terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Gestão de Pessoas - Gestão de si mesmo

AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM AINDA É BICHO PAPÃO - PES PROJETOS EDUCACIONAI...

Gestão baseada no desempenho

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6 DICAS PARA AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO

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A estressante tarefa de escolher e a Estratégia do Oceano Azul


A estressante tarefa de escolher e a Estratégia do Oceano Azul

O que as empresas precisam começar a pensar é se a estratégia de oferecer uma gama enorme de produtos, que servem mais ou menos para a mesma coisa, será a melhor estratégia daqui para frente

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O progresso é bom e ninguém duvida disso, ou você prefere viver 36 anos, conforme era a expectativa de vida há 150 anos? O progresso traz consigo um aumento exponencial nas opções de consumo. Há exatos 120 anos era produzido o primeiro Ford, todos os veículos então fabricados eram padronizados e pretos e hoje temos uma enormidade de opções, cores, formatos, acessórios, etc.
O velho problema da escassez de opções deu um giro de 360 graus e se transformou no seu inverso, isto é, no excesso de opções. No supermercado, por exemplo, passei a fazer um tipo de meditação para tentar não ficar estressado, conforme o carrinho vai enchendo. São muitas opções de produtos! Não sou especialista em todos eles, para saber qual é a melhor escolha entre um e outro. E a possibilidade de fazer uma escolha errada me estressa.
Como vou saber a diferença entre um amaciante de roupas e outro? Pela maciez de minhas calças? E se a diferença na maciez entre uma e outra for causada pela diferença no tipo de tecido? Vou ter que saber qual o tipo de amaciante para cada tipo de tecido? Ah, para né!
Devo confessar que passar batido por produtos e principalmente marcas que você sempre compra é um tanto esquisito porque, durante o processo, você começa a se questionar o porquê de sempre ter comprado aquele produto, aparentemente igual aos seus concorrentes, por um preço mais caro e sem saber a diferença entre eles. O mais cômico é que daí você começa a se justificar mentalmente: "ah, mas ele é bom vai, marca tradicional...".
custo-benefício
Bom, e daí? E daí que a ação óbvia, direta e simples para a escolha de um produto ou serviço me parece ser esta: Ou sei exatamente o benefício do mais caro ou compro o mais barato! Logicamente que neste processo temos benefícios objetivos e subjetivos. Os benefícios objetivos nos levam a escolhas que, quando acertadas, são mais racionais e os subjetivos nos levam a uma escolha condicionada ao gosto pessoal, alimentado por todos os tipos de sentimentos e desejos que às vezes podem lhe impedir de tomar a melhor decisão entre custo e benefício.
Outro ingrediente importante e novo neste contexto é o advento das redes sociais e o acesso a todo tipo de informação necessária, que pode ser encontrada na Internet, sobre produtos e serviços. Os consumidores hoje em dia já podem até comparar produtos, durante o processo de compra, pelos seus dispositivos móveis. Teremos cada vez mais softwares que irão nos auxiliar no processo de tomada de decisão durante as compras, para que elas possam ser feitas do modo mais racional possível.
O que as empresas precisam começar a pensar é se a estratégia de oferecer uma gama enorme de produtos, que servem mais ou menos para a mesma coisa, será a melhor estratégia daqui para frente.
No livro campeão de vendas "A Estratégia do Oceano Azul", os autores, Chan Kim e Renée Mauborgne, nos mostram que, para as empresas sobreviverem nos mercados cada vez mais competitivos, elas terão que mesclar as estratégias de baixo custo, de diferenciação e de foco ao invés de usá-las separadamente.
estratégia-oceano-azul
Há um exemplo bem claro de como, às vezes, o excesso de opções, com escassez e complexidade de informações, podem levar as empresas a competirem cegamente em mercados saturados, diminuindo suas margens e tendo maior dificuldade nas vendas.
Um dos Estudos de Caso apresentados no livro mostra a vinícola australiana Casella Wines em sua difícil tarefa de conquistar maior participação de mercado no extremamente competitivo mercado norte-americano de vinhos, dominado pelas vinícolas da Califórnia, que respondem por dois terços do consumo, restando 1/3 para os vinhos importados da França, Itália, Espanha, Chile, Argentina e Austrália.
Ao invés de bater de frente com este mercado saturado, a Casella Wines decidiu criar o seu próprio mercado, oferecendo um vinho diferenciado e fora dos padrões. Para tanto, a empresa usou a matriz de avaliação de valor para tomar conhecimento dos atributos deste mercado e chegou a sete principais características:
  • Preço por garrafa de vinho;
  • Imagem de nobreza e refinamento na embalagem, com rótulos destacando os prêmios recebidos pelo produto e o uso de terminologia enológica sofisticada para salientar a arte e a ciência da vinicultura;
  • Fortes investimentos em marketing para capturar a atenção do consumidor num mercado extremamente competitivo e para estimular os distribuidores e varejistas a destacar determinada casa vinícola;
  • A qualidade de envelhecimento do vinho;O prestígio e o legado do vinhedo (daí os apelos a mansões e a castelos, assim como às referências históricas do estabelecimento);
  • A complexidade e a sofisticação do sabor do vinho, inclusive aspectos como a intensidade do conteúdo de tanino e a qualidade dos tonéis de carvalho;
  • O espectro diversificado de vinhos, para cobrir todas as variedades de uvas e de preferências dos consumidores, abrangendo nomes de Chardonnay a Merlot.
Como bem observaram os autores, estas características são importantes aos olhos de consumidores bem informados e conhecedores do assunto. Mas para um leigo, que não tem costume de beber vinho, será que são importantes?
O caso nos mostrou que de fato elas não são. Enquanto que os vinhos Premium competem em uma estratégia de diferenciação e os populares em uma estratégia de baixo custo, a Casella Wines juntou as duas estratégias e lançou no mercado um vinho diferente e barato, saindo de um mercado concorrido para outro alternativo.
Com o lançamento do [yellow tail], a empresa não entrou na briga dos extensos rótulos e tipos diferentes de uvas e combinação de envelhecimento e expandiu seu mercado para além dos apreciadores tradicionais de vinhos, conquistando também os consumidores de cervejas e coquetéis prontos. Isso foi confirmado através de pesquisa, que apontou que a maioria dos americanos adultos consideram vinhos intimidantes, pretenciosos e com um sabor cuja complexidade representava um desafio para a maioria das pessoas.
yellow-tail
Para chegar à receita de sucesso, a Casella Wines recorreu ao Modelo das quatro ações desenvolvido pelos autores, que consiste de quatro perguntas-chave:
  • Que atributos considerados indispensáveis pelo setor devem ser eliminados?
  • Que atributos devem ser reduzidos bem abaixo dos padrões setoriais?
  • Que atributos devem ser elevados bem acima dos padrões setoriais?
  • Que atributos nunca oferecidos pelo setor devem ser criados?
A primeira pergunta força a empresa a considerar a eliminação de atributos de valor que há muito tempo servem de base à concorrência no setor. Às vezes, os atributos valorizados pelos consumidores mudam completamente, mas as empresas que se empenham em imitar umas às outras acabam não percebendo isso.
A segunda pergunta força a empresa a examinar se existe excesso nos atributos dos produtos e serviços oferecidos, no esforço de imitar e superar a concorrência. O que ocorre aqui, é que as empresas acabam prestando serviços ou incluindo características nos produtos muito além daqueles levados em consideração pelos compradores, elevando os custos e consequentemente os preços desnecessariamente.
Já a terceira pergunta leva a empresa a identificar e a corrigir as limitações que o setor impõe aos clientes e a quarta pergunta ajuda a empresa a descobrir fontes inteiramente novas de valor para os consumidores, buscando desenvolver novas demandas e mudar a estratégia de preços do setor.
Como resultado deste exercício, o [yellow tail] se desgarrou da concorrência ao criar um novo mercado, um oceano azul. Ao invés de se posicionar como um vinho, o novo produto entrou no mercado de bebidas sociais, mais acessível a todos, inclusive os apreciadores de cervejas e coquetéis, tendo a seguinte matriz, oriunda do modelo das quatro ações:
matriz
Como resultado de sua estratégia baseada no Modelo das quatro ações, o [yellow tail] despontou como a marca de mais rápido crescimento na história da indústria vinícola australiana e americana, além de se destacar como o vinho mais importado pelos EUA, ultrapassando os vinhos franceses e italianos e se tornando, em 2003, o vinho mais consumido por lá, deixando para trás os vinhos californianos.
Há inúmeros outros exemplos, vários aqui no Brasil, que podemos observar em diversos segmentos de mercado, já saturados, nos quais empresas se digladiam.
Ajude-me a destacá-los, deixando um comentário!

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É a biologia o que define o comportamento humano


IDEIAS DO MILÊNIO

É a biologia o que define o comportamento humano

Entrevista concedida pelo cientista Michael Shermer, ao jornalista Silio Boccanera, para o programa Milênio, da Globo News. O Milênio é um programa de entrevistas, que vai ao ar pelo canal de televisão por assinatura Globo News às 23h30 de segunda-feira, com repetições às 3h30, 11h30 e 17h30.
A tendência de muitas pessoas de seguir religiões, acreditar em Deus e em fenômenos sobrenaturais incomoda os participantes de uma entidade chamada sociedade dos céticos. Chefiada pelo norte-americano Michael Shermer que rejeita também superstições, astrologia, homeopatia e supostas curas milagrosas. Sherman edita o jornal do grupo Skeptic, ou cético, e mantém uma coluna regular na respeitada revista ScientificAmerican, onde argumenta em favor da ciência contra a fé, a superstição, a crença em fenômenos sem provas concretas. Apesar de ter começado a estudar Teologia na universidade e de ter sido um evangélico militante quando jovem, Sherman mudou de área e de postura filosófica quando se especializou em Biologia, Psicologia e História da Ciência. A implicância dele agora é com a recusa de muitos em usar a ciência, a lógica e a evidência dos fatos quando precisam explicar fenômenos que nos cercam, ou admitir que não sabem a explicação para um fato em vez de apelar para justificativas místicas, metafísicas ou sobrenaturais, ao estilo do homem das cavernas diante do trovão ou do raio. Sherman mora e dá aula na Califórnia. Viaja pelo mundo para discutir e divulgar suas ideias. Esteve no Brasil a convite da organização "Fronteiras do Pensamento" para dar palestras em Porto Alegre e São Paulo. Na ocasião, lançou em português dois de seus livros e recebeu o Milênio para uma conversa que, apesar do tema sério, não perdeu um tom de bom humor.
Silio Boccanera — Você acha que as pessoas têm uma tendência natural aceitar maiscrenças religiosas superstições do que ciência as provas do que realmente existe?
Michael 
Shermer — Com certeza. Nosso cérebro foi feito para acreditar em tudo que ouvimos, vemos ou encontramos. O padrão do nosso cérebro é acreditar em tudo, por via das dúvidas. O experimento que eu fiz, que está no meu livro: imagine que você é um hominídeo nas planícies africanas há 3,5 milhões de anos. Você tem o cérebro pequeno de um australopiteco, seu nome é Lucy, e você ouve um barulho na grama. É um predador perigoso ou apenas o vento? Se você acha que é um predador perigoso, mas acaba sendo apenas o vento, você comete um erro de tipo 1, um falso positivo em que você está errado, mas não é prejudicado. Mas, se você acha que é o vento, e acaba sendo um predador perigoso, você vira o almoço. Você entra para o clube de Darwin dos seres que saem de circulação antes de se reproduzir. Então, nós somos descendentes desses indivíduos que cometem esse erro de falso positivo de tipo 1.
Silio Boccanera — Seu colega ateu Richard Dawkins, que já foi convidado neste programa,disse que religião é algo tão ruim que deveríamos nos esforçar para nos livrarmos dela.Você é da mesma opinião, ou acha que devemos ser indiferentes?
Michael
 Shermer — Bem, há duas abordagens para isso: a de Richard, que eu defendo... Nossa missão é promover a ciência, a razão, o pensamento crítico e deixar a religião cair em desuso. Não sei se atacar a religião diretamente funciona sempre, por causa do princípio psicológico da dissonância cognitiva. Se uma pessoa realmente acredita em algo, e você diz que ela está errada, ela constrói um muro e se torna muito defensiva. Eu prefiro a estratégia de ensinar ciência, razão e pensamento crítico e deixar as pessoas concluírem por si só. Se elas acreditarem que não crer mais em religião foi decisão delas, é mais provável que deem esse passo final. Ainda não está claro qual é o melhor sistema. Provavelmente, não há uma só maneira de lidar com isso, deve haver várias maneiras. Mas, em termos do que fazer sobre a religião, o fator imediato seria a lei, o governo, manter a religião fora do Estado, fora das escolas e fora das Forças Armadas. Governos laicos são melhores do que governos religiosos. E, no último século, o mundo está caminhando para isso: democracias laicas e liberais. No início do século 20, não havia nenhuma. Hoje, são quase 100. E as sociedades que vivem nesses países são mais prósperas, felizes e saudáveis.
Silio Boccanera — No seu país em vários outros,  extremistas religiosos. Há esseaparente crescimento da religião em toda parte. Você acha que religião está em alta emtoda parte ou está em baixa?
Michael
 Shermer — Bem, depende do lugar de onde estamos falando. Em primeiro lugar, política e socialmente, o problema são os extremistas. Não me preocupo com os religiosos normais, que trabalham, têm família... Nós nunca ouvimos falar deles, e eu não me preocupo com eles. O problema são os extremistas. Em termos de religiosidade em geral, os números mostram que, pelo menos no Ocidente, que o número de pessoas sem religião está crescendo, de pessoas que marcam a opção "nenhuma" quando lhe perguntam qual é sua religião. Não está claro se eles estão se tornando ateus e agnósticos  provavelmente, não , mas, pelo menos, não adotam nenhuma religião, pois é a religião organizada que se torna perigosa. Isso me encoraja. Eu acho que o arco do progresso moral está indo na direção da justiça, da prosperidade e da liberdade nos últimos séculos. Acho que podemos ser otimistas em relação a isso.
Silio Boccanera — Você falou de nossas origens, do homem das cavernas, do medo, dotigre tudo mais. Você acha que há um fator evolutivo que nos leva a tentar explicarcoisas que não sabemos explicar e atribuí-las algo sobrenatural, em vez de tentardescobrir?
Michael 
Shermer — Acho, sim. Nosso cérebro é feito assim. Nosso cérebro odeia fatos sem explicação. Ou seja, para todos nós, é difícil dizer: "Eu não sei e estou confortável com o fato de não saber." Quase nunca se ouve alguém dizendo isso. Todos nós queremos uma explicação. E é isso que afasta a ciência dos outros ramos do conhecimento. Nós estamos dispostos a dizer: “Não sabemos, vamos trabalhar nisso.” O que é energia escura? O que é matéria escura? Eu não sei. Vamos colocar alguns universitários para descobrir isso. É para isso que eles servem. E os mistérios são ótimos, pois é o que podemos trabalhar. Quanto à religião, em especial, não pode haver mistério, eles têm que dar uma explicação. E, se não temos uma explicação natural, usam o sobrenatural.
Silio Boccanera — essa questão detentar explicar o que parece difícil de explicar.Vejamos o BigBang, porexemplo. É difícil aceitar que não existia nada antes do BigBang,pois o tempo não existia.
Michael 
Shermer — Pois é, exatamente. É como pedir para você imaginar que está morto. Como você imagina que será quando estiver morto? Foram feitos estudos a respeito, e as pessoas disseram: “Eu me vejo no meu enterro, com meus amigos e a família lá, chorando.” Você não vai ver nada, pois vai estar morto. Não vai ver nada, certo? É como pedir para imaginar que não há universo. Não dá. Em alguns assuntos, nós encontramos um muro que não conseguimos transpor porque nosso cérebro não é capaz disso. O que havia antes do início dos tempos? Não dá nem para perguntar. É como perguntar o que está ao norte do Polo Norte. É uma pergunta sem sentido.
Silio Boccanera — Recentemente, pessoas que não acreditam na evolução eram chamadasde “criacionistasAgora, alguns chamam isso de “design inteligenteque parece umpouco mais sofisticado, mas é essencialmente mesma coisa, certo?
Michael 
Shermer — É criacionismo. Como dizem, é “criacionismo de smoking”. Bem vestido, com um linguajar sofisticado. Mas nós os levamos a sério. Nós analisamos as alegações deles e rebatemos todas elas. Nós, os cientistas. Eles falaram do DNA, do flagelo bacteriano, falaram dos olhos. E os cientistas analisaram cada alegação deles e disseram: “Não. O que sabemos é isto, e vocês estão errados.” E eles nunca respondem dizendo: “Nossa, é verdade. Eu estava errado nesse ponto.” Isso nunca acontece. Isso mostra que o que eles fazem não é ciência.
Silio Boccanera — Voltando à Terra e às experiências do dia dia que todos nós temos, um fenômeno comum, que as pessoas acham bem estranho, déjà-vua sensação de quealgo que se vive já aconteceu antes. Isso é um fenômeno comum?
Michael 
Shermer — Com certeza. Eu já tive déjà-vu, bem como a maioria das pessoas. O que acontece é que a informação chega... O cérebro funciona assim: a informação chega, você a processa e combina com suas lembranças. “Onde a informação se encaixa? É um rosto que eu reconheço? É alguém que eu conheço ou um estranho?” E ela entra em categorias diferentes do cérebro. Se alguém lhe parece familiar, você começa a compará-lo com seu banco de dados de rostos: “É esta pessoa? Esta? Esta? Esta? Esta? Sim? Não?” Você vê de novo... “Já não nos conhecemos? Você me parece familiar.” O déjà-vu acontece da mesma maneira em uma sala, um hotel, uma rua, um bairro...
Silio Boccanera — Você tenta achar um padrão.Michael Shermer — Você procura o padrão. “Eu já vi isto? Eu sinto que já estiva aqui antes.”
Silio Boccanera — E essas experiências de fora do corpo? Principalmente pessoas que passam por cirurgias ou têm experiências de quase morte, que acham que se veem mortas, do alto. É sua mente brincando com você?Michael Shermer — É. Você pode fazer isso agora. Basta imaginar que seu corpo está deitado no chão, e você está no teto olhando seu corpo. Você pode imaginar isso agora. É fácil. Nós somos capazes de imaginar isso com os olhos da nossa mente. E nós sabemos que determinadas circunstâncias, como a falta de oxigênio que ocorre em afogamentos, ataques cardíacos, cirurgias, isso se chama “hipóxia”, e é a falta de oxigênio no córtex, por alguma razão, desencadeia a sensação de flutuar acima do corpo. É possível fazer isso através da estimulação eletromagnética dos lobos temporais do cérebro, que produzem as experiências de sair do corpo. É um fenômeno cerebral. Está aqui dentro, não lá fora.
Silio Boccanera — Você acha que a mente é apenas o cérebro?Michael Shermer — Com certeza. A “mente” não existe. A “mente” é algo que usamos para descrever o que o cérebro faz. Temos que tomar cuidado com o que falamos. Tendemos a tornar as coisas reais. “Isso é paranormal.” Isso é apenas uma palavra. É um substituto linguístico para algo que desconhecemos. Minha analogia é a seguinte: é como falar de energia escura e matéria escura, que preenche 90% do universo, mas não sabemos o que é. Mas não vemos a energia escura e a matéria escura como explicações. São apenas palavras. Vamos chamá-las assim por ora, até descobrirmos o que são.
Silio Boccanera — Como o bóson de Higgs.Michael Shermer — Exatamente. Vamos chamá-la assim por ora. Mas nunca se chegou a uma explicação. “Talvez exista, talvez não, então vamos chamá-la assim, para explicar esse fenômeno que não sabemos explicar, e vamos fazer a experiência.” Pessoas religiosas chamam de “Deus”, de “sobrenatural”, de “anjos”, de “demônios”. São apenas palavras legais para dizer: “Não sei o que é, mas vamos chamar assim.” Na ciência, queremos saber, independente da palavra, o que realmente está acontecendo.
Silio Boccanera — A ciência provou que 98% de nossos genes são os mesmos dos chimpanzés e que 40% deles são os mesmos de uma banana. Isso comprova nossa herança comum com relação à origem da vida?Michael Shermer — Eu acho que uma explicação positiva é a de que, há 3 bilhões de anos, existe uma cadeia intacta, desde o início da vida até hoje, e que tudo na Terra está interligado através dessa molécula comum ancestral autorreplicante chamada DNA. E, até onde sabemos, ela só existe neste planeta. Espero que encontremos outros na mesma situação, mas isso nos diz que a vida é isso. Nós precisamos tomar conta de nós mesmos, da nossa espécie, de outras espécies, do nosso planeta, por causa dessa interconectividade. E acho que isso, de certo modo, é algo espiritual. Uma das afirmações da religião é a de que fomos criados por Deus e que somos todos irmãos. Bem, acho que somos todos irmãos por causa da genética e estamos profunda, biológica e fisicamente ligados por ela. E ligado às estrelas. Nossos átomos de carbono, que formam a maior parte do nosso organismo, vieram das estrelas. Eles se formaram nas estrelas. “Nós somos feitos de poeira de estrelas”, como dizia Carl Sagan. Isso nos liga ao cosmo inteiro.
Silio Boccanera — O que não significa que as estrelas influenciem nossa vida hoje.Michael Shermer — Não é astrologia, é astronomia.
Silio Boccanera — Em um mundo que decifrou a estrutura do DNA em 1953, e já são 150 anos desde a teoria de Darwin, você acha que a ciência está confirmando a teoria de Darwin, a Teoria da Evolução, ou a está revendo?Michael Shermer — Sem dúvida, está confirmando as partes mais essenciais da teoria de Darwin, sem sombra de dúvida. É claro que é feita uma sintonia fina, ele estava errado sobre algumas poucas coisas... A maioria dos cientistas usa a palavra darwinismo, mas seria melhor não associar isso a uma pessoa, pois o culto à personalidade não é tão aceitável... Eu prefiro dizer que a Teoria da Evolução é bem fundamentada e está sempre sendo redefinida. Para refutá-la, neste estágio, seriam necessárias muitas provas contrárias a ela, que ninguém conseguiu encontrar. Se você me mostrar o fóssil de uma trilobita na mesma camada que os de mamíferos, nós teremos um problema. Se não tiver havido alguma intrusão excepcional por causa de alguma falha geológica, alguma quebra no extrato... Mas ninguém jamais encontrou isso. Isso nunca aconteceu.
Silio Boccanera — A sequência não permitiria isso. Michael Shermer — Exato. Ou exemplos de DNA em que não haja continuidade entre duas formas diferentes de vida ou algo do gênero. Mas aqueles que acreditam no design inteligente deveriam procurar uma inteligência terrestre, um segundo gênesis aqui, na Terra. Nunca encontraram nada disso, mas seria interessante. Mas isso ainda não derrubaria a teoria, que é sólida.
Silio Boccanera — James Watson, um dos descobridores da estrutura do DNA, esteve em Londres recentemente, e alguém lhe perguntou como ele via o futuro da biologia nos próximos 50 anos. Ele acha que biologia se unirá à psicologia, para explicar o comportamento das pessoas. O que você acha disso?Michael Shermer — É uma ótima ideia. De verdade. Ele adota a linha de pensamento de Edward Wilson: está na hora de tirar a sociedade e a moral das mãos dos teólogos e filósofos e passá-las para as mãos dos biólogos, pois, no final das contas, está tudo no campo da biologia. O comportamento está nesse campo. A mente é apenas o cérebro funcionando, e ele é um sistema biológico. São os neurônios trocando substâncias químicas. É química, é bioquímica.
Silio Boccanera — Então, quanto mais descobrimos sobre nossa biologia e nossa carga genética, mais entenderemos o comportamento humano?Michael Shermer — Com certeza. A genética do comportamento nos mostra que gêmeos idênticos, separados no nascimento e criados em ambientes radicalmente diferentes, têm mais em comum do que irmãos adotivos que vivem no mesmo lar. É claro que a cultura é um componente importante, mas a biologia é mais importante do que a cultura, e não podemos ignorar isso.
Silio Boccanera — O conceito de inconsciente coletivo, desenvolvido pelo psicanalista suíço Carl Jung, tenta explicar por que diferentes sociedades, que vivem bem distantes, desenvolvem os mesmos mitos, as mesmas lendas, as mesmas histórias. Você acha que isso provém da nossa estrutura comum, da nossa herança genética comum? Michael Shermer — Acho, e esse é um exemplo da biologia, de por que precisamos estudar a biologia no contexto da psicologia: porque nossos cérebros estão ligados da mesma maneira. Então é claro que algumas tribos da África podem ter experiências semelhantes às nossas. É porque nossos cérebros são parecidos. É claro que haverá elementos comuns baseados na maneira como nossos corpos e cérebro funcionam. Pense nisso como um canal que direciona o fluxo das coisas. Ainda conseguimos nos mover dentro do canal, mas ele tem muros altos, e nós somos empurrados em uma só direção por esses muros. Nós sabemos que pelo menos 50% das variações nas personalidades das pessoas — por exemplo, qual é seu grau de abertura a novas experiências, quanto você gosta de viajar, seu temperamento, quão feliz ou não você tende a ser — são determinados pelos genes. Nós sabemos que com certeza e pesquisamos isso com milhares de gêmeos. Os gêmeos têm o temperamento mais parecido do que crianças criadas na mesma casa, mas sem relação genética. Isso nos deixa impressionados. Isso se aplica até as preferências religiosas. Não falo de uma pessoa ser católica ou batista, mas a quanto você precisa e aprecia ter ou não religião. Isso à altamente hereditário.
Silio Boccanera — Há um clichê que diz que religião não se discute. Devemos deixar as pessoas serem como são, sem discutir isso, sem expô-las à razão a às comprovações. O que você acha?Michael Shermer — Todos podem dar sua opinião. Nenhum governo pode silenciar ou censurar ninguém, e as melhores ideias devem vir à tona. Na atual campanha presidencial americana, por que não se deve perguntar a Romney sobre o fato de ser mórmon? Ele pode dizer que é a religião dele e que isso não vem ao caso. Sobre a política imigratória, ele não diria: “Vou fazer minhas orações por essa questão.” “Como assim, vai orar? Não, não. Queremos saber qual é seu posicionamento.” Esse limite deveria ser cruzado, ele deveria dizer o que pensa e por que acredita nisso.
Silio Boccanera — Já que você citou Romney, não posso evitar levantar a questão da religiosidade na política americana. Para um estrangeiro, parece que ela está se tornando muito forte. Se analisar não só o Tea Party, mas a própria direita... O próprio Romney, que costumava ser de centro, se sentiu obrigado a se passar para a direita e descer aos extremistas religiosos. O que está havendo?Michael Shermer — Bem, acho que é um meme cultural. Os EUA acham que é preciso dizer isto, e todos dizem: “Deus abençoe os EUA.” Obama vive dizendo isso. “Deus os abençoe. Deus abençoe os Estados Unidos da América!” E todo mundo aplaude. Acho que repetem tanto isso que você acha que tem que acreditar. O que nós tentamos fazer é dizer: “Você não precisa acreditar. Está tudo bem. Não precisa dizer isso. Sabemos que você é um bom americano, um bom cidadão.” Mas, historicamente, nós somos assim. Principalmente por causa da influência dos evangélicos. E vocês começam a sentir isso no Brasil. O que torna um evangélico diferente de qualquer outra pessoa é que ele sente que precisa evangelizar os outros. É por isso que são chamados de “evangélicos”. “Evangelizar” significa espalhar a palavra de Deus.
Silio Boccanera — Eles não só acreditam, como precisam convencer os outros disso.Michael Shermer — Isso. Eu era evangélico, eu estudei na Pepperdine Univesity. Nossa missão era falar de Jesus às pessoas. “Jesus te ama. Você será salvo se aceitar Jesus.” É preciso espalhar a mensagem. Mas os evangélicos têm muita influência na política americana. Eles têm dinheiro e fazem doações para os candidatos. E não digo que Obama não as receba. Ele recebe ainda mais doações. Até os democratas, que são acusados de ser laicos e ateus, não são. Eles também são religiosos. Só não são tão evangelizadores.
Silio Boccanera — Se analisar a política americana nos últimos 50 anos, a eleição de Kennedy foi a superação de Kennedy foi a superação de um grande preconceito. Um presidente católico.Michael Shermer — Exato.
Silio Boccanera — E agora vocês têm um presidente negro. Outro preconceito foi superado. Vocês podem ter um presidente mórmon, se Romney vencer. Você acha que um dia terão um presidente ateu?Michael Shermer — Talvez daqui a 100 anos. Eu tendo a ser otimista, e meu trabalho é promover o ceticismo, mas eu tenho que lembrar que há um longo caminho pela frente. Talvez, algum dia, tenhamos uma presidente negra, ateia e gay. Teremos tudo de uma vez só.
Silio Boccanera — Michael, muito obrigado.Michael Shermer — Obrigado. Foi um prazer.