recebe normalmente.
Para Rodrigues (2009) “A confrontação com o vazio deixado pelas horas antes dedicadas ao trabalho e o tédio do tempo desocupado, o afastamento ou a perda de relacionamento social  com os colegas de trabalho, o medo do ócio, o papel social que a ocupação desenvolvida representava e a perda do reconhecimento que dela advinha e, ainda, as dificuldades de adaptação a um convívio mais extenso com a família, podem constituir um período de ameaça ao equilíbrio mental do indivíduo”. Sabe-se também que o modo de enfrentamento diante da necessidade de reestruturação da vida pode variar de indivíduo para indivíduo, não podendo então de forma alguma existir e ou, considerar generalizações.
Foi a partir deste pressuposto de Rodrigues (2009), que se deu início aos trabalhos do segundo momento do encontro com uma mesa redonda referente ao trabalho voluntário, atividade esta, já exercida por diversas pessoas em diferentes segmentos da sociedade. A mesa foi constituída por representantes de cinco instituições que oferecem trabalho voluntário e aos palestrantes foi solicitado que respondessem a duas questões específicas: Em que época (idade) da vida iniciou o trabalho voluntário e o significado deste. Cada integrante da mesa realizou sua explanação num tempo determinado por nós, para que, logo após as falas fosse aberto para questionamentos. Este momento da formação foi de grande emoção, tanto para os que assistiram como para os integrantes da mesa. Cada um falou com muita emoção do significado deste trabalho para sua vida e o quanto se sente realizado em fazê-lo. Ao final cada convidado se colocou à disposição para fornecimento de informações, bem como distribuição de materiais como folders, jornais, telefone para contato, sites, emails etc. Ainda neste momento, foi entregue aos participantes do evento uma folha contendo todos os dados de cada instituição para que, se houvesse interesse em iniciar um trabalho desta natureza, o contato estaria com cada um.
O trabalho voluntário, como outro projeto que se possa pensar para após a aposentadoria se constitui para os participantes desta formação, uma visão de que é possível trabalhar de maneira a preencher o tempo indo de encontro ao outro que muito necessita de nossas habilidades adquiridas ao longo da vida. Isso pode ser realizado ocupando o tempo de forma planejada e consciente para não fazer deste trabalho uma obrigação e tomar todo tempo do aposentado. Desta forma foi informado também que todas estas instituição realizam o trabalho organizado na forma de escalas de trabalho para justamente não sobrecarregar os voluntários que necessitam de tempo livre, pois afinal, já cumpriram com sua parcela para o mercado de trabalho. Ainda, neste tema, foi sugerido pelos palestrantes que, caso a pessoa tenha intenção de realizá-lo em instituição hospitalar, que estão não seja a mesma que se aposentou, pois acaba por confundir as pessoas e surgem os questionamentos: “Você não tinha se aposentado? O que está fazendo aqui?”; “Você está com algum parente internado aqui?”; “Olha só, se aposentou, não aguentou ficar em casa e pediu para voltar!”. Comentários deste tipo levam o servidor a constantes explicações de sua função na instituição e isso passa ser desgastante e desnecessário, uma vez que é muito importante conhecer a realidade de outras instituições, outras pessoas, outros grupos e, principalmente outras demandas sociais.
O quinto e último encontro foi contemplado com os temas: autorealização, autoestima e sexualidade, Mesa Redonda tendo como convidados funcionários que já estavam aposentados para prestarem seus depoimentos referentes ao processo de aposentadoria e como se sentiam atualmente. Foi neste encontro que ocorreu o fechamento do evento e realização da avaliação do mesmo. Este encontro teve inicio com a colocação de um espelho na porta de entrada da sala de treinamento, sendo que todos os  integrantes tinham a oportunidade de visualizar-se antes de entrar na sala. Após todos estarem em seus lugares foi questionado aos presentes que relatassem sobre o que observaram refletidos no espelho. As respostas foram bastante diversificadas entre elas algumas que mais chamaram atenção como: “Percebi como o tempo passou!”; “Percebi que estou envelhecendo!”; “Percebi que meu jaleco está muito comprido!”.
As conversações foram variadas, porém, observamos que nenhuma delas se referia a si próprio de uma forma positiva, pois a maioria das falas apenas se referiu os aspectos externos devido à dificuldade e/ou resistência das pessoas em falarem de si próprias. A importância para que estes encontros de reflexão aconteçam é fundamental para que as pessoas possam perceber que não estão sozinhos e que existem outros em situação semelhante. A socialização das emoções faz com que as pessoas percebam que estas são comuns a todos. Em contra partida, falar sobre si, sobre o que pensa e desejam, como, projetos, sonhos, angústias, medos entre outros, é parte integrante do ser humano e em especial deste momento da vida e que esta formação se propôs a realizar. Foi proporcionado espaço para integração das discussões a respeito do tema inerente, desta forma, cada integrante pode se posicionar sobre suas emoções. O indivíduo precisa estar bem consigo e estar bem psiquicamente é sinônimo de saúde mental ou seja, qualidade de vida.
Partindo deste pressuposto, para Rodrigues (2009), “Qualidade de vida envolve bem estar no domínio social, saúde física no âmbito da medicina e satisfação no domínio psicológico”. Para esta autora, qualidade de vida diz respeito à maneira pela qual o indivíduo interage com o mundo externo, através de sua individualidade e subjetividade, ou seja, a maneira como o sujeito é influenciado e como influencia sue ambiente. Esta influência foi observada quando ouvimos frases como: “Ainda bem que não estou sozinho nesta...”; “Pensei que só eu estava sentindo isso!”, “Agora me sinto mais tranquila e aliviada...”.  Desta maneira, para que o pré aposentado possa refletir sobre sua futura condição, é necessário refletir também sobre que tipo de qualidade de vida pode-se proporcionar a estes servidores ainda enquanto estão desempenhando suas funções. Constata-se que muitos servidores encontra-se com baixa autoestima e de certa forma concordando com Rodrigues (2009), onde relata que “a aposentadoria é frequentemente vivenciada como a perda do próprio sentido da vida”, pois ao valorizar apenas aqueles que produzem, segundo Santos (1990), “deprecia-se o sujeito aposentado”. E isso surge de forma muito intensificada pelos altos índices de depressão, suicídio e alcoolismo. Mesmo observando que no Serviço Público Estadual a média de idade das pessoas que se aposentam é bastante reduzida, os índices dos sintomas anteriormente apresentados são significativos.
Assim, deve-se pensar em ações conjuntas e direcionadas à qualidade de vida do servidor aposentado e, para tanto, se faz necessário compreender o significado de se aposentar. Qual o significado deste termo para cada pessoa e para sua vida? Ainda, as discussões também necessitam esclarecer aos participantes deste evento que o processo de aposentadoria faz parte do processo de trabalho e que ele se constitui dia após dia de trabalho e não somente quando falta pouco tempo para a aposentadoria.
O tema que deu sequência a estas reflexões foi “Sexualidade”. O mesmo foi discutido de forma bastante madura e esclarecedora. A palestrante enfatizou como algumas doenças podem influenciar no desempenho sexual e que é pontual, a busca por esclarecimentos e tratamento é necessário, pois a sexualidade é própria de todo ser humano e as doenças são inerentes a esta. Foi esclarecido sobre as mudanças do corpo em relação aos ciclos da vida, como gestação, menopausa, andropausa e que o amadurecimento trás muitas vantagens para o indivíduo que agora não precisa mais se cobrar tanto como anos atrás, pois se conhece e conhece melhor seu parceiro. O momento da aposentadoria é também de reflexão neste campo, pois agora existe mais tempo para estar com a outra pessoa uma vez que um bom desempenho sexual pode ser alcançado em qualquer idade, tanto para mulheres quanto para os homens.
Várias falas surgiram bem como questionamentos tais como: “Agora não temos mais desculpas em dizer que estamos cansadas”; “Que desculpa agora, eu vou inventar para o meu marido?”. Observam-se com isso muitos relacionamentos desgastados pela rotina do dia a dia e pelo afastamento pelo desempenho de funções de trabalho. Foi orientado para que iniciassem conversas com seus parceiros em relação a este tema, uma vez que ter uma vida sexual equilibrada e ativa é bem estar. Para concluir um dos participantes comentou: “Minha mulher que me aguarde!”. Durante o intervalo, a conversa era sobre o tema sexualidade, todos tinham algo a relatar. Com isso percebemos que o tema é atual e que foi internalizado pelos participantes de forma unânime. Após o intervalo, retornamos ao local do evento e iniciamos a mesa redonda que foi constituída por cinco servidores da instituição, já aposentados. Solicitamos que cada servidor relatasse como foi seu processo de aposentadoria e como está se sentindo atualmente.
O tempo foi determinado para cada fala, uma vez que seria aberto para questionamentos após as falas. Cada participante comentou sobre como foi seu desligamento da instituição e as consequências deste fato para sua vida. Nenhum deles recebeu orientações e nem fez parte de qualquer reflexão a respeito do tema aposentadoria, relatando que  ainda hoje sente falta do trabalho, dos colegas e da própria rotina institucional. Três integrantes encontraram uma forma de estar sempre em contato com a instituição, ou seja, iniciaram uma atividade comercial onde revendem produtos, comparecendo à instituição pelo menos duas vezes ao mês.
Um dos momentos mais interessantes deste dia foi a alegria dos convidados em estarem contribuindo com este evento e agradeceram pela iniciativa. Fala como: “Se eu tivesse feito este curso talvez eu não tivesse ficado doente...”. A alegria recíproca dos convidados aposentados com os funcionários que estão para se aposentar foi muito expressiva. Todos queriam se cumprimentar e ficaram felizes em rever os colegas que a tempo não reviam. As falas foram bastante diversificadas e cada um contribuiu consideravelmente, principalmente com dicas e conselhos para os que estão a caminho da aposentadoria. A ocupação do tempo é muito importante, pois a pessoa se sentindo produtiva constrói novos laços de relacionamentos e não se sente tão sozinho, abandono e improdutivo. Em relação ao sentimento de abandono, a Revista Ciência de Profissão  traz uma reportagem que tem como título: “O preparo para o fim da carreira”, onde
[...] após anos de trabalho, de um dia para o outro tudo muda. “No dia seguinte à festa de despedida, a pessoa não levantará da cama com a cabeça ocupada com as tarefas do trabalho, não terá recompensas nem reclamações externas ao ambiente doméstico, não haverá a mesma rotina. a Revista Ciência de Profissão (n. 5, dez, 2007, p. 49).
 É esta sensação que a maioria dos integrantes desta formação está sentindo, observada também na grande procura por uma formação específica, como esta. Parar completamente e se dedicar a alguma atividade pessoal, normalmente postergada em função dos afazeres com o trabalho são duvidas constantes e a psicologia pode contribuir de forma significativa esclarecendo sobre as emoções do indivíduo neste momento da vida.
É preciso que o aposentado reflita no sentido que o trabalho irá adquirir após a aposentadoria e que seja promovida reflexão sobre como pretende se desenvolver nessa nova fase. A psicologia tem muito a contribuir neste sentido, no trabalho realizado nas organizações, como na clínica e nas instituições educacionais. Não podemos deixar de considerar que além da psicologia o trabalho precisa ser realizado de forma multidisciplinar, pois cada profissional relacionado ao cuidado com o outro tem algo a contribuir para que o mesmo se sinta melhor, promovendo a saúde e o bem estar do novo aposentado.

Considerações Finais

Pensar e colocar em prática uma formação reflexiva sobre a preparação para a aposentadoria é de fundamental importância, por considerar que o objetivo principal deve ser de criar condições concretas, de maximização do enriquecimento pessoal. Desta forma, uma formação pensada nestes moldes é fundamental, no sentido de prevenir que a ausência de planejamento cause possíveis conflitos emergentes com o término da atividade laboral. Devemos orientar os futuros aposentados que as possibilidades de ação não se esgotam com o fim da rotina de trabalho e sim, segundo Rodrigues (2009), “A partir desses elementos, torna-se possível a construção da díade qualidade de vida e aposentadoria”. Por este ângulo concordamos com a autora e acreditamos na contribuição da psicologia no sentido de ousar em suas funções dentro da organização criando programas de qualidade de vida já no ambiente de trabalho, para que ao aposentar-se este funcionário possa sentir-se emocionalmente bem.
Os palestrantes, na avaliação dos participantes deste evento receberam notas que variaram entre 8,0, 9,0 e 10,0, concluindo assim que por ser um primeiro evento, as escolhas dos ministrantes foram considerada acertiva de nossa parte, pois cada um dentro de sua especialidade conseguiu atingir os objetivos propostos que foi a conscientização acerca de todos os momentos que fazem parte do processo de aposentadoria. Em relação ao local do evento, a avaliação foi unânime na nota 10,0, o que nos deixou bastante satisfeita, pois os equipamentos tecnológicos que estavam a disposição para o evento também em boas condições de uso, o que favoreceu para que todos os palestrantes iniciassem e concluíssem suas falas no tempo estipulado. Em nossa opinião, o espaço deveria proporcionar condições para trabalho em círculo, o que não foi possível, devido ao grande número de cadeiras para acomodar os participantes, fato este que será observado no próximo evento.
Em relação às sugestões foram observadas as que seguem: Mais cursos, com a mesma dinâmica deste; Este curso deveria proporcionar mais encontros; Carga horária maior; Mais representantes de trabalhos voluntários que não sejam da área hospitalar; Maior enfoque no tema “depressão após aposentadoria”; Que o curso seja realizado a cada seis meses. Todas estas sugestões estão sendo avaliadas pela equipe da Instituição Promotora, da Secretaria de Estado da Saúde bem como a nova programação do conteúdo a ser ministrado no próximo evento. Como o setor de Recursos Humanos elabora uma escala de eventos anual, e são muitos os cursos ministrados nesta instituição, a sala de treinamento (que é apenas uma), também passa por esta escala, por este motivo este evento será ministrado apenas uma vez no ano de 2010. Como ponto negativo do evento, foi destacado que foram poucas horas de curso, devendo estender-se pelo menos ao dobro, ou seja, 40h/a.
Ousamos na criação deste programa de formação dentro da Secretaria de Estado da Saúde e conseguimos alcançar os objetivos iniciais, bem como na avaliação do evento realizado pelos participantes, obtivemos consideráveis sugestões e elogios, que serão colocados em prática neste ano de 2010. Nossa avaliação sobre este evento sobressai às expectativas iniciais, onde pensávamos que a participação não seria tão intensa por parte dos servidores, uma vez que estes buscam cursos, para progressão funcional basicamente. Chamou atenção, o fato da participação efetiva por parte dos integrantes, nas reflexões e nas dinâmicas de grupo. Observamos com significativa clareza, que todos em sua subjetividade estão sofrendo um processo transformador em sua vida e que dividir isso com os demais foi muito importante para cada um em particular. É assim que acreditamos na Psicologia que faz refletir e que promove transformações nos indivíduos, a partir de sua subjetividade.

Sobre o Autor:

Referências:



Fonte: http://artigos.psicologado.com/atuacao/psicologia-organizacional/vou-me-aposentar-e-agora-papel-do-psicologo-frente-ao-desafio-de-desenvolver-uma-formacao-reflexiva-para-o-momento-da-aposentadoria#ixzz2AhwI5710 
Psicologado - Artigos de Psicologia 
Siga-nos: @Psicologado no Twitter | Psicologado no Facebook

INDISCIPLINA INFANTIL E SINTOMATOLOGIA DO TDAH





Indisciplina Infantil e Sintomatologia do TDAH: Uma Identificação

Avalie este artigo:
Resumo: Atualmente muito se tem discutido a respeito de assuntos ligados a indisciplina infantil e o TDAH, muitas vezes havendo uma confusão e até mesmo tratado como se fosse a mesma coisa. É frequente crianças serem constantemente rotulados por professores, colegas, e até mesmo pelos pais de rebeldes, mal-educados, indisciplinados, burras, preguiçosas... Por apresentarem uma atenção dispersa, impulsividade, desorganização, impaciência, dificuldade de aprendizagem e de relacionamento. Comportamentos como esses, dependendo da intensidade e frequência, são característicos do transtorno do déficit de atenção/hiperatividade (TDAH), popularmente conhecido como hiperatividade, classificada pela associação de Psiquiatria Americana (APA).   Um diagnóstico incorreto pode acentuar ainda mais os prejuízos causados. Diante do exposto, acredita-se ter relevante importância a identificação do TDAH através de suas sintomatologias, por estudantes e pesquisadores como objeto de estudo, a fim de sanar maiores complicações no decorrer do desenvolvimento infantil.  
Palavras-chave: Indisciplina, TDAH, Desenvolvimento infantil.

Introdução

É comum crianças possuírem comportamentos inadequados que causam a insatisfação dos pais e responsáveis. Essas crianças normalmente são vistas e rotuladas como: mal-educadas, teimosas e inquietas, na maioria das vezes esses comportamentos influenciam diretamente no convívio social e escolar da criança. Crianças com dificuldades em convívio social e escolar têm seu processo de aprendizagem comprometido por diversos fatores. Por ser a primeira etapa da vida em que é cobrado algo de forma mais rigorosa das crianças, na alfabetização é que são percebidos os desvios de comportamentos das crianças. Diante da não aprendizagem da criança, os pais e responsáveis procuram explicações para os comportamentos inadequados e se utilizam de métodos para reparar essa falha no processo, mas infelizmente na maioria das vezes os pais deixam de procurar um profissional para diagnosticar se há ou não uma patologia e para buscar a solução ou amenização dos sintomas.
Há dois motivos para que uma criança tenha baixo rendimento escolar e se comporte de forma impulsiva sem se prender a regras e normas da família e sociedade: essa criança pode ser portadora de Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade ou ser indisciplinada. O TDAH é uma patologia que se caracteriza por uma alteração no lobo frontal, causada por fatores externos ou genéticos, enquanto que a indisciplina é uma falha cometida por pais, responsáveis e educadores, que por algum motivo não conseguem submeter às crianças ás regras e normas sociais. Para que a criança não tenha seu futuro comprometido é preciso que ela seja encaminhada a um profissional que a avalie e faça um diagnostico indicando se o motivo de seu comportamento inadequado é patológico ou não (TDAH ou indisciplina). Esse diagnóstico exige muita cautela, pois os sintomas dos dois problemas são bastante semelhantes.

 O Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade-TDAH

O TDAH é um transtorno neurobiológico, resultante de uma alteração do lobo frontal esquerdo, sendo a área do cérebro que conduz o comportamento do ser humano. É também neste campo do cérebro que se cruzam sistemas neurais ligados à razão, ações, regulagem da velocidade e a quantidade de pensamentos. Essa alteração no funcionamento do cérebro é provocada pelo baixo nível de dois neurotransmissores, a dopamina e a noradrenalina; resultando numa eficiência menor de alteração mínima na ação filtrante do lobo frontal (ROHDE, 1999).
O TDAH aparece na infância e segue o indivíduo por toda a vida. Segundo Silva (2009, p. 23 apud ROGAR, 2009) “ninguém adquire TDA ao logo da vida. Quem tem o transtorno já nasceu com esse tipo de funcionamento cerebral”.
Portanto estamos diante de uma disfunção crônica inata, herdada na maioria das vezes, visto que a genética tem um papel importante nesta alteração. Todavia não se pode excluir os fatores externos que interfere na evolução do transtorno, como a nicotina de cigarro, bebidas alcoólicas consumidos pela mãe ainda gestante podem causar anormalidade na região frontal do cérebro do feto, traumas obstétricos, rubéola intra - uterino, encefalite e meningite pós - natal.
Os portadores de TDAH não têm problema de inteligência, ao contrário são inteligentes, criativos e intuitivos, porém apresentam dificuldades em administrar o tempo, fixar a atenção e dar continuidade ao que inicia, não conseguindo realizar todo seu potencial em função do transtorno que se caracteriza em três principais sintomas: desatenção, impulsividade e hiperatividade. Conforme Rogar (2009, não paginado) “a mente de um TDA funciona como um receptor de alta sensibilidade que, ao captar um pequeno sinal, reage automaticamente sem avaliar a característica do objeto gerador do estimulo”.
Desta forma observam que os TDAHs reagem a pequenos estímulos com grandes emoções, falando o que vem a mente, se os comportamentos dos TDAHs não forem compreendidos e bem administrados por eles e pelas pessoas com quem convive, poderão ocasionar diversas formas de agir assim como; agressividade, descontrole alimentar, uso de drogas, gastos demasiados etc., percebe-se então que este tipo de ação faz parte dos atos impulsivos.        
 Assim é necessário que os TDAHs aprendam a controlar ou redirecionar seus impulsos para usufruir de uma vida com qualidade. Segundo Mello (2003, não paginado) “a importância de se fazer o diagnóstico na infância se deve ao fato de que o tratamento minimizará os comprometimentos sociais, escolares e familiares [...]”.
Para identificar o transtorno deve-se consultar um médico para que seja analisado o histórico clínico, realizar avaliações de exames complementares, tais como exames de sangue, avaliação da visão e audição, exames neurológicos e de imagens para descartar diagnósticos diferenciais e em seguida seja encaminhado a um psicólogo para uma analise detalhada do caso e aplicação de testes.
Conforme a CID-10 (F90.0, perturbações da atividade e atenção) e o DSM-IV-TR(2002) para haver um diagnostico de TDAH o paciente tem de apresentar claras evidencias de prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, acadêmico ou ocupacional; os sintomas não devem ocorrer exclusivamente durante o curso de um dos transtornos invasivos do desenvolvimento; e o mesmo precisa evidenciar seis ou mais dos seguintes sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade, os quais persistiram por pelo menos seis meses, em grau mal-adaptativo e inconsciente com o nível de desenvolvimento (CID-10, 2011):
a) Desatenção
  • Em geral deixar de prestar atenção a detalhes;
  • Com frequência tem dificuldades para manter a atenção em tarefas;
  • Parece não ouvir quando lhe dirigem a palavra;
  • Não segue instruções e não termina seus deveres;
  • Tem dificuldade para se organizar;
  • Reluta com frequência a engajar-se em tarefas que envolva esforço mental;
  • Constantemente perde coisas necessárias para tarefas;
  • É facilmente distraído por estímulos alheio à tarefa; e.
  • Frequentemente apresenta esquecimento em atividades diárias.
b) Hiperatividade
  • Frequentemente agita as mãos e os pés ou se remexe na cadeira;
  • Em sala costuma abandonar sua cadeira ou em outras situações que exige que o mesmo permaneça sentado;
  • Constantemente corre ou escala em demasia, em situações nas quais isso é inapropriada;
  • Tem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazer;
  • Está todo tempo a mil, ou age como se estivesse a todo vapor; e
  • Fala demasiadamente.
c) Impulsividade
  • Precipita-se em responder perguntas, ates de seu termino;
  • Tem dificuldade para aguardar a sua vez;
  • E sempre interrompe ou se mete em assuntos de outros;
  • Alguns dos sintomas já estavam presentes antes dos sete anos de idade;
  • Os prejuízos causados pelos sintomas estão presentes em dois ou mais situações.
Tendo o diagnóstico de TDAH, deve-se começar imediatamente o tratamento, que normalmente é combinado de auxilio psicológico de fármacos. No Brasil o medicamento mais comum é a Ritalina (essa tem duração de 4 a 6 horas, e seu uso é por toda a vida); porem usa-se também o Metilfenidato, a Imipramina, a  Nortriptilina, a Bupropiona e a   Clonidina (ROHDE, 1999).
O tratamento e a medicação são partes importantes aos TDAHs, pois ajuda na concentração. Pais, professores e o próprio portador deve ser orientado com técnicas especificas para amenização do comportamento.  Cerca de 80% dos casos, a medicação ajuda os TDAHs a  reduzir, a impulsividade e a agitação (TEIXEIRA, 2006). Atualmente a terapia cognitiva comportamental é a melhor indicação para o tratamento na obtenção de bons resultados, pois ela trabalha com a psicoeducação dos pacientes e dos que os rodeiam. Os TDHs aprendem sobre seu transtorno e assim conhecem métodos e técnicas para lidarem melhor com sua impulsividade e com os demais sintomas.
 É de suma importância que os profissionais pedagogos conheçam técnicas que venha a auxiliar os alunos com TDAH a ter um melhor desempenho em sala; e alguns casos em especial é necessário ensinar técnicas específicas para minimizar as suas dificuldades, pois se o transtorno não for diagnosticado e tratado corretamente ainda na infância pode gerar significantes danos na vida do indivíduo  como na vida profissional, social, pessoal e afetiva, podendo ocasionar co-morbidades como: ansiedade generalizada, pânico, fobia, depressão, etc.

A Indisciplina

A palavra disciplina relaciona-se com o vocábulo “discípulo”, “aluno”. É mostrar os confins entre certo e errado, os valores os limites; desta forma indisciplina vem de desobediência, desordem e rebelião. Essas faltas de limites competem às fronteiras que demarcam o que é permitido fazer ou não; obsecrado pelos pais. “Portanto, cada vez que os pais aceitam uma contrariedade, um desrespeito, umas quebras de limites, estão fazendo com que seus filhos não compreendam e rompam o limite natural para seu comportamento em família e em sociedade” (TIBA 1996, p. 16). 
Problemas disciplinares aparecem em casos de um contexto familiar desestruturado onde não há imposição de limites ou regras, surge também em momentos de conflitos familiares ou ainda pelo fato da criança não conseguir lidar com determinadas situações. “As crianças aprendem a comportar-se em sociedade ao conviver com outras pessoas, principalmente com os próprios pais. A maioria dos comportamentos infantis é aprendida por meio da imitação, da experimentação e da invenção” (TIBA 1996, p. 15). Portanto se em casa ela tem bons exemplos ela terá um bom convívio com a sociedade, mas caso essa criança sentir-se “excluído” de alguma forma pela família, ela poderá se adequar à atitude indisciplinada, como forma de chamar a atenção dos demais.
Em situação cujos pais são separados; os mesmos costumam depositar um no outro a responsabilidade de educar os próprios filhos, gerando complicações diversas na personalidade da criança, que nem sempre é atendida, convenientemente, as carências da mesma; acarretando na colaboração de um comportamento rebelde, devido aos atos tratados, desrespeitosamente frente a estes, com brigas infindáveis, ódios, disputas judiciais, desejo de vingança, etc.
Por conta dessa atitude irresponsável, a televisão assumiu na atualidade o papel de companheira e educadora de muitas de nossas crianças e jovens, que passam mais tempo assistindo a programas sem nenhum conteúdo moral e quase sempre recheados de pornografia e violências, do que em sala de aula ou com atividades úteis à formação de seu caráter como membro ativo da nossa sociedade (Rebouças, 2004).
Crianças com problemas de disciplina tendem a ter comportamentos irritantes, agressivos, de mau humor, impulsivo, entre outros, comportamentos esses que fazem a sociedade rotulá-las como indisciplinados. Outros motivos que podem levar a essa indisciplina infantil é a instabilidade e sofrimento emocional. TIBA (1996) conclui que filhos precisam de pais para ser educados, alunos precisam de professores para ser ensinados. “Sem a educação dada pelos pais à criança não cumpre o seu dever como aluno. Como aprender sem ser educado para isso?” (Oliveira, Ricardo Augusto A de.).Não se pode esperar, o desejo de querer estudar chegar. Pois tal espera pode ser interminável e aterrorizante para os estudantes. 
Se a escola não apresenta um espaço motivacional ou não contribui para o desempenho escolar do aluno, e ele não encontra nem mesmo em si ou na família, estímulos e dedicação para o aprendizado; em sala será transposta as causas do seu insucesso e da sua inadaptação. Sendo que consequentemente se manifesta na forma de atos indisciplinares, como meio de escapar da sua realidade e inobservância das regras de hierarquia ainda não adquiridas pelo aluno. “Em contrapartida o professor, cuja função é orientar o processo de aprendizagem não pode se ocupar de um papel que não é seu. Até porque o trabalho realizado por ele não surtirá efeito se em casa os hábitos de educação não mudarem” (OLIVEIRA, 2010, não paginado).
Cabe aos responsáveis da instituição educacional, a escola, usar métodos como: advertência; encaminhamento aos pais ou responsáveis, mediante termo de responsabilidade; orientação e apoio, acompanhamento temporários, matrícula e frequência obrigatórias. Já os pais devem tomar medidas que favoreça a autonomia, sendo, inclusão em programa comunitário ou oficial de auxilio e orientação, à família, a criança e ao adolescente e requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico. “Observa-se então que a culpa da indisciplina escolar é múltipla e não pode ser atribuída apenas à família, mas a todo um conjunto de fatores, em especial a crise ética na sociedade neoliberal que vivemos”(OLIVEIRA, 2010).

Metodologia

Compôs o estudo 29 crianças de ambos os sexos, com idade entre 06 a 12 anos inseridas no ensino de 1ª a 4ª serie, de duas instituições. Para a obtenção dos dados, contamos com o auxilio de profissionais da Pedagogia, sendo 11 ao todo; os mesmos avaliaram seus alunos conforme os itens do questionário que compõe a Escala. A pesquisa ocorreu no município de Rolim de Moura nas instituições Priscila Rodrigues Chagas e Aluízio Pinheiro Ferreira.
O teste aplicado compete à Escala de Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, versão para professores; este consiste em um inquérito de questões fechadas, com alternativa de resposta de múltipla escolha, sendo: Discordo Totalmente (DT), Discordo (D), Discordo Parcialmente (DP), Concordo Parcialmente (CP), Concordo (C) e Concordo Totalmente (CT); elaborado em sua primeira versão com 58 itens, porem com a padronização denota apenas 49 itens, divididos em quatro partes, sendo, a primeira respondente à área de déficit de atenção, a qual contem 10 itens negativos (sabe trabalhar independentemente) e 06 positivos (se distrai facilmente por barulhos em sala de aula); a segunda parte compete a hiperatividade/compulsividade que contem 09 respostas positivas (mexe-se e contorce-se na carteira) e 03 negativas (parece uma criança tranquila); a terceira parte refere-se aos problemas de aprendizagem com 06 itens positivos (não rende de acordo com o esperado em português) e 08 negativos (é rápido para fazer cálculos); e a quarta parte, compreende ao comportamento anti-social o qual aponta 04 itens positivos ( os colegas da classe o evitam) e 08 negativos (possui muitos amigos).
Primeiramente foi solicitado aos responsáveis, pelas duas escolas estaduais (os diretores), que assinassem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, no qual foram explicados os motivos de nossa presença e os objetivos envolvidos. A coleta de dados se deu por meio de um questionário que compete a Escala de Transtorno de déficit de Atenção/Hiperatividade, o qual fornecemos pessoalmente aos pedagogos para que não houvesse duvidas em seu preenchimento. Os testes foram entregues nas próprias instituições de ensino. Para cada profissional da educação foram fornecidos no máximo cinco questionários de avaliação referente aos seus alunos.

Resultados e Discussão

Após a conclusão das aplicações dos testes, averiguamos as frequências e porcentagens de respostas nas quatro partes dos questionários respondidos pelos participantes da pesquisa envolvida  - os professores, como constam as Tabelas I e II.
De acordo com os dados puderam ser evidenciadas grandes porcentagens afirmativas em relação às questões estudadas na pesquisa, sendo que em todas as questões os sujeitos da amostra apresentaram maiores porcentagens positivas de dificuldade e desatenção do que TDAH como consta a Tabela de classificação dos pressentis no manual da Escala de Déficit de Atenção/Hiperatividade.

Tabela I. Itens positivos ao TDAH.
     
Áreas
Nº de Sujeitos
Percentil
Déficit de Atenção
24
76% a 99%
Hiperat./Comp
13
76% a 99%
Problem. de Aprend
23
76% a 99%
Comp. Anti-Social
18
76% a 99%

Tabela II. Itens negativos ao TDAH
Áreas
Nº de Sujeitos
Percentil
Déficit de Atenção
05
25% a 75%
Hiperat./Comp
16
25% a 75%
Problem. de Aprend
06
25% a 75%
Comp. Anti-Social
11
25% a 75%
Com os dados adquiridos referentes aos 29 candidatos que propusemos a analisar,  na tentativa de conhecer as atitudes destes  implicados, como sendo TDAHs ou Indisciplinados, diante da visão dos professores e que fogem das condutas normais comparadas, às demais crianças de sua faixa etária. 24 dos mesmos apresentaram requisitos de Déficit de Atenção resultantes em comprometimentos, pois 21 dos participantes evidenciam um percentil variante de 76 a 94%, acarretando em um quadro acima da expectativa, ou seja, elas encontram-se com mais problemas que a maioria das crianças, sendo que 03 crianças atingiram o percentil equivalente ao de 95%, revelando um possível transtorno.
 Assim, foi verificado que a maioria da amostra se prontificou, a favor do excesso de crianças agitadas em sala, conferente a indisciplina e a hiperatividade, sendo que quase todas as questões de TDA apresentaram em altas porcentagens de respostas afirmativas. Na área de hiperatividade/compulsividade, contivemos 13 crianças que persistiram acima da expectativa esperada; o equivalente a 9 das crianças, sujeitou-se a um percentil de 76 a 94%, interpretando assim, essas incidem a uma problemática que as diferem das outras crianças, 04 se encontram em um quadro severo de Hiperatividade/Impulsividade. Nesse sentido, a questão que dizia respeito a se avaliar a patologia não apresentou maiores porcentagens de respostas afirmativas, seguida pela questão relacionada a identificá-la. Nesse contexto, os resultados da pesquisa vêm a ser supérfluo, pois não tem como rotular as crianças como sendo portadoras do TDAH, já que o teste foi realizado apena com os professores, mais conforme a escala pode se dizer que as crianças que contiveram alta nos pressentis, apresentam-se no momento sintomas que merecem ser acompanhados por um especialista. Já aludindo Problemas de Aprendizagem observados; 23 dos sujeitos sobressaíram a media da escala, visto que 19% estão acima da expectativa e 04% emergiram a probabilidade de Transtorno.
Quanto ao fator Comportamento Anti-Social, 18 dos analisados encontram-se com percentil entre 76 a 94%, os quais 13 conferem acima do esperado e 5 alude a um severo Comportamento Anti-Social, com gradativa possibilidade de transtorno.
A presente pesquisa corrobora os achados de antes divulgados como projeto, o qual se conclui o alto grau de indisciplina na infância, que nada mais é que a falta de limites estabelecidos pelos pais, os quais não se sentem na obrigação de educá-los e depositam esta imensa tarefa em terceiros como os professores, por exemplo. Neste contexto o auxilio dos profissionais pedagógicos, fora mais que importante. Segundo Rebouça (2004) “a formação moral é normalmente relegada a segundo plano ou transferida para a escola, como se a escola tivesse a capacidade de substituir o papel de nós pais, na formação moral de nossos filhos [...]”.

Conclusão

Com base nos estudos realizados percebe-se o quando é importante uma diferenciação rápida e eficaz entre a indisciplina e a patologia TDAH, um diagnostico correto é fundamental para o desenvolvimento social, cognitivo e afetivo da criança, uma vez que o não tratamento correto pode vir a comprometer gravemente o dia-a-dia da criança em ambos os casos.
Assim é relevante a participação da família como apoio aos profissionais que tomaram a frente de um diagnostico e posteriormente o inicio de um tratamento adequado. Para que se possa afirmar que uma criança é portadora ou não de TDAH é preciso que seja feita uma investigação detalhada sobre os diversos ângulos da vida do paciente e também que sejam aplicados testes, o mais indicado e utilizado por nós foi a Escala de Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade, porém com testes isolados não se pode simplesmente diagnosticar os alunos os quais apresentaram altos pressentis, pois mesmo sendo um teste preciso, a Escala de Transtorno de Déficit de Atenção/ Hiperatividade, necessita de mais suportes para se diagnosticar, ou seja, é essencial a utilização de outros testes como o WISC, COLUMBIA, SNAP-IV, e a própria Anamnese, pois essa forneceria informações adequadas sobre o convívio das crianças, e uma identificação para a distinção da indisciplina mais verídica.


Fonte: http://artigos.psicologado.com/psicopatologia/transtornos-psiquicos/indisciplina-infantil-e-sintomatologia-do-tdah-uma-identificacao#ixzz2Ahu8AOvK 
Psicologado - Artigos de Psicologia 
Siga-nos: @Psicologado no Twitter | Psicologado no Facebook