segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Representações Sociais de Idosos Acerca da Velhice



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Resumo: A pesquisa teve como tema central as representações sociais de idosos acerca da velhice. De forma comparativa buscou-se analisar as possíveis divergências entre representações de idosas residentes em uma instituição de longa permanência e atuantes em uma associação da previdência social para aposentados. Como estratégias metodológicas foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com tais participantes, tendo como objetivo compreender os significados que marcam a fase do envelhecer, analisar a importância das relações sociais e verificar possíveis carências afetivas. Como resultado, percebeu-se que participantes inseridas no contexto em que propicia interação e reconhecimento social apresentaram representações de caráter positivo, diferente das participantes do abrigo que tiveram representações pautadas em significados pejorativos estereotipados. Desta forma, tornou-se necessário repensar acerca de novas praticas que beneficiem idosos que se encontram a margem da sociedade. A realização deste estudo pretendeu instigar novos meios de difusões acerca das potencialidades e capacidades dos idosos a fim de que estes tenham maiores reconhecimentos através de suas peculiaridades enquanto indivíduos, contribuindo assim para amenizar preconceitos e sofrimentos psíquicos.
Palavras-chave: Representações sociais, envelhecer, preconceito, reconhecimento, peculiaridades.

Introdução

A utilização da divisão cronológica da vida, estabelecendo idades, etapas faz parte de uma construção relativamente recente, que começou a esboçar-se, com o vislumbrar da infância, como um período singular da vida que, por sua imaturidade biológica e psicológica, demandava cuidados e orientação singulares. Desde então, a idade tornou-se institucionalizada, determinando a inclusão ou exclusão do indivíduo de determinados papéis sociais (Áries, 1973 apud Maffioletti, 2005).
Partindo da concepção de papéis sociais, Maffioletti (2005) descreve a sociedade atual como sendo marcada pelo individualismo e pela competitividade. Revela possuir um cotidiano altamente corriqueiro na qual o novo e atual são valorizados em direção a produtividade e ao lucro com uma tendência a não gostar de seus velhos. A partir desse embasamento pode-se inferir que a inovação da modernidade implica a intolerância ao antigo, ao ultrapassado e conseqüentemente a figura do idoso.
Ecléa (1994) salienta a intolerância a figura do idoso realizando uma crítica a sociedade moderna. Oprime-se o velho por intermédio de mecanismos institucionais visíveis (a burocracia da aposentadoria e dos asilos), por mecanismos psicológicos sutis (recusa do diálogo e da reciprocidade que forçam o velho a comportamentos repetitivos e monótonos, a tolerância de má – fé que, na realidade é discriminação), por mecanismos técnicos e por mecanismos científicos (as “pesquisas” que demonstram a incapacidade e a incompetência do velho). 
Segundo Paulino (2007), a repercussão advinda do envelhecimento populacional fez-se imperioso buscar formas de enfrentamento a esta nova realidade. Logo, a sociedade se deparou com a necessidade de compreender o processo da velhice a fim de reduzir seu impacto. Mesmo com o destaque ao moderno e inovador da nossa sociedade, pode-se inferir que se tornou relevante o reconhecimento da velhice, ou seja, ainda com preconceitos a velhice está demandando nova representação enquanto grupo social.
Dessa forma, vem sendo um grande desafio para o país o estabelecimento de políticas públicas que possam garantir uma vida digna às pessoas idosas. Para que isso se concretize, faz-se urgente a adoção de medidas que visem o atendimento global da população brasileira, no que se refere à alimentação, saúde, educação e desenvolvimento social. Surge, então, a necessidade de se investir em estudos e práticas que permitam o planejamento de estratégias que atendam às demandas deste grupo (PAULINO, 2007).
A relevância dos estudos ressaltados acima pode ser empregada ao campo das representações sociais.  Acredita-se que o estudo das representações sociais da velhice poderá contribuir para melhor compreensão desta e dos significados com os quais os indivíduos estabelecem relações com uma velhice bem sucedida (Araújo, Coutinho & Carvalho, 2005).
Dessa forma, tornou-se relevante nesse estudo compreender o processo das representações sociais entre idosos acerca da velhice, suas percepções, ações e símbolos, fruto das experiências vivenciadas fisicamente e emocionalmente nesse grupo. Tornou-se pertinente, uma vez que existem implicações subjetivas importantes. Foi preciso discutir, então, de que forma a representação do idoso atua em seu funcionamento psíquico, percebendo suas atitudes, pensamentos, crenças e possíveis transtornos decorrentes do campo representacional.
O referente estudo teve como finalidade comparar representações sociais de idosos em instituição de longa permanência, com a de idosos participantes da Associação da Previdência Social para aposentados. A relevância da comparação consiste na análise das possíveis divergências de representações uma vez que residir em uma instituição de longa permanência permeia todo o conjunto de funcionamento, recursos e normas decorrente desse contexto. 
O envelhecimento populacional, enquanto fenômeno social, composto pela dimensão histórica, política, econômica e cultural, além da biológica, deve ser compreendida sob a ótica das contradições referentes ao modelo econômico vivenciado na sociedade brasileira, ou seja, o capitalismo sob os moldes neoliberais. Ao realizar uma análise sob esta conjuntura, torna-se possível detectar formas diferenciadas de poder da população idosa em contextos históricos distintos (Goldman, 2000 apud Paulino 2007). 
A oferta de um mundo novo para os velhos, com seus artifícios e eufemismos, fica longe de aproximar-se de soluções razoáveis para a vida do idoso, principalmente o doente, pobre e desamparado, aquele que fica no outro extremo da corda da chamada terceira idade, ao qual se refere aos velhos que tem ainda vigor e poder aquisitivo (Debert, 1999, apud Maffioletti, 2005).
Partindo da relevância que a literatura emprega, objetivou nesse estudo compreender os significados que marcam a fase do envelhecer nas diversas velhices existentes na contemporaneidade. Pretendeu-se relacionar a experiência nas instituições articulando-a com a literatura. Logo, visou-se contemplar um estudo marcado por um contexto desigual, competitivo, diverso e altamente inovador do capitalismo.
“A qualidade da interação sócio-afetiva, diretamente dependente dos estímulos ambientais favorecedores ou inibidores de trocas interpessoais diversificadas. Constituem-se numa variável significativa para o maior ou menor equilíbrio emocional nos idosos” (Oliveira; Pasian & Jacquemin, p 32, 2001).
Com a relevância de tal embasamento, visou-se contemplar o fenômeno da afetividade, em destaque possíveis carências a fim de analisar a elaboração psíquica sobre tal fenômeno.
A utilização da teoria das representações sociais é bastante útil à medida que lida com um marco conceitual que envolve tanto o nível intrapessoal de análise quanto o interpessoal e o intergrupal. Dessa forma, é possível partir das representações pessoais de objetos sociais para um exame das cognições no nível grupal, que permitem ao pesquisador a apreensão dos aspectos compartilhados de uma representação. (Doise, 1990 apud Araújo, Coutinho & Carvalho, 2005).
 Diante a literatura descrita, pode-se inferir que tais relações sociais emergem conteúdos, atitudes e crenças que constituem aspectos das representações. Logo, tornou-se fundamental evidenciar a importância das relações sociais frente os aspectos emocionais para o idoso no que diz respeito à troca de idéias, afeto, participação em grupos.  Salienta-se, dessa forma que tal objetivo está diretamente relacionado ao campo representacional.

1. Fundamentação Teórica

1.1 Velhice

Na finalidade de compreender as Representações Sociais de idosos sobre a Velhice, tornou-se indispensável realizar um direcionamento sobre este grupo frente as suas concepções e repercussões ao longo do contexto sócio - histórico.
Neri (1995) aponta para a importância de conhecer a trajetória do conhecimento sobre a velhice, desde as concepções ingênuas até as científicas. Nessa perspectiva declara que há possibilidade de verificar a sua evolução sob a ação de numerosas variáveis do contexto social e cultural.
Até o início do séc. XIX existiam três noções sobre o envelhecimento humano. A primeira na qual a espécie humana já foi perfeita, mas que o pecado original provocou sua desgraça, cujo principal sinal é a morte.  A segunda, onde em algum lugar distante no mundo existiriam pessoas que deteriam o segredo da imortalidade. A terceira era que existiria fonte milagrosa, cujas águas teriam o poder de restaurar o vigor e a juventude perdidos e assim prolongar a vida (Gruman, 1966 apud Birren e Birren, 1990 apud Neri 1995).
Segundo Neri (1995), eventos de grande impacto social e cultural, tais como: as duas guerras mundiais; o envelhecimento populacional ocorrido em vários países do hemisfério norte; os movimentos sociais dos anos 60 e a evolução da psicologia do desenvolvimento e da gerontologia foram os principais fatores que desencadearam a produção de uma grande quantidade de informação sobre o envelhecimento resultante das áreas de psicologia, ciências sociais e da gerontologia.
Neri (1995) ressalta ainda que até meados dos anos 80 predominaram trabalhos referenciados ao modelo médico e ao discurso tradicional da gerontologia e da psicologia do desenvolvimento, segundo os quais a velhice se direcionava ao sinônimo de doença, perdas, afastamento e disfuncionalidade.
No campo do serviço social, estudos acerca da terceira idade surgiram relacionados às condições dos idosos em diferentes situações, no âmbito familiar, no confinamento asilar, etc. Outros trabalhos foram realizados na busca de apreender o processo de marginalização social do idoso asilado e o abandono pela família, e ainda a solidão (Kameyama, 1998 apud Paulino 2007).
Abordagens mais recentes complementaram a busca em contemplar a situação do idoso enquanto pessoa que tem a característica de ser idoso. Nesta perspectiva, alguns estudos visaram compreender o fenômeno da participação dos idosos em grupos de convivência, ou ainda a consciência e a vivência da cidadania no envelhecer, as percepções e significados das experiências, a participação política dos aposentados na constituição de 1988 (Kameyama, 1998 apud Paulino 2007).
Os anos 90 no Brasil foram marcados pelo “boom” gerontológico, sendo a velhice, a partir de então, matéria de interesse público, cada vez mais abordada por estudiosos, especialistas, prestadores de serviços, e também pela mídia (no momento em que a terceira idade passa a constituir também um mercado de consumo específico). (PAULINO, 2007).
“A promoção da “qualidade de vida” na velhice tornou-se assunto de grande interesse a um grande número de pessoas, inclusive profissionais, crescendo também o apelo da sociedade ao consumo dirigido aos mais velhos para que estes se “mantenham bem”: a medicina, com os avanços farmacológicos, clínicos, cirúrgicos e estéticos, busca garantir melhores anos e a manutenção e aprimoramento dos procedimentos ligados à saúde e ao bem-estar dessas pessoas; as universidades abrem as portas para esse novo contingente, congregando-os em torno dos objetivos cognitivos, sociais e afetivos assumindo-os como apropriados aos idosos; a ciência continua sua meta de descrever e explicar a velhice e o envelhecimento numa ampla variedade de campos disciplinares; o Estado se interessa pela promoção e manutenção da saúde das pessoas, pois seu contrário resultará em “ônus” com tratamentos, internações etc. Muitas outras profissões tentam, igualmente, descobrir caminhos para atuar junto aos mais velhos” (Neri, 2000 apud Paulino, 2007).
A velhice, historicamente vista como pertencente à esfera familiar, privada, de previdência individual ou de associações filantrópicas, passa a ser uma questão de ordem pública /social. Esse fato se estabelece pelas implicações econômicas e políticas que tal fenômeno acarreta, não mais somente para o idoso e seus familiares, mas também para a sociedade como um todo. Uma vez que o aumento do número de idosos envolve questões sociais importantes como aposentadoria, assistência médica, bens de consumo e atendimentos/serviços específicos a esta faixa etária (Groisman, 1999 apud Paulino, 2007).
Paulino (2007) declara que as questões referentes à velhice e ao processo de envelhecimento têm despertado cada vez mais interesse por parte de profissionais e estudiosos, de diferentes campos de conhecimento e intervenção, assim como da sociedade de um modo geral, em função do acelerado processo de envelhecimento populacional que vem ocorrendo em vários países, inclusive no Brasil.
Paulino (2007) salienta ainda para o fato do envelhecimento populacional se relacionar basicamente, à redução da taxa de natalidade e ao aumento da expectativa de vida, proporcionado por inúmeros avanços tecnológicos em diversos campos científicos, como a medicina e a farmacologia, além das inúmeras ações realizadas em prol da saúde humana, dentre elas o saneamento básico.
Dados levantados mais recentemente pela PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), confirmam esta realidade. Em 1981, o número de pessoas com mais de 60 anos, na população brasileira, era pouco menos da metade do das crianças de até cinco anos, em 2004, o grupo acima de 60 já era 20% maior do que o de até cinco anos; de 1981 até 2004, as pessoas com mais de 60 saíram de 6,4% para 9,8% dos brasileiros. (PAULINO, 2007).
Paulino (2007) descreve o homem como um ser complexo, em constante processo de interação e desenvolvimento, de modo que não somente sofre a influência, como também influi no ambiente em que vive. Assim, o contexto físico, político, social e cultural em que se encontra podem facilitar ou dificultar esse processo, acelerando ou retardando seu envelhecimento, o qual também ocorre de diversas maneiras.
Maffioletti (2005) descreve o contexto da sociedade atual como sendo marcado pelo individualismo e pela competitividade. Revela possuir um cotidiano altamente corriqueiro na qual o novo e atual são valorizados em direção a produtividade e ao lucro com uma tendência a não gostar de seus velhos. A partir desse embasamento pode-se inferir que a inovação da modernidade implica a intolerância ao antigo, ao ultrapassado e conseqüentemente a figura do idoso.
Essa oferta de um mundo novo para os velhos, com seus artifícios e eufemismos, fica longe de aproximar-se de soluções razoáveis para a vida do idoso, principalmente o doente, pobre e desamparado, aquele que fica no outro extremo da corda da chamada terceira idade, ao qual se refere aos velhos que tem ainda vigor e poder aquisitivo. (Debert, 1999, apud Maffioletti, 2005).
Cabe observar que a velhice não representa uma realidade bem definida, ao contrário, trata-se de um fenômeno extremamente complexo, referindo-se a uma experiência vivenciada de forma não homogênea, mas diversificada, também em função das conjunturas sociais, econômicas, históricas e culturais, somadas ainda aos fatores individuais e subjetivos (PAULINO, 2007).
Paulino (2007) revela que entender que o avançar da idade causa um grande impacto na vida dos indivíduos é fundamental. Entender também as diferentes demandas apresentadas e buscar referenciais compatíveis a esta realidade faz-se imperativo, devendo-se, portanto procurar perceber os problemas, as ansiedades, as dificuldades e as especificidades deste grupo social. Nessa perspectiva pode-se inferir que os estudos das Representações Sociais se incluem nesta importância de entender tais especificidades.

1.2 Representações Sociais                                    

Diante a busca de compreender o fenômeno das Representações Sociais entre idosos acerca da Velhice, considera-se pertinente verificar o percurso histórico desta teoria, suas repercussões, embasamentos e concepções envolvidas neste fenômeno.
Nos últimos anos, o conceito de Representação Social tem aparecido com freqüência em diversas áreas, o que leva a indagação sobre o que será algo que tanto se fala. Primeiramente salienta-se que esse conceito atravessa as ciências humanas, não pertence a uma área em particular e possui raízes na sociologia, antropologia e na história das mentalidades (ARRUDA, 2002).
Segundo Arruda (2002), a partir da década de 60 se estabeleceu a necessidade de compreender os fenômenos do domínio simbólico. Nesse período surgiram tentativas de explicar noções de representação, contudo, apenas na década de 80 houve o destaque a respeito do tema.
De acordo com Arruda (2002) a teorização da Representação Social permeou a Psicologia Social. Esta área possibilitou abordar as Representações Sociais por intermédio de reflexões acerca de como interagem sujeitos e sociedade para construir a realidade e como terminam por construí-la numa estreita parceria, através da comunicação. Inspirada na idéia de “representações coletivas” proposta por Durkheim, a teorização foi desenvolvida por Serge Moscovici e aprofundada por Denise Jodelet (Arruda, 2002 apud Paulino, 2007).
Moscovici partiu de vivências pessoais para realizar questionamentos acerca da possibilidade dos seres humanos se mobilizarem a partir de algo que aparentemente supera a razão. A resposta a perguntas desta ordem, o motivou a iniciar sua obra em uma concepção de realidade socialmente construída, não desligada da sua inscrição social. Logo, propôs uma psicossociologia do conhecimento, com forte apoio sociológico, sem desprezar os processos subjetivos e cognitivos (ARRUDA, 2002).
Segundo Arruda (2002), a teoria das Representações Sociais parte da premissa que existem formas distintas de se conhecer e de se comunicar, guiada por objetivos diferentes, em duas definições pregnantes nas sociedades: a consensual e a científica.  O universo consensual seria aquele que se constitui principalmente na conversação informal, na vida cotidiana, enquanto o universo reificado se cristaliza no espaço científico, com seus cânones de linguagem e hierarquia interna. Ambas eficazes e indispensáveis para a vida humana.
A Representação Social, portanto, não é uma cópia nem um reflexo, uma imagem fotográfica da realidade: é uma tradução, uma versão desta. Ela está em transformação como o objeto que tenta elaborar. É dinâmica, móvel (Moscovici, 1961 apud Arruda, 2002). Isto indica segundo Arruda (2002) que o sujeito do conhecimento é um sujeito ativo e criativo, e não uma tábula rasa que recebe passivamente o que o mundo lhe oferece, como se a divisória entre ele e a realidade fosse um corte bem traçado. Assim, pode-se inferir que há certa plasticidade nas concepções de representações construídas socialmente.
Moscovici (1961) obteve contribuições dos teóricos: Piaget, Lévy-Bruhl e Freud. Com tais embasamentos sistematizou seus fundamentos em dois processos: a objetivação, que esclarece como se estrutura o conhecimento do objeto. Dá ênfase a como a criança seleciona e descontextualiza elementos do que vai representar, uma vez que não é possível lidar com o conjunto da informação transmitida. Conclui que a partir desse processo, esta sofre cortes baseados na nossa informação prévia, na experiência e nos valores. Procedendo assim, aquele objeto que era misterioso foi devidamente destrinchado, recomposto, e agora se torna algo efetivamente objetivo, palpável, passa a nos parecer natural (ARRUDA, 2002).
O segundo processo denomina-se a ancoragem, relaciona-se com a colocação de sentido ao objeto que se apresenta à nossa compreensão. Trata-se da maneira pela qual o conhecimento se enraíza no social e volta a ele, ao converter-se em categoria e integrar-se à grade de leitura do mundo do sujeito, instrumentalizando o novo objeto. Dessa forma, o sujeito procede recorrendo ao que é familiar para fazer uma espécie de conversão da novidade: trazê-la ao território conhecido da nossa bagagem nocional, ancorar aí o novo, o desconhecido, retirando-o da sua navegação às cegas pelas águas do não-familiar (ARRUDA, 2002).
“As representações sociais são conjuntos dinâmicos, seu status é o de uma produção de comportamentos e relações com o meio, o de uma ação que modifica uns e outros, e não o de uma reprodução [...], nem o de uma reação a um estímulo exterior determinado. [...] são sistemas que têm uma lógica própria e uma linguagem particular, uma estrutura de implicações que se referem tanto a valores como a conceitos [com] um estilo de discurso próprio. Não as consideramos como opiniões sobre nem imagens de, mas como "teorias", como "ciências coletivas" sui generis, destinadas à interpretação e à construção da realidade.” (Moscovici & Nemeth 1974, p.48 apud Arruda, 2002).
“As representações sociais constituem uma espécie de fotossíntese cognitiva: metabolizam a luz que o mundo joga sobre nós sob a forma de novidades que nos iluminam (ou ofuscam) transformando-a em energia. Esta se incorpora ao nosso pensar/perceber este mundo, e a devolvemos a ele como entendimento, mas também como juízos, definições, classificações. Como na planta, esta energia nos colore, nos singulariza diante dos demais. Como na planta, ela significa intensas trocas e mecanismos complexos que, constituindo eles mesmos um ciclo, contribuem para o ciclo da renovação da vida. [...] minha convicção [é] que nesta química reside uma possibilidade de descoberta da pedra filosofal para o trabalho de construção de novas sensibilidades ao meio ambiente. Ou seja, é nela que residem nossas chances de transformar ou, quando menos, de entender as dificuldades para a transformação do pensamento social” (ARRUDA,2002).
Segundo Arruda a definição mais consensual entre os pesquisadores do campo diz respeito à de Denise Jodelet (2002, p.22): As representações sociais são uma forma de conhecimento socialmente elaborado e compartilhado, com um objetivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social.
A Representação Social deve ser estudada articulando elementos afetivos, mentais e sociais, e integrando, ao lado da cognição, da linguagem e da comunicação, as relações sociais que afetam as representações e a realidade material, social e ideal (das idéias) sobre a qual elas vão intervir. (Jodelet 2002, apud Arruda, 2002). Com tal embasamento, percebe-se a possibilidade que o contexto, a realidade social possui em alterar as Representações Sociais.
Segundo Arruda, (2002) a Representação Social encadeia ação, pensamento e linguagem nas suas funções primordiais de tornar o não-familiar conhecido, ao possibilitar a comunicação e ao obter controle sobre o meio em que se vive, diante a compreensão do mundo e as relações que nele se estabelecem. Dessa forma, possíveis implicações podem operar na subjetividade de sujeitos objetos das Representações Sociais, uma vez que “os aspectos constituintes da representação pertencem: as informações, imagens, crenças, valores, opiniões, elementos culturais, ideológicos, a totalidade de expressões, e idéias presentes no discurso sobre o objeto” (Jodelet, 2002, p.38 apud Arruda, 2002).
Há uma forma de abordagem das Representações Sociais, denominada dimensional, por abarcar as dimensões da representação – seu campo estruturado, a atitude que ela carrega e que lhe dá sua coloração afetiva, e o componente de informação que ela contém. Tal abordagem também é denominada processual, genética ou dinâmica, ao preocupar-se centralmente com a construção da representação, sua gênese, seus processos de elaboração (Banchs, 1998 apud Arruda, 2002).
Segundo Arruda (2002), a coleta de material para este tipo de enfoque geralmente é feita com metodologias múltiplas, que podem ser entrevistas, questionários, observações, pesquisa documental e tratamento de textos escritos ou imagéticos. Sua abrangência tenta capturar os diversos momentos e movimentos da elaboração da representação, embora dificilmente se possam abarcar todos eles em uma única pesquisa.
Jodelet propõe três grandes ordens de fatores a serem levados em conta como condições de produção das representações: a cultura, tomada no sentido amplo e no mais restrito, a comunicação e linguagem (intragrupo, entre grupos e de massas), e a inserção socioeconômica, institucional, educacional e ideológica. Logo, tais ordens de fatores envolvem-se com a ênfase do contexto social e das relações estabelecidas nestes âmbitos em uma visão abrangente: a cultural (ARRUDA, 2002).
Na sociedade contemporânea com novas tecnologias existe a possibilidade de se mobilizar em favor da transformação das idéias e posturas que por sua vez marcam representações sociais. Esta postura visa contribuir para a construção de novas imagens e identidades, dentro de seus respectivos campos e projetos teóricos, políticos e sociais (Paz, 2000 apud Paulino, 2007). Assim, o campo representacional se faz dinâmico e ativo frente à interpretação da realidade.

2. Método

2.1 Aspectos Metodológicos

Segundo Chizzotti (2003), o termo qualitativo implica uma partilha densa com pessoas, fatos e locais que constituem objetos de pesquisa, para extrair desse convívio os significados visíveis e latentes que somente são perceptíveis a uma atenção sensível e, após este tirocínio, o autor interpreta e traduz em um texto, zelosamente escrito, com perspicácia e competência científicas, os significados patentes ou ocultos do seu objeto de pesquisa. A partir dessa concepção, esse projeto de pesquisa pode ser apontado como qualitativo.
O presente estudo permeou a necessidade de compreender o processo das representações sociais da velhice, assim como salientar a importância das relações sociais para os aspectos psíquicos dos idosos. Visou-se entrar em contato com “as velhices” existentes nas instituições e possuiu o intuito de verificar a existência de possíveis carências afetivas e conseqüente análise sobre a elaboração psíquica de tal fenômeno.
Com tais pretensões relatadas, essa pesquisa classificou-se como descritiva. Uma vez que de acordo com Gil (2002), esse tipo de pesquisa se caracteriza pela descrição de determinada população ou fenômeno, ou então, o estabelecimento de relações entre variáveis. Em síntese, essa classificação possibilitou a descrição de dados obtidos entre o contato do pesquisador e o tema enfatizado.
O levantamento descritivo forneceu subsídios para a ênfase do presente estudo: as implicações subjetivas da representação social do idoso sobre a velhice, ou seja, o seu funcionamento psíquico a partir das atitudes, crenças e possíveis transtornos decorrentes do campo representacional.

2.2 Caracterização da População


Participaram dessa pesquisa duas idosas residentes do Abrigo São Gabriel, com idades de 78 e 74 anos, ambas naturais do interior da Bahia. Trabalharam em casa de família desde a mocidade e recorreram ao abrigo, uma delas para não “dar trabalho” à patroa e a outra relatou que foi levada pelo genro.
Participaram também duas idosas atuantes em atividades da ASAPCAP - Associação dos Servidores Aposentados e Pensionistas da Previdência Federal da Bahia/ Casa do aposentado, com as respectivas idades de 72 e 81 anos. Uma delas trabalha ensinando corte e costura, formada em moda, também é estilista e figurinista. Buscou a associação como uma oportunidade de trabalhar e se manter ativa. A outra participante é aposentada, trabalhou em órgãos administrativos até após a aposentadoria, atualmente coordena o coral da instituição, atua na diretoria desta e realiza trabalho voluntário no Hospital Aristides Maltez. Esta buscou a associação como espaço de alegria, lazer e reencontros com amigos.

2.3 Procedimentos de Coleta de Dados

A técnica utilizada no presente estudo diz respeito a entrevistas semi-estruturadas com roteiro previamente elaborado. As entrevistas foram compostas de questões que enfatizaram as percepções sobre a fase do envelhecer, as relações sociais, bem como o fenômeno da afetividade.
Segundo Ludke e André (1986), a utilização de entrevista semi-estruturada como instrumento principal de coleta de dados, justifica-se pela flexibilidade que ela concebe ao entrevistador ao adaptar a linguagem e conteúdo ao entrevistado. Logo, é composta por um esquema básico, não rígido, que propicia certo manejo ao entrevistador em realizar ajustes.
Para a realização da coleta, realizou-se o contato com o responsável de cada instituição com a finalidade de explicar os objetivos da pesquisa. Nesse contato, foi agendada a visita às instituições, tanto para conhecer a estrutura geral, ou seja, espaço físico e a realidade da instituição, bem como para apresentar o projeto e solicitar as autorizações necessárias.
Após as autorizações precisas, aplicaram-se as entrevistas para com as idosas das referentes instituições. Salienta-se que em cada instituição houve a participação de duas participantes para a realização da coleta de dados.
No que se refere aos recursos, foram utilizados papel, caneta e gravador. Ao fazer uso do gravador, foram comunicadas e esclarecidas as entrevistadas de acordo com os princípios éticos.

2.4 Análise de Dados

Após a coleta de dados, as entrevistas foram transcritas e os dados, referentes às entrevistas, foram organizados em categorias a fim de facilitar a analise de dados. Uma vez que a categorização se faz técnica de analise de dados utilizada freqüentemente no estudo de campo. Gil (2002) define categorização da seguinte forma:
“A categorização consiste na organização dos dados de forma que o pesquisador consiga tomar decisões e tirar conclusões a partir deles. Isso requer a construção de um conjunto de categorias descritivas, que podem ser fundamentadas no referencial teórico da pesquisa”.  (GIL, 2002, p. 134)
 No decorrer da analise de dados, as informações coletadas foram organizadas em categorias, advindas dos conteúdos emergidos.
Após a categorização das informações, os dados foram comparados entre si, juntamente com as informações obtidas na revisão bibliográfica. Ressalta-se que se buscou realizar paralelos e contrapontos entre os dados coletados e os existentes na literatura, atentando para as possíveis convergências e divergências advindas de tal articulação.

2.5 Procedimentos Éticos

Alguns cuidados éticos foram fundamentais para a realização desse projeto de pesquisa. Solicitou-se a autorização dos responsáveis das instituições, afim de que houvesse a possibilidade de proceder ao contato e aplicação das entrevistas. Dessa forma, os responsáveis assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que possibilitou ao pesquisador utilizar os dados recolhidos, apropriando-se dos dados encontrados na pesquisa, ao lado da divulgação pública dos resultados, as interpretações e explicações da natureza da pesquisa.
O Termo de Consentimento garantiu aos participantes, privacidade, proteção e abertura para esclarecimentos. Uma vez que, se tratando de procedimentos de pesquisa com seres humanos deve-se existir uma prevenção e amenização de possíveis danos provenientes da pesquisa. Os benefícios devem ser significativos quando comparados com as possíveis inconveniências.
Salienta-se a relevância desse estudo, uma vez que englobou não apenas os sujeitos envolvidos no procedimento como também o grupo representado, nesse caso a terceira idade e a sociedade de um modo geral. O produto de tal pesquisa visou colaborar para um maior entendimento acerca da representação deste grupo partindo da concepção dos idosos. Buscou-se suscitar maiores esclarecimentos do processo, visando o bem estar psíquico-social desse grupo.
2.6 Cronograma
Período/ Atividade
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Elaboração do Projeto Monográfico
X
X






Finalização do projeto

X
X





Banca de qualificação


X





Contato com as instituições



X




Entrevistas



X
X



Análise de dados




X
X
X

Finalização do Artigo






X
X
Banca final







X
Quadro 1 - Quadro Cronograma
Fonte: Elaboração Própria

3. Resultados e Discussão

3.1 Análise dos Dados Obtidos com as Participantes do Abrigo São Gabriel

A obtenção de dados oriunda das entrevistas realizadas com duas residentes do abrigo São Gabriel possibilitou ilustrar aspectos relevantes para uma maior compreensão acerca dos conteúdos inerentes as suas representações sociais enquanto idosas. Assim, foi possível verificar como a velhice é percebida, bem como, vivenciada através do relato das participantes nesse contexto.
O primeiro aspecto observado trata-se de uma forte associação da velhice com o adoecimento. Nesse processo, geralmente a imagem do idoso prevalece articulada aos estereótipos relacionados à perda de autonomia, fragilidade, incapacidade e inutilidade.
Paulino (2007) declara que a figura do velho geralmente está atrelada a características desagradáveis, como sisudo, feio e mau. Exemplifica que nas histórias infantis, as idosas, na sua grande maioria, são sozinhas, doentes, degradantes, ou seja, dependentes, improdutivas ou incapazes, denotando fragilidade ou solidão, possuindo um papel secundário. Essas atribuições estão atreladas a uma intensa concepção de degeneração física, que pode ser destacada nos relatos:
“[Eu] Ando, aquele que não enxerga é pior” (M. 78 anos).
“A velhice é isso eu digo todo dia só não quero ficar em cima de uma cama porque é triste depender de um banho, depender da comida uns fazem de bom coração outros não fazem” (M. 78 anos).
Nesses dados, verificam-se conteúdos repletos de significados pré-estabelecidos, de caráter pejorativo. Dessa forma, Paulino (2007) salienta que apesar do avanço científico-tecnológico, não se eliminaram do imaginário social determinados conteúdos e significações pejorativas, dos quais muitos ainda se cultivam e preservam, a exemplo as participantes dessa pesquisa.
“A imagem do velho adquiriu novo significado, principalmente a partir da Revolução Industrial - o mundo do trabalho moderno, privilegiando a produtividade medida pelo lucro, delineou e impôs um perfil perverso de velho/velhice como descartáveis/inúteis, com exceção de uns poucos idosos, consumidores, para os quais se abrem as portas do mercado (pertencendo estes a um outro eixo representacional de distintos senhores)” (PAULINO, 2007, p.86 ).
Dessa forma, entende-se as concepções presentes nos dados em que: “ser idosa é uma pessoa que não tem mais possibilidade de nada” (M 74 anos). Pode-se inferir que a peculiaridade do idoso torna-se mínima quando comparada às limitações decorrentes da naturalidade do envelhecer e isto se relaciona ao objetivo do sistema sócio-econômico que, por conseguinte, estigmatiza a figura do idoso.
Outro aspecto relevante diz respeito ao trabalho: “Gostava e gosto de trabalhar..e agora me vejo sem poder trabalhar..”(M.78 anos).Neste relato, pode-se verificar tanto o desejo da participante em se manter ativa, quanto à sua impossibilidade. A interrupção do mercado de trabalho emergiu nos dados, como sendo um marco da fase de atividade e integração social existente durante as experiências de vida, na qual foram apontadas conquistas e desafios.
A impossibilidade do trabalho, explicitada pela participante, expressa em parte, o padrão moderno que tende a visualizar o idoso aposentado como sendo ultrapassado, não produtivo e não consumidor. Estes idosos não são motivados a permanecerem atuantes principalmente aqueles situados em situações de maior vulnerabilidade, ausentes de recursos.
“Esta apropriação da imagem do idoso, juntamente com a idolatria à juventude-produção-acumulação, resulta num ambiente propiciador de violência, depreciação, ridicularização e exclusão dos mais velhos. No sistema ocidental de produção capitalista, o que se tem é a imagem do velho, discriminado, como o inativo (improdutivo), “vilão dos cofres públicos” (Previdência Social), representando custos para os trabalhadores ativos.” (PAULINO, 2007. p. 93).
Salienta-se que enquanto houver concepções de que o idoso é incapaz de produzir o necessário, discursos serão perpetuados, causando grandes repercussões sobre a subjetividade destes, a começar pelo desejo adormecido em ser uma figura ativa e reconhecida, apontada pelas participantes.
“Nem nossas roupa nos lavamo, nem passa, vem tudo prontinho” (M.74 anos). Essa afirmação ilustra a percepção das participantes sobre o funcionamento da instituição asilar que: “[no abrigo] não exige que a gente trabalhe, a gente faz porque quer” (M 78 anos).Discursos como estes mostram reflexos de significados sociais, nas quais: o idoso não tem a possibilidade de realizar tarefas, nem exercer papéis sociais. Condutas fundamentais para a manutenção da qualidade de vida e enfrentamento da velhice, segundo Vieira (2004).
Nessa instituição, por se tratar de um abrigo, nota-se que existem funcionários para exercer funções diárias, contudo, tornou-se evidente o desejo de ambas participantes, em serem protagonistas, atuantes/ úteis no mínimo, nas atividades cotidianas:
“Gosto muito de costurar.. roupa de boneca (risos) faço roupa de boneca, é assim ajudo a lavar um prato, um copo pra não ficar parada. Lavo minha roupa.. só eu que sei lavar minha roupa.”(M.78 anos).
Para Zimerman (2000) e Deps (2003) apud Luz, Amatuzzi, (2008) além da convivência, o pensar, o fazer e o aprender são fundamentais. O desempenho de atividades são reforços ao sentimento de valor pessoal, autoconceito e auto-eficácia. Logo, possivelmente, a ênfase na importância do trabalho relaciona-se a este pressuposto descrito pelas autoras; e a integração social, juntamente com o reconhecimento de colaboração e participação possibilitado pelo trabalho, que serve como reforço para que o idoso sinta-se bem consigo mesmo.
A realização de atividades e a conseguinte sensação de utilidade proporcionam ao idoso, assim, como a qualquer indivíduo um reconhecimento, autoconfiança nas capacidades, podem promover comportamentos saudáveis, uma vez que: pessoas dotadas de senso de autovalor acreditam no seu poder de controle e são otimistas quanto ao seu futuro; são também mais propensas a praticar hábitos de saúde mais conscientes e a fazer uso dos serviços mais apropriadamente. (TAYLOR, et. al. 2000 apud RABELO, NERI, 2005). Logo, subentende-se a sua importância, bem como, sua necessidade diante a emergência dos dados.
A auto-estima emergiu como um aspecto relevante, pois, notou-se uma tendência a referir-se a velhice como uma fase, na qual não se deve expressar desejos, nem saciar vontades:
“Meu desejo agora, por enquanto eu não tenho nenhum”. (M.74 anos). Questiona-se se esta participante não possui desejos de fato, ou se não os revela devido a possíveis crenças de que o idoso não deve ser vaidoso, nem deve ter necessidade de gozar de momentos felizes, assim como concretizar plano e metas.
“Já fui muito vaidosa.. agora não sou mais..se eu pudesse só vivia numa banheira de perfume..” (M.78 anos). Neste relato, a participante revela não ser vaidosa como antes e em seguida apresenta uma contradição ao explicitar o desejo de saciar essa vaidade, ainda presente. Assim, nota-se uma possível crença perpetuada, de que idosos simplesmente não desejam, não possuem essa necessidade.
Esta crença perpassa a busca social em manter acesa o vigor da juventude, a tal ponto que quando o sujeito alcança a velhice e precisa de um reconhecimento, encontra-se rotulado, ultrapassado, sofrendo muitas vezes discriminações e preconceitos. A baixa auto-estima encontrada nos dados reflete hábitos sociais que visa encobrir o envelhecimento natural, mascarando o que não se destaca o que não tem valor perante o padrão da estética e do consumo.
Para Martins, Camargo & Biasus (2008), os idosos tendem a referir-se a velhice utilizando comparações com passado. Os dados evidenciaram tal embasamento com o seguinte relato: “Eu aceito de boa maneira. Porque já fui jovem, menina, adolescente, fui mulher dona de mim mesmo” (M.74 anos). Neste, as experiências das etapas anteriores aparentaram ser suficiente, verificou-se uma “aceitação” da velhice, não apresentando nenhuma contemplação, ou motivação para a vivência de totalidade a esta fase.
Outra questão extremamente relevante observada nos dados, trata-se da ausência do contato das participantes com os seus respectivos filhos, mais precisamente o abandono por parte destes.
Emergiram deste conteúdo, sentimento de desvalorização, observada no relato: “não me deram valor...depois que formaram bateram asas e vôo” (M. 78 anos), como também, estratégia de enfrentamento utilizada por uma das participantes, que costuma apropriar-se de outra realidade, a exemplo: “Quando perguntam: você tem filho? Não tenho não! Porque não vem...” (M.78 anos).
Salienta-se que visitas, bem como telefonemas de outros parentes e amigos, demonstraram serem situações de fundamental importância para as participantes: “os visitantes que vem aqui me trata muito bem, os filhos da patroa que trabalhei todos vem aqui. Então isso é um presente pra mim, porque não é meu sangue, mas, se lembra de mim e é isso que me enche meu vazio” (M. 78 anos).
“Não tenho revolta... peço a Deus que os abençoe [refere-se aos filhos], peço a Deus que toque no coração deles” (M 78 anos). Vale ressaltar que a religião demonstrou fazer parte de uma possível estratégia de enfrentamento ao distanciamento dos filhos.  Freire e Tavares (2005) salientam que essas questões espirituais são importantes para a experiência de uma velhice saudável, sobretudo aos moradores de asilos, ainda que estes apresentem uma tendência a enfatizar os aspectos negativos da velhice (realidade das participantes).
Observa-se que o Dono do abrigo foi explicitado como uma figura de admiração, feição e também de representação. Com relação aos funcionários, estes também foram mencionados através do cuidado e da atenção: “esse pessoal aqui dá carinho a gente. Como você mesmo linda! [referiu-se a entrevistadora] Amo as pessoas assim” (M.78 anos)Pode-se inferir que tais figuras, possibilitam um preenchimento ao vazio ocasionado pelo abandono dos filhos, uma vez que possibilitam uma relação de assistência e afeto.
 A ausência da participação efetiva das relações familiares, encontradas nos dados permeia uma reflexão, na qual a velhice no ambiente urbano tem se caracterizado como uma sobrecarga para a família, tendo como premissa para a não manutenção dos idosos nas famílias, devido algumas questões do tipo: limitação dos espaços físicos das residências e a oferta de atendimento contínuo as necessidades dos idosos. (SANTOS et. al 1994 apud ARAUJO et. al, 2005).
Logo, pode-se dizer que “as sabedorias” oriundas das experiências de vida dos idosos, em sua grande maioria não são visualizadas pela sociedade. Dessa forma, suas bagagens pesam e não são consideradas um requisito de aprendizado e enriquecimento, pelo contrário, são tidas como ultrapassadas frente ao ritmo acelerado da modernidade. Assim, toda a intolerância, falta de respeito, ausências de direitos, maus-tratos, abandono, dentre outras posturas, demonstram um lado sombrio da contemporaneidade que visa apenas resoluções imediatas baseadas na premissa da eterna juventude.

3.2 Análise dos Dados Obtidos com as Participantes da Associação da Previdência Social

Os dados oriundos das entrevistas realizadas com idosas atuantes da associação da previdência social permitem ilustrar aspectos obtidos das entrevistas realizadas com participantes residentes do abrigo São Gabriel, contudo, de outro ângulo. Ressalta-se que outros pontos emergiram e contribuíram para uma maior compreensão acerca das representações sociais da velhice.
O significado do trabalho aparentou ser um conteúdo extremamente rico. Primeiramente foi explicitado como uma possibilidade de reconhecimento social: “desejo ser reconhecida, já tem pessoas que enxergam e admiram meu trabalho” (M. 72 anos). Esse relato demonstra uma busca pela autonomia, atrelada à realização profissional que corresponde a uma quebra ao estigma a figura do idoso, rotulado constantemente como improdutivo e incapaz.
Nesse sentido, Paz (2000) apud Paulino (2007) salienta que idosos “produtivos”, ou seja, atuantes vem marcando sua presença em diferentes setores e grupos sociais. O autor declara que dessa forma, se tem uma contribuição para a mudança de rótulos e imagens pejorativas, bem como uma luta para alcançar novos e importantes espaços. Isto se deve pela consciência que se tem da importância que a atuação exerce sobre a preservação da identidade do idoso que tende a construir, reafirmar e expandir a sua cidadania.
Ressalta-se que ao lado da busca pelo reconhecimento social, queixas relacionadas ao preconceito também foram apontadas: “as pessoas discriminam: ah com essa idade na faculdade? Até os professores, mas eu enfrento. Isso ai não me abala não” (M.72 anos). Relatos como este propiciam reflexões acerca da inserção do idoso a faculdade, uma vez que em sua maioria, este não é motivado a dar segmento aos estudos devido às atitudes discriminatórias, que o julgam como impróprio para ocupar aquele espaço.
Caldas (1997) apud Paulino (2007) coloca que a desvalorização do idoso e a obsolescência que lhe é imposta, levam freqüentemente a diminuição do seu meio social. A ausência de estímulos á sua participação costuma gerar sentimentos de inutilidade e desgosto, que freqüentemente culminam em sofrimento. Logo, pode-se inferir que devido ao preconceito existente na sociedade, muitos idosos possuem receios de encarar esses obstáculos e optam em não seguir com possíveis metas de realizações.
Observou-se que o trabalho proporciona um sentimento de utilidade: “Lá do interior da alma da gente tem: ainda sou útil” (M. 81 anos). Essa participante expressou o quanto lhe é gratificante exercer um trabalho voluntário. Isto se deve não apenas a afinidade com a atividade em que exerce, mas precisamente com a eficiência e autoconfiança nas suas capacidades, visualizadas com a oportunidade que tem em atuar.
As limitações e dificuldades decorrentes do desgaste orgânico do avançar da idade não devem imperar sobre preconceitos, pois às vezes basta o idoso ter a oportunidade de atuar para exercer seu potencial, entretanto ainda se encontram crenças sociais bastante enraizadas que o intimidam a ocupar esse lugar de destaque.
A vivência do trabalho foi direcionada para a realização pessoal e profissional. Evidenciou-se que as atuações proporcionam conquistas, desafios, bem como, a oportunidade de evidenciar potencialidades e concretizar metas:
“Trabalhei muito. Dez anos depois de aposentada me fizeram uma homenagem, o serviço me convidou a retornar ao trabalho, passei quatro anos, isso foi um prêmio, um mérito” (M.81anos).
A remuneração advinda do trabalho foi explicitada como um importante meio para um investimento pessoal, no sentido de possuir recursos para a realização de desejos e vontades pessoais: “ganho relativamente bem. Faço as coisas que quero” (M.81 anos).
Outro aspecto analisado nos dados trata-se do vínculo que as participantes possuem a instituição. Neste, a qualidade das relações interpessoais foram destacadas como sendo repleta de ganhos, aceitação pelos demais integrantes e afeto.  O ambiente foi explicitado como um meio de oportunidades de estabelecer laços de amizades, reencontros, constante interação e também de felicidade:
“Às vezes a gente ta num ambiente e as pessoas ficam como uma concha retraída. Aqui é a minha praia, quando eu chego todo mundo fala, entretanto eu era outra pessoa que estava ali escondidinha e abrochou” (M.72 anos).
“Aqui na associação é muita alegria, existe muito carinho com o outro. Cada um demonstra o que tem de bom, casa um doa ao outro o que tem de melhor. Então eu digo sou muito feliz por estar num ambiente desses” (M.81 anos).
Paz (2000) apud Paulino (2007) declara que idosos atuantes em atividades, de um modo geral apresentam modificações positivas: como a reconquista da auto-estima e a ampliação das amizades, observada nos relatos. O autor enfatiza também que o engajamento nas atividades pode desenvolver potencialidades, desconhecidas ou inexploradas que proporciona prazer, lazer e novos conhecimentos. Dessa forma, compreende-se a satisfação das participantes ao contexto inserido, pois demonstram fazer parte de um espaço de reconhecimento, alegria e constante aprendizado.
Outro fator acentuado trata-se da importância que as participantes alegam ter do apoio familiar. A família emergiu como sendo um propulsor de incentivo, observada nos seguintes relatos:
“Eu não me sinto só porque minhas irmãs estão ali, tenho o apoio delas, isso tudo que eu faço elas me incentivam” (M.72 anos).
“O apoio dos meus filhos é mais que importante, pra mim minha família é tudo, é a coisa melhor da vida” (M.81 anos).
Dessa forma, pode-se inferir que os laços familiares contribuem para a efetivação das práticas exercitadas, bem como para o ritmo atuante que as participantes possuem. A família reflete como um estímulo de segmento, um facilitador frente às adversidades, conquistas e desafios à vivência da velhice.
A velhice foi expressa como “um processo de mudança, um processo natural que todo mundo tem que passar” (M.72 anos), foi abordada como uma possibilidade de contemplação: “envelhecer é viver, é um prêmio à gente poder viver, de conhecer todas as fases da vida” (M.81 anos).
Nesse sentido, pode-se dizer que a imagem da velhice permeou uma conotação positiva. Aerosa (2004) apud Paulino (2007) considera que há uma imagem positiva sobre a velhice, quando se tem uma naturalidade a essa fase, onde ser velho envolve um estilo de vida ativo e se pensa mais na forma como o indivíduo vivencia seu cotidiano do que simplesmente como na etapa ligada às limitações físicas e a idade cronológica.
“Ser idoso é gratificante.. Já pensou morrer jovem?” (M.81 anos). Essa participante acentua um tema polêmico: a morte. Desmistifica a idéia presente na sociedade de velhice-morte, chama atenção para o fato de que a morte não chega apenas para o idoso, aponta que estes são felizes, pois tiveram a possibilidade de desfrutar todas as fases de desenvolvimento.
“Sei que não me visto como deveria para uma pessoa da minha idade” (M.72 anos). Esse relato abre espaço para um curioso questionamento: como o idoso deve se vestir? Por que não tem o direito de opinar sobre o seu traje? Discursos como este tem repercussões pelo fato do idoso ainda ser uma figura marcada por uma tamanha generalização. Assim, muitos sofrem de baixa autoestima, possuem uma vaidade reprimida, ainda presente e viva, que por conta de estereótipos firmes não são vistos como indivíduo peculiar, mas sim como o velho sem oportunidades de escolha.
“Sei que sou idosa, mas graças a Deus eu to ainda resistindo a tudo, dou aula, participo, eu danço, eu sambo,vou aqui e vou ali, todo dia eu caminho...” (M.72 anos).Nota-se que esse “resistir a tudo” aparenta estar relacionado à figura tradicional do idoso sedentário e passivo. Logo, verifica-se que a participante contradiz essa imagem, lutando contra as limitações do envelhecer ativamente: “mesmo porque se a pessoa ficar muito parada, enferruja” (M.72 anos).
É com essa presença e participação, em todos os núcleos que os idosos estão a nos mostrar que são belos velhos trabalhadores; tanto no passado quanto no presente, permanecerão sempre trabalhadores e, como tal, compartilham dessa identidade e, assim, continuarão a contribuir na construção dessa nação, no seu desenvolvimento social, econômico e cultural”. (Paz, 2000, p.81 apud Paulino, 2007, p.97)
Observou-se que ao lado do apoio familiar, as participantes encontram-se inseridas em um contexto que estimula constantemente o alcance de progressos e realizações. A concepção de velhice foi permeada como uma etapa possível de sentir alegria, prazer, aprendizado e felicidade: “Sou uma velha feliz e agradeço a Deus” (M.81 anos). Assim, considera-se Minayo (1995) apud Paulino (2007) na qual a velhice pode ser uma etapa da existência passível de ser desfrutada saudavelmente.

3.3 Resultados e Discussão de Ambas as Análises dos Dados

A análise dos dados possibilitou uma maior compreensão e reflexão acerca de duas realidades distintas que marcam a experiência do envelhecer para inúmeros indivíduos. Trata-se das instituições: Abrigo São Gabriel e da Associação da Previdência Social para aposentados.
Novaes (1995) apud Paulino (2007) salienta que a instituição que o idoso vincula-se interfere sobre os significados que este pode ter frente as suas representações.  O autor aponta que o idoso pode ser representado como um sujeito ainda potencializado, motivado para aprender e ser “produtivo”, ou contrariamente passivo, incapaz e sem vitalidade, podendo sofrer variações entre um pólo e outro.
Nesse sentido, verificaram-se variações significativas emergidas entre os dados das participantes. As idosas que residem na instituição de longa permanência (abrigo) consideraram o ambiente como um espaço de assistência, atenção, cuidado e certo acolhimento, contudo, percebe-se que pela restrição a um maior contato externo, juntamente com as dificuldades de recursos que promovessem uma maior interação, as suas representações enquanto idosas perpassaram um caráter pejorativo.
Logo, verifica-se que as instituições de Longa Permanência se por um lado desempenham seu papel de acolhedora, por outro com as normas internas contribuem para o afastamento dos problemas sociais externos, proporcionando um confinamento social, ficando os idosos restritos apenas a vida asilar (ALCÂNTARA et. al 2004 apud ARAÚJO et. al, 2005).
Ressalta-se que a realidade das participantes que residem no abrigo perpassa um baixo poder aquisitivo e o abandono por parte dos filhos. Assim, considera-se que possivelmente não tiveram oportunidades, nem incentivo familiar de permanecerem atuantes no mercado, bem como de exibir os talentos e potencialidades que possibilitassem espaço para uma nova imagem da velhice, como as participantes da associação da previdência demonstraram possuir.
As participantes inseridas no contexto da Associação da Previdência Social referiram ao ambiente que atuam como sendo um espaço em que há oportunidade de constante interação, realização, reconhecimento social, onde: “ser idoso é gratificante” (M.81 anos). Por conseguinte, tiveram representações marcadas por um teor positivo, quando comparada às participantes residentes do abrigo São Gabriel, que expressaram: “ser idosa é uma pessoa que não tem mais possibilidade de nada”.
Nesse sentido, Teixeira(2002) apud Paulino (2007) declara que espaços como este, direcionados a promoção da saúde mostra-se como um lugar pertinente de agente de mudanças, pois há uma valorização do processo de envelhecer, apoiado na construção positiva da velhice.
Ressalta-se que nesse mesmo contexto, assim como na instituição de longa permanência, encontram-se dados constituídos de significados de caráter estereotipado, observado nas falas:
Quando a gente se aposenta, a gente recolhe né?” (M.81 anos)
“Não me visto como deveria para uma pessoa da minha idade” (M.72 anos)
Estes relatos apontam para concepções ainda pautadas em crenças estigmatizadas sobre a velhice, contudo verifica-se que essas participantes lutam e se diferenciam diante o padrão estereotipado do idoso como sendo passivo e sem possibilidades: “não vou ficar: ah não vou fazer isso porque já sou uma idosa, não” (M.72 anos).
Um aspecto em comum analisado entre as participantes de ambas as instituições, trata-se da menção que estas utilizam a Deus. Pode-se inferir que a ligação com a divindade mostrou-se como uma ferramenta de auxílio, ou seja, uma estratégia de enfrentamento para eventos críticos e estressantes da vida.
Notou-se outro aspecto em comum emergido nos dados, o preconceito. Teixeira (2000) apud Paulino (2007) declara que a cultura existente ainda não reconhece o valor do idoso, nem quer assumir tal condição. Dessa forma, salienta-se que as representações sociais da velhice ainda propiciam atitudes desrespeitosas advindas de discriminações enraizadas no social que desvaloriza constantemente os indivíduos pertencentes a essa faixa etária, ao mesmo tempo em que idealizam outras, em destaque a juventude.
Verifica-se que as participantes do abrigo enfatizaram o preconceito de uma forma indireta, implícita nos relatos, já as participantes da associação da previdência explicitaram o tema diretamente, realizando uma leitura crítica desta.
Paz (2000) apud Paulino (2007) aponta para a importância da consciência crítica na qual, torna-se mais viável construir socialmente um imaginário em que a velhice seja percebida e vivenciada como um processo de vida, e não de morte, dotada de ritmo individual, único, expressa pela singularidade em cada ser humano.
Para idosos atuantes que contribuem para a transformação da concepção da velhice, como as participantes da associação, Paz (2000) apud Paulino (2007) declara que marcam sua existência e presença, registram sua história de vida, no tempo e no espaço e, desse modo, cultivam e exemplificam sua existência, contribuindo socialmente e combatendo formas de negação e anulação.
Percebe-se a existência de extremidades por parte das instituições. De um lado visualiza-se um pólo rodeado pelas limitações do contexto (abrigo), bem como de carência afetiva (abandono) e do outro pólo, o ativo ritmo de participação de atividades nas quais, as participantes possuem o apoio familiar e renda para investir em realizações pessoais.
Nesse quadro, analisa-se que as representações sociais da velhice do pólo do abrigo contemplam crenças, pensamentos e concepções baseadas em rótulos e concepções pejorativas, enquanto que no outro pólo, observa-se uma transformação, uma luta pela quebra de um estigma que contribui para o sofrimento psíquico do idoso. Essa aparente transformação se deve pelas oportunidades que as participantes possuem em atuar, o que possivelmente não ocorreu com demais participantes residentes do abrigo.
Paulino (2007) declara que deve haver meios de participação social que incentivem uma maior presença de atores nas lutas sociais, que desbravem um novo rumo na construção de uma nova imagem que contribua para dissipar a velha imagem de solidão, inutilidade, fragilidade e imprestabilidade, em direção a uma nova imagem do idoso, da velhice.
Debert (1997) apud Paulino (2007) ressalta a importância de propor ações que contemplem igualmente os mais fragilizados não se limitando a proporcionar uma velhice saudável, com qualidade de vida, apenas aos que podem pagar. Estes meios de divulgação das imagens dos velhos, ou qualquer outro grupo social podem ser instrumentos para construção de novas imagens e novas possibilidades buscando valorizar a pessoa idosa e difundir outros papéis sociais para este grupo na sociedade.
Logo, torna-se necessário repensar acerca de novos meios que beneficiem não apenas idosos que possuem certo recurso, mas também aqueles que se encontram a margem, que possuem um baixo poder aquisitivo e em sua grande maioria são esquecidos pela arte de lembrar.

4. Considerações Finais

Esse estudo visou averiguar as Representações Sociais de idosos acerca da Velhice de forma comparativa entre idosas residentes do Abrigo São Gabriel e da Associação da Previdência Social para aposentados. Os dados obtidos possibilitaram observar as distintas realidades a que as participantes estão inseridas, bem como compreender de que forma percebem e vivenciam a fase do envelhecimento.
Os dados revelaram que as participantes deste estudo constituem suas Representações Sociais acerca da velhice em conotações distintas. Apesar de haver pontos em concordância, a exemplo de crenças baseadas em estereótipos, notou-se a existência de dois vieis, uma predominância de conotações negativas, fortemente associadas ao processo de adoecimento e o outro marcado pela quebra a imagem pejorativa ao idoso.
Verificou-se a existência de dois pólos, se por um lado às idosas atuantes da associação da previdência social participam de inúmeras atividades sócios recreativas, trabalham e estão envolvidas em movimentos da promoção a saúde, no outro pólo, idosas inseridas na instituição de longa permanência vivenciam seu processo de envelhecimento sob as normas e restrições ao contato externo, encontrando-se por sua vez limitadas as atividades e ao funcionamento da instituição.
Pode-se perceber que ainda se repercute em diversas formas (crenças, concepções, atitudes, símbolos) a constituição de um significado social que intimida o idoso, quando o julga como incompetente, ultrapassado, quando o desrespeita até mesmo de forma indireta, quando o restringem seus prazeres e direitos como cidadão.
Nota-se que a desigualdade social reflete nas possibilidades de uma transformação nas representações, pois idosos sujeitos a margem (que não possui certo poder aquisitivo) encontram-se sem possibilidades de mostrar suas capacidades e potencialidades. Verificou-se que as idosas que tiveram a oportunidade de atuar, estão gradualmente realizando mudanças em suas atuações, reconhecimentos, busca de autonomia e realizações.
Nesse sentido, torna-se fundamental refletir sobre possíveis práticas que incentivem e possibilitem idosos “a margem” de obterem um estímulo para sair do lugar estigmatizado e adentrar rumo à mudança das representações sociais da velhice.
Ressalta a necessidade de estimular a criação/organização de canais de comunicação, informação, expressão que sejam difusores de imagens mais positivas, bem como de denúncia e combate a maus tratos, violência, exclusão e depreciação. Enfim, incentivar novos aprendizados, na atualização social, cultural e política, e também lazer, recreação e integração. (PAZ, 2000 apud PAULINO, 2007)
Paulino (2007) salienta a importância da participação de profissionais das mais diversas áreas de conhecimento e intervenção, segundo a autora se faz evidente a necessidade de unir esforços na luta pela conquista de seus direitos, enquanto cidadãos, bem como na construção, junto ao idoso, de um pensar mais aberto, mais consciente de suas capacidades e potencialidades, na busca de uma melhor qualidade de vida para seus atores.
Por fim, há a possibilidade de recriar e construir um novo imaginário, redefinindo o papel do idoso, não mais no sentido depreciativo, mas como um ciclo de vida em processo, dignificante, não encerrado, senão pela morte orgânica (BÉRENCE, 1971 apud Paulino, 2007)

Sobre o Trabalho:



Fonte: http://artigos.psicologado.com/psicologia-geral/desenvolvimento-humano/representacoes-sociais-de-idosos-acerca-da-velhice#ixzz2DzeZ0bms
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TDAH e as Dificuldades de Aprendizagem: Estratégias para um relacionamento saudável entre a criança e a sociedade Escrito por Débora Cristina Campestrini e Tânia Mara Nüssner Categoria: Transtornos Psíquicos 1111111111Avalie este Artigo: Resumo: O tema deste artigo, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, anda bastante em alta. O que seria muito bom se fosse sempre tratado da maneira correta, porém o que se vê é o termo sendo usado de forma pejorativa, por falta de conhecimento científico adequado. É um problema sério, de interesse para a saúde pública e para a sociedade em geral. Só que isto caiu no senso comum: hoje em dia todo mundo tem um filho hiperativo ou com problemas de atenção, sem nem ao menos saber ao certo o que é TDAH. O objetivo deste trabalho é esclarecer o que é o transtorno, suas possíveis causas, formas de diagnóstico e tratamento e principalmente, qual a melhor forma de se relacionar com a criança ou adolescente que o possui, dentro de casa no relacionamento com os pais e na escola, com os colegas e professores. Palavras-chave: Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Criança. Aprendizagem. Tratamento. 1 Introdução Este artigo tem por objetivo atender ao requisito da disciplina de Problemas de Aprendizagem Escolar, do curso de Psicologia da FAMEG/UNIASSELVI, em que foi solicitado abordar um tema que estivesse diretamente voltado para a disciplina, como forma de aprofundar mais o assunto. A escolha do tema deu-se em função de que, entre os mais conhecidos problemas de aprendizagem, o TDAH é o que envolve mais preconceito, ressaltando que não há uma deficiência “visível” na criança. Ao contrário de deficiência física, aonde todos compreendem o porquê do aluno ter de usar cadeira de rodas, ou deficiência visual, que todos respeitam o fato de ter de usar óculos, as crianças com TDAH são vistas apenas como mal-educadas ou até mesmo preguiçosas ou burras. Sabe-se que hoje o TDAH é um dos maiores problemas clínicos e de saúde pública, causando impacto na sociedade pelo alto custo, pelo estresse envolvido, pelas dificuldades acadêmicas, pelos problemas de comportamento e pela baixa autoestima. Apesar de acarretar sérias dificuldades na vida da criança portadora de TDAH, buscaremos mostrar que com o diagnóstico e tratamento adequados, este problema poderá ser superado sem grandes danos. 2 O Que é o TDAH É considerado um transtorno de desenvolvimento, acometendo cerca de 3 a 6% das crianças e persistindo na vida adulta em mais da metade dos casos (ROHDE et al., 2003). É mais frequente em meninos do que em meninas. As características básicas são a desatenção, a hiperatividade e a impulsividade, podendo variar em menor ou maior grau. Mas é bem mais do que isso. Não se trata apenas de uma questão de estar desatento ou hiperativo, muito menos de um estado temporário, uma fase “normal” da infância. Também não é falta de disciplina ou controle parental, nem algum tipo de “maldade” da criança (BARKLEY, 2002). Até pouco tempo atrás, pouco se sabia sobre a hiperatividade e as dificuldades na capacidade de se fixar a atenção. Muitos acreditavam que eram distúrbios diferentes, que surgiam paralelamente, que a hiperatividade se extinguia na adolescência. A criança, sendo agitada, excessivamente ativa e desatenta era por si só culpada (ANTUNES, 2001). Porém, as origens desse mal já eram motivo de suspeitas médicas há muitos anos. O pediatra Georg Frederic Still em 1902 já alertava para o fato de que a desatenção e a hiperatividade estariam relacionadas. Depois de muitos estudos, em 1966, Clements denominou “déficit de atenção” a síndrome que vinha preocupando tantos especialistas. Em 1975 a definição foi incluída na CID-9. Na década de 1980, através de recursos como tomografias, ressonâncias e outros exames, múltiplas disfunções cerebrais puderam ser melhor diagnosticadas. Daí em diante surgiram várias nomenclaturas, até chegar ao nosso idioma como TDAH. Mas antes disso foi chamada de DDA (Deficiência de Déficit de Atenção), DHDA (Distúrbio da Hiperatividade com Déficit de Atenção), ou ainda TDAHI. Convém destacar que a polêmica quanto à nomenclatura não é o relevante da questão, mas sim saber tudo que é possível sobre este problema, identificar formas de diagnosticá-lo e buscar meios para eliminar a carga excessiva de culpa e responsabilidade. Também é importante perceber o fato de que nem todo caso de desatenção, agitação, descontrole emocional, impulsividade e excitação é necessariamente um caso de TDAH (ANTUNES, 2001). Atualmente o DSM-IV define o TDAH como uma síndrome neurocomportamental com sintomas classificados em três categorias: desatenção, hiperatividade e impulsividade. De acordo com Rotta et al. (2006), caracteriza-se por um nível inadequado de atenção em relação ao esperado para a idade, levando a distúrbios motores, perceptivos, cognitivos e comportamentais. 2.1 Fatores que Podem estar Relacionados ao TDAH Apesar do grande número de estudos já realizados sobre o TDAH, suas causas exatas ainda são desconhecidas (ROHDE et al., 2003). A presença de co-morbidade, ou seja, a relação do TDAH com algum outro transtorno ou fator, dificulta o prognóstico. Pode estar relacionado com algum transtorno de aprendizagem (Dislexia, Disgrafia ou Discalculia), Transtorno de linguagem, Epilepsia, Transtorno Desafiador de Oposição, Transtorno de Conduta, Transtorno do humor, abuso de substâncias psicoativas, depressão, TAB (Transtorno Afetivo Bipolar), Transtorno de Ansiedade, Enurese, ou até mesmo Transtorno de Tiques. A investigação genética sugere hereditariedade: pais que apresentam TDAH são mais propensos a ter crianças com o mesmo transtorno. Ou seja, os genes parecem ser responsáveis não pelo transtorno em si, mas por uma predisposição ao TDAH. O risco é de 13-17% para meninas e 27-30% para meninos, (BARKLEY, 2002), mas não está claro por que meninos têm maior risco do que meninas da mesma família. As razões podem estar na genética do próprio sexo masculino, que pode apresentar maiores riscos biológicos associados. Do ponto de vista fisiopatológico, os sintomas do TDAH são originados por disfunções no funcionamento cerebral (ROHDE et al., 2003). O déficit central seria uma falha na inibição comportamental, e, como consequência, nas demais funções executivas. A maioria das crianças com dificuldades de aprendizagem não tem uma história de lesão cerebral. Outros fatores parecem ter associação, mas não uma relação de causa e efeito. A nicotina e o álcool, quando ingeridos durante a gravidez, podem causar alterações em algumas partes do cérebro do bebê. Pesquisas indicam que mães alcoolistas têm mais chance de terem filhos com problemas de hiperatividade e desatenção (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO DÉFICIT DE ATENÇÃO, 2011). Problemas familiares não causam TDAH, mas podem agravá-lo. A ideia de que problemas familiares como alto grau de discórdia conjugal, baixa instrução da mãe, famílias com apenas um dos pais, funcionamento familiar caótico e famílias com nível socioeconômico mais baixo poderiam ser a causa do TDAH nas crianças está sendo refutada. As dificuldades familiares podem ser mais consequência do que causa do TDAH (na criança e mesmo nos pais). Várias outras causas já foram levantadas, mas foi comprovado cientificamente que não há relação, tais como: corante amarelo, aspartame, deficiências vitamínicas e hormonais e até mesmo que a exposição à luz artificial teria efeito. 2.2 Diagnóstico do TDAH O diagnóstico de TDAH tem por objetivo determinar um plano de tratamento que envolva o paciente e sua família. Deve ser feito por algum profissional, como psiquiatra, terapeuta ocupacional, psicólogo, ou neuropediatra. Segundo Rohde et al (2003), pode-se também recorrer à ajuda de outros profissionais para uma avaliação das capacidades auditiva e visual, que podem apresentar déficit. A avaliação psicopedagógica envolve anamnese com os pais ou responsáveis; entrevistas com a criança ou o adolescente; análise de todo o material escolar e contato com a escola (ROHDE et al., 2003). São avaliados os seguintes aspectos: habilidades metalinguísticas, leitura, escrita, matemática e outras habilidades como noções espaciotemporais, lateralidade e memória. O processo de avaliação envolve a coleta de dados com os pais e com a criança ou adolescente, e também com a escola. Às vezes os professores maximizam os sintomas, principalmente quando se encontra algum transtorno de comportamento. A noção de sintomatologia entre professores ainda é fraca, mas ainda assim, podem ser bons informantes do que acontece com seus alunos. O passado da criança e de seu desenvolvimento no contexto de sua família, sua cultura e sua comunidade também merece atenção. É necessário investigar características individuais da criança e de sua família e os fatores ambientais que as influenciam. O papel dos pais na avaliação é muito importante, pois eles relatam mais facilmente do que as crianças os sintomas (ROHDE et al., 2003). Principalmente no caso de crianças que ainda não tem idade para falar ou que possuem dificuldades para expressar-se verbalmente, o relato dos comportamentos pelos pais é relevante. Devem ser pesquisados também o desenvolvimento neuropsicomotor e cognitivo, o funcionamento escolar, a maneira como a criança estabelece a relação com seus pares, a forma como a família se organiza e como a criança é inserida nesse contexto, a história de seu desenvolvimento físico e o seu relato de doenças. Embora muitos sintomas de TDAH sejam observáveis desde muito cedo na infância, ficarão mais óbvios em situações que exijam atividade mental prolongada, e é por este motivo que muitos casos somente serão percebidos no início das atividades escolares (SMITH; STRICK, 2001). Segundo o DSM-IV (apud Rotta et al., 2006) os critérios diagnósticos para TDAH são: Desatenção Falta de atenção na escola, com erros frequentes em tarefas simples; Dificuldade para manter a atenção em atividades em grupo; Falta de atenção à fala direta; Erros em seguir instruções, com dificuldade para finalizar tarefas; Dificuldade para organizar atividades escolares e tarefas; Falta de êxito na execução de tarefas escolares que requerem atenção sustentada; Distração fácil aos estímulos externos. Hiperatividade Movimentos constantes de braços e pernas; Frequentemente levanta durante a aula; Hábito de correr em situações inadequadas; Dificuldade de permanecer sentado ou participar de atividades em grupo; Hábito de falar em excesso. Impulsividade Dificuldade para esperar sua vez; Interrupções ou intromissões na conversa dos outros. O diagnóstico diferencial levará em conta: que os sintomas devem estarpresentes por mais de seis meses; algum sintoma estar presente antes dos sete anos; algum problema relacionado aos sintomas estar presente em dois ou mais lugares (por exemplo, casa e escola); apresentar problemas significativos nos âmbitos sociais, acadêmicos ou ocupacionais e devem ser excluídas outras desordens mentais (ROTTA et al, 2006). Rohde et al (2003) realizaram uma amostragem de 170 adolescentes entre 12 a 14 anos e encontraram um padrão de sintomas de desatenção e hiperatividade/impulsividade e de repetências escolares similar entre os que não tinham TDAH e aqueles que apresentavam pelo menos cinco sintomas. De qualquer maneira, o importante não é se restringir ao número de sintomas, mas sim ao grau de comprometimento. A pesquisa de sintomas relacionados com co-morbidades é essencial, uma vez que sua presença tem altos índices, complica o processo diagnóstico e tem grande impacto. As formas mais graves de TDAH estão associadas com maior presença de co-morbidades e adversidades psicossociais (ROHDE et al., 2003). Existem instrumentos para avaliação de co-morbidades, sendo o mais utilizado clinicamente e o mais confiável o K-SADS-E. A identificação e intervenção precoces são críticas para crianças com TDAH. Quanto antes o problema é reconhecido, menos provavelmente o comportamento antissocial ou os problemas emocionais irão desenvolver-se. Também será menos provável que os pais culpem a si mesmos pelo comportamento difícil da criança. É preciso analisar o tipo de comprometimento para então poder estabelecer prioridades no atendimento a estes portadores. A partir do momento que se obtém este diagnóstico, os pais não devem de forma alguma, simplesmente “rotular” o seu filho e aceitar o fato como tal, achando que não há nada a ser feito e assim, tirando sua responsabilidade do problema. Devem, portanto, partir para o tratamento adequado. 2.3 Tratamento De acordo com a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (2011), o tratamento do TDAH deve ser multimodal, ou seja, uma combinação de medicamentos, orientação aos pais e professores, além de técnicas específicas que são ensinadas ao portador. Encontramos na literatura várias medicações recomendadas no tratamento de crianças com TDAH, como estimulantes, antidepressivos e antipsicóticos. Segundo Brown (2007), estes medicamentos apenas aliviam, mas não curam; o alívio persiste apenas enquanto a medicação estiver ativa no sistema. Existem diversas formas de intervenção psicoterápica. Uma das formas mais utilizadas é a Terapia Cognitivo-Comportamental, que parece ser a mais adequada no manejo dos sintomas. O terapeuta deve funcionar como um treinador, dando instruções e sinalizando. A ênfase da terapia está em identificar as estratégias e as crenças de auto-sabotagem do paciente, debilitando-as com as intervenções e encorajando comportamentos que facilitarão o desenvolvimento de abordagens mais positivas e favoráveis (BROWN, 2007). Deve ficar bem claro para a família que se trata de um problema crônico, e que o objetivo de qualquer tratamento escolhido não é curá-lo, mas reorganizá-lo e viabilizar um comportamento satisfatório na família, na escola e na sociedade. Dessa forma evita-se a discriminação da criança. Brown (2007) alerta para o fato de que crescer com o transtorno sem nenhum tratamento pode expor o indivíduo às frustrações diárias e aos embaraços que provocam danos enormes na autoconfiança e no comportamento pessoal. A pessoa reduz suas expectativas e evita oportunidades de ter mais amigos, melhores empregos e aumento no status pessoal. 3 TDAH Enquanto Dificuldade de Aprendizagem Primeiramente, é importante formular uma adequação na terminologia. Assim, os problemas na aprendizagem podem ser classificados em duas categorias: dificuldades ou transtornos. As dificuldades de aprendizagem podem ser naturais (de percurso) ou secundárias a determinadas patologias (ROHDE et al., 2003). As dificuldades naturais são oscilações no rendimento escolar relacionadas a aspectos evolutivos do aluno ou decorrentes de metodologia inadequada, de padrões de exigência da escola, de falta de assiduidade do aluno e de conflitos familiares eventuais. Já nas dificuldades secundárias, as alterações de aprendizagem são consequência de outros quadros que podem ser detectados e que atuam primariamente sobre o desenvolvimento humano normal e secundariamente sobre as aprendizagens específicas. Nem todo indivíduo com TDAH apresenta dificuldades na aprendizagem. As dificuldades atencionais podem ser compensadas pelo uso de um bom potencial intelectual, interesse pelo conhecimento e condições didáticas adequadas. Os transtornos de aprendizagem compreendem inabilidades específicas. Tanto a CID-10 e o DSM-IV tem descrições muito parecidas do conceito de transtornos de aprendizagem. Ambos reconhecem três tipos: de leitura, escrita (ou soletração) e habilidades matemáticas. Então, o TDAH entraria como uma co-morbidade dos transtornos de aprendizagem, e não como tal. O fato é que há um maior comprometimento no funcionamento do indivíduo quando apresenta co-morbidade do que quando apenas o TDAH está presente. 3.1 O Papel dos Pais Detectado o transtorno através de um profissional, este deve dar toda a orientação necessária para os pais. É no âmbito familiar que a criança buscará mais apoio, portanto os pais devem estar preparados. Existem livros e programas de treinamento que ensinam pais a utilizar estratégias para lidar com problemas comportamentais decorrentes do TDAH. Paciência é fundamental, já que a criança com TDAH pode demorar mais para fazer as mesmas atividades que uma criança normal. Outros aspectos que podem ajudar é fazer lembretes e listas de tarefas a cumprir e estabelecer uma programação de estudos. Os pais devem reforçar várias vezes os comportamentos que desejam que o filho tenha. Os pais devem tomar cuidado para não adotarem papéis opostos. Brown (2007) afirma que muitas vezes ocorre de entre os pais ter o papel do “cobrador” e o do “afável demais”. Isto pode acabar desviando da tarefa de decidirem juntos quando devem ser mais flexíveis e quando devem ser mais compreensivos e gerar calorosas discussões que acabam fugindo do foco. A Associação Brasileira de Déficit de Atenção (2011) recomenda recompensar progressos sucessivos ao invés de esperar pelo comportamento perfeito. Os portadores tem mais dificuldade em lidar com recompensas a longo prazo. 3.2 O Papel da Escola Para Rohde et al (2003), antes de abordar a intervenção da escola no aluno com TDAH, é interessante tratar de algumas questões que afetam o desempenho e a adaptação escolar desse aluno, sendo: o atual sistema educacional brasileiro; as implicações educacionais e o rendimento escolar do aluno com TDAH; o papel e a função da escola e do professor no processo de identificação e manejo de crianças com TDAH no sistema educacional. Muitos pais imaginam que a escola tem algum tipo de atendimento próprio para esses alunos hiperativos e desatentos. Porém, esses alunos têm um potencial de aprendizagem igual ao de crianças normais, portanto, não há necessidade de uma escola exclusiva para eles, ainda mais numa época em que se luta tanto pela inclusão, isso não faria sentido. Eles precisam desse convívio social com colegas de mesma idade e também aprender a lidar com regras, pois de certa forma a escola representa, em pequena escala, a sociedade em que irão viver na fase adulta (ROHDE et al., 2003). Apenas pequenas intervenções no ambiente e no currículo são necessárias para alcançar o sucesso. Para escolher a melhor escola para esses alunos, os pais devem levar em conta aquela que complementar a educação recebida em casa e que proporcione os mesmos valores. A escola que melhor atende as necessidades dos portadores de TDAH é aquela cuja maior preocupação esteja em desenvolver o potencial de cada um, respeitando diferenças individuais, reforçando pontos fortes e auxiliando na superação dos pontos fracos (ROHDE et al., 2003). O conhecimento que escola tem a respeito de TDAH deve ser verificado. Se não existir ou for insuficiente, verificar se ao menos há disposição para aprender e auxiliar de maneira adequada, permitindo certas adaptações na estrutura. O ambiente deve ter o mínimo de distratores possível (barulho, música, cores, murais de avisos com muitas informações). 3.3 O Papel dos Professores O professor tem papel fundamental no processo de aprendizagem. É ele quem mais facilmente irá perceber um problema de atenção ou aprendizagem no aluno. Segundo a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (2011), o professor deve tentar responder as seguintes perguntas: Qual é a dificuldade mais importante do aluno portador de TDAH? O que mais atrapalha no desempenho escolar daquele aluno? Conseguindo responder essas perguntas, o professor poderá criar melhores condições para traçar as estratégias que aplicará em sala de aula. A partir do momento em que o professor toma conhecimento das dificuldades pelas quais passa a família de um portador de TDAH, é provável que comece a entender a atitude dos pais. Assim como os pais podem sensibilizar-se com a situação dos professores. Essa compreensão tem por objetivo firmar uma parceria, uma ampla colaboração entre pais e professores. A comunicação diária é importante para troca de experiências; é muito útil um instrumento de comunicação escrita para ajudar a entender a situação, assim os professores podem relatar o que acontece na escola para os pais e vice-versa. Uma das maiores dificuldades do aluno com TDAH é o dever de casa. O professor deve lembrar que esse aluno pode demorar de três a quatro vezes mais para fazer suas tarefas (ROHDE et al., 2003). É necessário fazer adequações para que a quantidade de trabalho não exceda seu limite. Deve-se ter em mente que a lição de casa tem por objetivo revisar e praticar o que foi aprendido em sala, e não ser utilizada como castigo por mau comportamento. Envolver os demais alunos da sala proporciona um bom convívio. É importante deixá-los esclarecidos do problema do colega para que possam compreender melhor suas dificuldades. Eles podem ajudar no reforço de instruções, e dessa forma acabam ajudando no aprendizado de toda a turma. Atividades demandem mais atenção contínua por um período maior e tempo devem ser feitas no início da aula, como por exemplo, as provas. No último tempo o aluno já teve várias aulas, de várias matérias, que acabam funcionando como elementos de distração. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO DÉFICIT DE ATENÇÃO, 2011). 4 Conclusão É conveniente afirmar a importância da avaliação multidisciplinar no diagnóstico de TDAH. O correto diagnóstico é fundamental para não rotularmos crianças que possam apenas ter algum problema comportamental como uma portadora de TDAH. Posteriormente, com um tratamento adequado obtém-se uma melhora significativa na qualidade de vida do portador. Deve-se dar ênfase no papel dos pais na compreensão desse problema, pois vai partir deles o apoio necessário à criança. Se o papel dos pais é importante, podemos dizer que o da escola é de igual ou até maior importância, devido ao fato de que está diretamente ligada à formação dessa criança. A escola deve proporcionar ambiente adequado para receber o portador; esta adequação se dá em pequenos gestos, não há necessidade de uma escola especial. O interesse em receber a criança é um ótimo começo. Os professores devem ter um mínimo de preparação para atender a demanda de um aluno com TDAH, que pode se destacar por ser tão inteligente e criativo quanto os outros alunos, desde que estimulado da maneira correta. O mais importante de tudo é que haja um vínculo entre especialistas, pais e escola, pois nenhum trabalho é melhor do que aquele realizado por todos juntos. A expectativa é que este artigo possa auxiliar a todos os que passam pelo problema, ou que tenham interesse em lidar com crianças portadoras, apreendendo o conhecimento necessário, com a devida orientação científica e livre de rótulos e estigmas Fonte: http://artigos.psicologado.com/psicopatologia/transtornos-psiquic


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Resumo: O tema deste artigo, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, anda bastante em alta. O que seria muito bom se fosse sempre tratado da maneira correta, porém o que se vê é o termo sendo usado de forma pejorativa, por falta de conhecimento científico adequado. É um problema sério, de interesse para a saúde pública e para a sociedade em geral. Só que isto caiu no senso comum: hoje em dia todo mundo tem um filho hiperativo ou com problemas de atenção, sem nem ao menos saber ao certo o que é TDAH. O objetivo deste trabalho é esclarecer o que é o transtorno, suas possíveis causas, formas de diagnóstico e tratamento e principalmente, qual a melhor forma de se relacionar com a criança ou adolescente que o possui, dentro de casa no relacionamento com os pais e na escola, com os colegas e professores.
Palavras-chave: Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Criança. Aprendizagem. Tratamento.

1 Introdução

Este artigo tem por objetivo atender ao requisito da disciplina de Problemas de Aprendizagem Escolar, do curso de Psicologia da FAMEG/UNIASSELVI, em que foi solicitado abordar um tema que estivesse diretamente voltado para a disciplina, como forma de aprofundar mais o assunto.
A escolha do tema deu-se em função de que, entre os mais conhecidos problemas de aprendizagem, o TDAH é o que envolve mais preconceito, ressaltando que não há uma deficiência “visível” na criança. Ao contrário de deficiência física, aonde todos compreendem o porquê do aluno ter de usar cadeira de rodas, ou deficiência visual, que todos respeitam o fato de ter de usar óculos, as crianças com TDAH são vistas apenas como mal-educadas ou até mesmo preguiçosas ou burras.
Sabe-se que hoje o TDAH é um dos maiores problemas clínicos e de saúde pública, causando impacto na sociedade pelo alto custo, pelo estresse envolvido, pelas dificuldades acadêmicas, pelos problemas de comportamento e pela baixa autoestima. Apesar de acarretar sérias dificuldades na vida da criança portadora de TDAH, buscaremos mostrar que com o diagnóstico e tratamento adequados, este problema poderá ser superado sem grandes danos.

2 O Que é o TDAH

É considerado um transtorno de desenvolvimento, acometendo cerca de 3 a 6% das crianças e persistindo na vida adulta em mais da metade dos casos (ROHDE et al., 2003). É mais frequente em meninos do que em meninas.
As características básicas são a desatenção, a hiperatividade e a impulsividade, podendo variar em menor ou maior grau. Mas é bem mais do que isso. Não se trata apenas de uma questão de estar desatento ou hiperativo, muito menos de um estado temporário, uma fase “normal” da infância. Também não é falta de disciplina ou controle parental, nem algum tipo de “maldade” da criança (BARKLEY, 2002).
Até pouco tempo atrás, pouco se sabia sobre a hiperatividade e as dificuldades na capacidade de se fixar a atenção. Muitos acreditavam que eram distúrbios diferentes, que surgiam paralelamente, que a hiperatividade se extinguia na adolescência. A criança, sendo agitada, excessivamente ativa e desatenta era por si só culpada (ANTUNES, 2001).
Porém, as origens desse mal já eram motivo de suspeitas médicas há muitos anos. O pediatra Georg Frederic Still em 1902 já alertava para o fato de que a desatenção e a hiperatividade estariam relacionadas. Depois de muitos estudos, em 1966, Clements denominou “déficit de atenção” a síndrome que vinha preocupando tantos especialistas. Em 1975 a definição foi incluída na CID-9.
Na década de 1980, através de recursos como tomografias, ressonâncias e outros exames, múltiplas disfunções cerebrais puderam ser melhor diagnosticadas. Daí em diante surgiram várias nomenclaturas, até chegar ao nosso idioma como TDAH. Mas antes disso foi chamada de DDA (Deficiência de Déficit de Atenção), DHDA (Distúrbio da Hiperatividade com Déficit de Atenção), ou ainda TDAHI.
Convém destacar que a polêmica quanto à nomenclatura não é o relevante da questão, mas sim saber tudo que é possível sobre este problema, identificar formas de diagnosticá-lo e buscar meios para eliminar a carga excessiva de culpa e responsabilidade. Também é importante perceber o fato de que nem todo caso de desatenção, agitação, descontrole emocional, impulsividade e excitação é necessariamente um caso de TDAH (ANTUNES, 2001).
Atualmente o DSM-IV define o TDAH como uma síndrome neurocomportamental com sintomas classificados em três categorias: desatenção, hiperatividade e impulsividade. De acordo com Rotta et al. (2006), caracteriza-se por um nível inadequado de atenção em relação ao esperado para a idade, levando a distúrbios motores, perceptivos, cognitivos e comportamentais.

2.1 Fatores que Podem estar Relacionados ao TDAH

Apesar do grande número de estudos já realizados sobre o TDAH, suas causas exatas ainda são desconhecidas (ROHDE et al., 2003).
A presença de co-morbidade, ou seja, a relação do TDAH com algum outro transtorno ou fator, dificulta o prognóstico. Pode estar relacionado com algum transtorno de aprendizagem (Dislexia, Disgrafia ou Discalculia), Transtorno de linguagem, Epilepsia, Transtorno Desafiador de Oposição, Transtorno de Conduta, Transtorno do humor, abuso de substâncias psicoativas, depressão, TAB (Transtorno Afetivo Bipolar), Transtorno de Ansiedade, Enurese, ou até mesmo Transtorno de Tiques.
A investigação genética sugere hereditariedade: pais que apresentam TDAH são mais propensos a ter crianças com o mesmo transtorno. Ou seja, os genes parecem ser responsáveis não pelo transtorno em si, mas por uma predisposição ao TDAH. O risco é de 13-17% para meninas e 27-30% para meninos, (BARKLEY, 2002), mas não está claro por que meninos têm maior risco do que meninas da mesma família. As razões podem estar na genética do próprio sexo masculino, que pode apresentar maiores riscos biológicos associados.
Do ponto de vista fisiopatológico, os sintomas do TDAH são originados por disfunções no funcionamento cerebral (ROHDE et al., 2003). O déficit central seria uma falha na inibição comportamental, e, como consequência, nas demais funções executivas. A maioria das crianças com dificuldades de aprendizagem não tem uma história de lesão cerebral.
Outros fatores parecem ter associação, mas não uma relação de causa e efeito. A nicotina e o álcool, quando ingeridos durante a gravidez, podem causar alterações em algumas partes do cérebro do bebê. Pesquisas indicam que mães alcoolistas têm mais chance de terem filhos com problemas de hiperatividade e desatenção (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO DÉFICIT DE ATENÇÃO, 2011).
Problemas familiares não causam TDAH, mas podem agravá-lo. A ideia de que problemas familiares como alto grau de discórdia conjugal, baixa instrução da mãe, famílias com apenas um dos pais, funcionamento familiar caótico e famílias com nível socioeconômico mais baixo poderiam ser a causa do TDAH nas crianças está sendo refutada. As dificuldades familiares podem ser mais consequência do que causa do TDAH (na criança e mesmo nos pais).
Várias outras causas já foram levantadas, mas foi comprovado cientificamente que não há relação, tais como: corante amarelo, aspartame, deficiências vitamínicas e hormonais e até mesmo que a exposição à luz artificial teria efeito.

2.2 Diagnóstico do TDAH

O diagnóstico de TDAH tem por objetivo determinar um plano de tratamento que envolva o paciente e sua família. Deve ser feito por algum profissional, como psiquiatra, terapeuta ocupacional, psicólogo, ou neuropediatra. Segundo Rohde et al (2003), pode-se também recorrer à ajuda de outros profissionais para uma avaliação das capacidades auditiva e visual, que podem apresentar déficit.
A avaliação psicopedagógica envolve anamnese com os pais ou responsáveis; entrevistas com a criança ou o adolescente; análise de todo o material escolar e contato com a escola (ROHDE et al., 2003). São avaliados os seguintes aspectos: habilidades metalinguísticas, leitura, escrita, matemática e outras habilidades como noções espaciotemporais, lateralidade e memória.
O processo de avaliação envolve a coleta de dados com os pais e com a criança ou adolescente, e também com a escola. Às vezes os professores maximizam os sintomas, principalmente quando se encontra algum transtorno de comportamento. A noção de sintomatologia entre professores ainda é fraca, mas ainda assim, podem ser bons informantes do que acontece com seus alunos.
O passado da criança e de seu desenvolvimento no contexto de sua família, sua cultura e sua comunidade também merece atenção. É necessário investigar características individuais da criança e de sua família e os fatores ambientais que as influenciam.
O papel dos pais na avaliação é muito importante, pois eles relatam mais facilmente do que as crianças os sintomas (ROHDE et al., 2003). Principalmente no caso de crianças que ainda não tem idade para falar ou que possuem dificuldades para expressar-se verbalmente, o relato dos comportamentos pelos pais é relevante.
Devem ser pesquisados também o desenvolvimento neuropsicomotor e cognitivo, o funcionamento escolar, a maneira como a criança estabelece a relação com seus pares, a forma como a família se organiza e como a criança é inserida nesse contexto, a história de seu desenvolvimento físico e o seu relato de doenças.
Embora muitos sintomas de TDAH sejam observáveis desde muito cedo na infância, ficarão mais óbvios em situações que exijam atividade mental prolongada, e é por este motivo que muitos casos somente serão percebidos no início das atividades escolares (SMITH; STRICK, 2001).
Segundo o DSM-IV (apud Rotta et al., 2006) os critérios diagnósticos para TDAH são:
Desatenção
  • Falta de atenção na escola, com erros frequentes em tarefas simples;
  • Dificuldade para manter a atenção em atividades em grupo;
  • Falta de atenção à fala direta;
  • Erros em seguir instruções, com dificuldade para finalizar tarefas;
  • Dificuldade para organizar atividades escolares e tarefas;
  • Falta de êxito na execução de tarefas escolares que requerem atenção sustentada;
  • Distração fácil aos estímulos externos.
Hiperatividade
  • Movimentos constantes de braços e pernas;
  • Frequentemente levanta durante a aula;
  • Hábito de correr em situações inadequadas;
  • Dificuldade de permanecer sentado ou participar de atividades em grupo;
  • Hábito de falar em excesso.
Impulsividade
  • Dificuldade para esperar sua vez;
  • Interrupções ou intromissões na conversa dos outros.
O diagnóstico diferencial levará em conta: que os sintomas devem estarpresentes por mais de seis meses; algum sintoma estar presente antes dos sete anos; algum problema relacionado aos sintomas estar presente em dois ou mais lugares (por exemplo, casa e escola); apresentar problemas significativos nos âmbitos sociais, acadêmicos ou ocupacionais e devem ser excluídas outras desordens mentais (ROTTA et al, 2006).
Rohde et al (2003) realizaram uma amostragem de 170 adolescentes entre 12 a 14 anos e encontraram um padrão de sintomas de desatenção e hiperatividade/impulsividade e de repetências escolares similar entre os que não tinham TDAH e aqueles que apresentavam pelo menos cinco sintomas. De qualquer maneira, o importante não é se restringir ao número de sintomas, mas sim ao grau de comprometimento.
A pesquisa de sintomas relacionados com co-morbidades é essencial, uma vez que sua presença tem altos índices, complica o processo diagnóstico e tem grande impacto. As formas mais graves de TDAH estão associadas com maior presença de co-morbidades e adversidades psicossociais (ROHDE et al., 2003). Existem instrumentos para avaliação de co-morbidades, sendo o mais utilizado clinicamente e o mais confiável o K-SADS-E.
A identificação e intervenção precoces são críticas para crianças com TDAH. Quanto antes o problema é reconhecido, menos provavelmente o comportamento antissocial ou os problemas emocionais irão desenvolver-se. Também será menos provável que os pais culpem a si mesmos pelo comportamento difícil da criança.
É preciso analisar o tipo de comprometimento para então poder estabelecer prioridades no atendimento a estes portadores.
A partir do momento que se obtém este diagnóstico, os pais não devem de forma alguma, simplesmente “rotular” o seu filho e aceitar o fato como tal, achando que não há nada a ser feito e assim, tirando sua responsabilidade do problema. Devem, portanto, partir para o tratamento adequado.

2.3 Tratamento

De acordo com a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (2011), o tratamento do TDAH deve ser multimodal, ou seja, uma combinação de medicamentos, orientação aos pais e professores, além de técnicas específicas que são ensinadas ao portador.
Encontramos na literatura várias medicações recomendadas no tratamento de crianças com TDAH, como estimulantes, antidepressivos e antipsicóticos. Segundo Brown (2007), estes medicamentos apenas aliviam, mas não curam; o alívio persiste apenas enquanto a medicação estiver ativa no sistema.
      Existem diversas formas de intervenção psicoterápica. Uma das formas mais utilizadas é a Terapia Cognitivo-Comportamental, que parece ser a mais adequada no manejo dos sintomas. O terapeuta deve funcionar como um treinador, dando instruções e sinalizando. A ênfase da terapia está em identificar as estratégias e as crenças de auto-sabotagem do paciente, debilitando-as com as intervenções e encorajando comportamentos que facilitarão o desenvolvimento de abordagens mais positivas e favoráveis (BROWN, 2007). 
Deve ficar bem claro para a família que se trata de um problema crônico, e que o objetivo de qualquer tratamento escolhido não é curá-lo, mas reorganizá-lo e viabilizar um comportamento satisfatório na família, na escola e na sociedade. Dessa forma evita-se a discriminação da criança.
Brown (2007) alerta para o fato de que crescer com o transtorno sem nenhum tratamento pode expor o indivíduo às frustrações diárias e aos embaraços que provocam danos enormes na autoconfiança e no comportamento pessoal. A pessoa reduz suas expectativas e evita oportunidades de ter mais amigos, melhores empregos e aumento no status pessoal.

3 TDAH Enquanto Dificuldade de Aprendizagem

Primeiramente, é importante formular uma adequação na terminologia. Assim, os problemas na aprendizagem podem ser classificados em duas categorias: dificuldades ou transtornos.
As dificuldades de aprendizagem podem ser naturais (de percurso) ou secundárias a determinadas patologias (ROHDE et al., 2003). As dificuldades naturais são oscilações no rendimento escolar relacionadas a aspectos evolutivos do aluno ou decorrentes de metodologia inadequada, de padrões de exigência da escola, de falta de assiduidade do aluno e de conflitos familiares eventuais. Já nas dificuldades secundárias, as alterações de aprendizagem são consequência de outros quadros que podem ser detectados e que atuam primariamente sobre o desenvolvimento humano normal e secundariamente sobre as aprendizagens específicas.
Nem todo indivíduo com TDAH apresenta dificuldades na aprendizagem. As dificuldades atencionais podem ser compensadas pelo uso de um bom potencial intelectual, interesse pelo conhecimento e condições didáticas adequadas.
Os transtornos de aprendizagem compreendem inabilidades específicas. Tanto a CID-10 e o DSM-IV tem descrições muito parecidas do conceito de transtornos de aprendizagem. Ambos reconhecem três tipos: de leitura, escrita (ou soletração) e habilidades matemáticas. Então, o TDAH entraria como uma co-morbidade dos transtornos de aprendizagem, e não como tal. O fato é que há um maior comprometimento no funcionamento do indivíduo quando apresenta co-morbidade do que quando apenas o TDAH está presente.

3.1 O Papel dos Pais

Detectado o transtorno através de um profissional, este deve dar toda a orientação necessária para os pais. É no âmbito familiar que a criança buscará mais apoio, portanto os pais devem estar preparados.
Existem livros e programas de treinamento que ensinam pais a utilizar estratégias para lidar com problemas comportamentais decorrentes do TDAH.
Paciência é fundamental, já que a criança com TDAH pode demorar mais para fazer as mesmas atividades que uma criança normal. Outros aspectos que podem ajudar é fazer lembretes e listas de tarefas a cumprir e estabelecer uma programação de estudos. Os pais devem reforçar várias vezes os comportamentos que desejam que o filho tenha.
Os pais devem tomar cuidado para não adotarem papéis opostos. Brown (2007) afirma que muitas vezes ocorre de entre os pais ter o papel do “cobrador” e o do “afável demais”. Isto pode acabar desviando da tarefa de decidirem juntos quando devem ser mais flexíveis e quando devem ser mais compreensivos e gerar calorosas discussões que acabam fugindo do foco.
A Associação Brasileira de Déficit de Atenção (2011) recomenda recompensar progressos sucessivos ao invés de esperar pelo comportamento perfeito. Os portadores tem mais dificuldade em lidar com recompensas a longo prazo.

3.2 O Papel da Escola

Para Rohde et al (2003), antes de abordar a intervenção da escola no aluno com TDAH, é interessante tratar de algumas questões que afetam o desempenho e a adaptação escolar desse aluno, sendo: o atual sistema educacional brasileiro; as implicações educacionais e o rendimento escolar do aluno com TDAH; o papel e a função da escola e do professor no processo de identificação e manejo de crianças com TDAH no sistema educacional.
Muitos pais imaginam que a escola tem algum tipo de atendimento próprio para esses alunos hiperativos e desatentos. Porém, esses alunos têm um potencial de aprendizagem igual ao de crianças normais, portanto, não há necessidade de uma escola exclusiva para eles, ainda mais numa época em que se luta tanto pela inclusão, isso não faria sentido.
Eles precisam desse convívio social com colegas de mesma idade e também aprender a lidar com regras, pois de certa forma a escola representa, em pequena escala, a sociedade em que irão viver na fase adulta (ROHDE et al., 2003). Apenas pequenas intervenções no ambiente e no currículo são necessárias para alcançar o sucesso.
Para escolher a melhor escola para esses alunos, os pais devem levar em conta aquela que complementar a educação recebida em casa e que proporcione os mesmos valores. A escola que melhor atende as necessidades dos portadores de TDAH é aquela cuja maior preocupação esteja em desenvolver o potencial de cada um, respeitando diferenças individuais, reforçando pontos fortes e auxiliando na superação dos pontos fracos (ROHDE et al., 2003).
O conhecimento que escola tem a respeito de TDAH deve ser verificado. Se não existir ou for insuficiente, verificar se ao menos há disposição para aprender e auxiliar de maneira adequada, permitindo certas adaptações na estrutura.
O ambiente deve ter o mínimo de distratores possível (barulho, música, cores, murais de avisos com muitas informações).

3.3 O Papel dos Professores

O professor tem papel fundamental no processo de aprendizagem. É ele quem mais facilmente irá perceber um problema de atenção ou aprendizagem no aluno. Segundo a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (2011), o professor deve tentar responder as seguintes perguntas: Qual é a dificuldade mais importante do aluno portador de TDAH? O que mais atrapalha no desempenho escolar daquele aluno? Conseguindo responder essas perguntas, o professor poderá criar melhores condições para traçar as estratégias que aplicará em sala de aula.
A partir do momento em que o professor toma conhecimento das dificuldades pelas quais passa a família de um portador de TDAH, é provável que comece a entender a atitude dos pais. Assim como os pais podem sensibilizar-se com a situação dos professores. Essa compreensão tem por objetivo firmar uma parceria, uma ampla colaboração entre pais e professores.
A comunicação diária é importante para troca de experiências; é muito útil um instrumento de comunicação escrita para ajudar a entender a situação, assim os professores podem relatar o que acontece na escola para os pais e vice-versa.
Uma das maiores dificuldades do aluno com TDAH é o dever de casa. O professor deve lembrar que esse aluno pode demorar de três a quatro vezes mais para fazer suas tarefas (ROHDE et al., 2003). É necessário fazer adequações para que a quantidade de trabalho não exceda seu limite. Deve-se ter em mente que a lição de casa tem por objetivo revisar e praticar o que foi aprendido em sala, e não ser utilizada como castigo por mau comportamento.
Envolver os demais alunos da sala proporciona um bom convívio. É importante deixá-los esclarecidos do problema do colega para que possam compreender melhor suas dificuldades. Eles podem ajudar no reforço de instruções, e dessa forma acabam ajudando no aprendizado de toda a turma.
Atividades demandem mais atenção contínua por um período maior e tempo devem ser feitas no início da aula, como por exemplo, as provas. No último tempo o aluno já teve várias aulas, de várias matérias, que acabam funcionando como elementos de distração. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO DÉFICIT DE ATENÇÃO, 2011).

4 Conclusão

É conveniente afirmar a importância da avaliação multidisciplinar no diagnóstico de TDAH. O correto diagnóstico é fundamental para não rotularmos crianças que possam apenas ter algum problema comportamental como uma portadora de TDAH. Posteriormente, com um tratamento adequado obtém-se uma melhora significativa na qualidade de vida do portador.
Deve-se dar ênfase no papel dos pais na compreensão desse problema, pois vai partir deles o apoio necessário à criança.
Se o papel dos pais é importante, podemos dizer que o da escola é de igual ou até maior importância, devido ao fato de que está diretamente ligada à formação dessa criança. A escola deve proporcionar ambiente adequado para receber o portador; esta adequação se dá em pequenos gestos, não há necessidade de uma escola especial. O interesse em receber a criança é um ótimo começo.
Os professores devem ter um mínimo de preparação para atender a demanda de um aluno com TDAH, que pode se destacar por ser tão inteligente e criativo quanto os outros alunos, desde que estimulado da maneira correta.
O mais importante de tudo é que haja um vínculo entre especialistas, pais e escola, pois nenhum trabalho é melhor do que aquele realizado por todos juntos.
A expectativa é que este artigo possa auxiliar a todos os que passam pelo problema, ou que tenham interesse em lidar com crianças portadoras, apreendendo o conhecimento necessário, com a devida orientação científica e livre de rótulos e estigmas


Fonte: http://artigos.psicologado.com/psicopatologia/transtornos-psiquicos/tdah-e-as-dificuldades-de-aprendizagem-estrategias-para-um-relacionamento-saudavel-entre-a-crianca-e-a-sociedade#ixzz2DzZUXCKH
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